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CASAMENTO
O tempo passou. Dias, semanas,
meses. Era chegada a hora da inauguração da nova Rádio Tirol. O Jornal do
Estado tinha melhores fontes de informação. A UPI, agência internacional de
notícia, com as fotos dos acontecimentos em todo o mundo, era uma das
principais a fazer cobertura do Brasil e demais países. Mesmo acabada a II
Guerra, a UPI continuava a buscar notícias. Em Natal, a Agencia colocou em um edifício
a sua sucursal. Aparelhos de recepção de texto e fotos funcionavam as vinte e
quatro horas com teletipos ligados à rede transmitindo direto dos Estados
Unidos. Para a direção da empresa, era um verdadeiro marco ter notícias a
qualquer hora do dia acopladas às fotos instantâneas, cada qual melhor que a
outra. O entusiasmo levava Lauro ficar postado na cabine de recepção, horas a
fio, apenas a ver os acontecimentos do momento chegando a cada instante. E da
redação do Jornal, a Rádio Tirol tinha a chance de saber primeiro das
ocorrências. Três telegrafistas se revezavam dia e noite à cata de imediato dos
informativos. Além da agencia de notícia, estava marcada para as 10 horas
daquele dia a inauguração da emissora e por consequência, o casamento, ao final
da tarde da senhorita Marilu e do diretor Lauro, do Jornal do Estado. Era um
dia cheio para todos os convidados. A emissora estava com uma programação já
posta no ar antes mesmo de inaugurada. Indo as cinco horas da manhã com a
cantoria de violeiros, seguindo com programas jornalísticos, mensagens para as
donas de casa, autores contemporâneos, atualidades, novelas, esporte entre
outros. Cem KW na antena transmitindo em ondas curtas, médias e frequência
modulada. Era um estouro de programas, mesmo tendo uma radionovela à noite para
o deleite das donas de casa. Locutores, os mais famosos iguais ao caste do
rádio teatro. Além de música popular brasileira da atualidade a Radio Tirol
mantinha uma informação constante, de hora em hora, com prefixo de abertura e
enceramento com noticia atualizada. Se fosse uma notícia urgente, também seria
divulgada com ênfase para um maior destaque, como foi o caso da morte de um
presidente. Assim foi o início da Radio Tirol localizada no bairro de igual
nome, na capital do Estado.
Às 10 horas do sábado se deu a
entrega do novo edifício da emissora. Estavam presentes o proprietário, Senador
Almeida – licenciado – a Diretora da Radio, senhorita Marilu, o Governador do
Estado, Prefeito da Capital, Diretor do Jornal O Estado, representante do
Presidente do Brasil, Magistrados, autoridades civis e militares do Estado e da
federação, deputados federais e estaduais, vereadores demais autoridades e o
mundo todo do Rio Grande do Norte, como repórteres e a grã-finagem em geral,
incluindo senhora Lindalva, esposa do senador. A começar pelo Senador, depois
falaram a diretora da Radio, Marilu, em poucas palavras, pois não queria ser
tão prolixa, ou seja, fazer explicações supérfluas, e logo após seguiram-se
aqueles que mais gostavam de usar o verbo. Os equipamentos de ventilação não paravam
nem mesmo para descansar, como quem queria dizer “ah falta de refrigerador? ”.
A emissora tinha o seu sistema de ar condicionado, porém havia gente até demais
em duas salas de redação. O locutor oficial falou, anunciando o relato do
Senador e, depois disso, não teve mais força para dizer nem mesmo “muito
obrigado”. Ao final dos discursos o povo todo, principalmente os de fora já não
podendo suportar procuravam saborear os quitutes e engolir os vinhos, cervejas
e coisas mais para não falar que saíram de barriga vazia. Era quase meio
dia quando a turma do vou partir seguiu
caminho para outros locais.
Alguém ainda inquieto, perguntou
naquele momento.
Um
--- Onde está a Diretora? - -
perguntou atormentado.
Dois
--- Sei lá! Por aí. - - respondeu
outro
À tarde, chegando ao seu final,
por volta das 5 horas, a Catedral Metropolitana já estava se enchendo de gente,
em sua maioria, a grã-finagem. Fotógrafos, tinham bastante. Repórter, também, inclusive
Janilce, a nova chefe de reportagem do Jornal do Estado. A moça se antecipou em
chegar um pouco antes das 5 para ver quem estava a chegar. Vestindo seda, era
ela um deslumbramento com requintes de perfume sedutor. Nem mesmo assim,
Janilce dava a maior importância. Antes de ir para a Catedral, Janilce esteve
em casa de Marilu, a noiva do dia e orientou a moça a ter calma, uma vez que
Marilu estava zangada com tudo e por nada.
Marilu
--- Esta merda está prendendo na
minha cintura! - - e largava a chorar como uma coelhinha
Janilce
--- É assim mesmo! - - respondeu a moça sugerindo calma à noiva
Marilu
--- É assim mesmo, uma merda!!!
Quem é você para dar pitaco? Você não é a noiva!!! - - respondeu bastante
aborrecida ao experimentar o traje de noiva.
Janilce
--- Está bem! Eu me calo! Fica
você que eu vou para a Catedral! - - respondeu com calma
Marilu
--- Espera! Venha cá!
Desculpe-me! É porque estou nervosa! Fica aqui! - - chorosa.
Janilce
--- Está na hora! Vou mesmo para
a Catedral! A gente se vê daqui há pouco! - - respondeu e saiu com presa
Motorista
--- O carro está às suas ordens!
- - falou com calma
Noca
--- Está bem. Eu estou ajeitando
o colchete. Ave Maria! Que bicho duro! - - e a mulher ajudava a costureira em
meio as outras mulheres enchendo o meio ambiente de um hotel de classe. Um fotógrafo
fazia sua vez, tirando fotos quando a moça já estava pronta. Traje de cauda
longa rodeada com imenso laço de cetim bordado. O véu cobrindo até a face e um
buquê de rosas brancas presa às mãos. Quatro “anjos” seguravam o traje da
noiva. Esse era o esquema traçado. Um casamento imperial com dez guarda de honras
a desembainhar os mosquetes ao passar da noiva. Ela apostou no brilho do cetim
marfim com efeito de madrepérola. Completamente forrado com organza de seda o
modelo com gola canoa e manga três quartos. A saia ganhou pregas que deram um
grande efeito e volume a parte de baixo do vestido. Para o buquê foram trazidas
flores de um santuário especial em cultivos de outono.
A entrada na Catedral da
Apresentação ouviu-se os sinos repicarem a Marcha Nupcial de Mendelssohn com a
entrada da noiva ao toque de clarins, trompetes e músicas de casamento. Os
sinos anunciam a primeira clarinada ao sinal de um sino traduzindo a clarinada
da Rainha Elizabeth. Todo o passar era coberto por um mando branco com enfeites
de cachos verdes. Junto ao noivo no patamar do altar, os clarins executaram a
marcha nupcial. Marilu, não se sabe se chorava o sorria, adentro ao paço sob os
toques de clarins acompanhada por suas guardas de honras a passos lentos e
meticulosos. O noivo, então chorava de tanta candura. Flautas e violinos faziam
o coro da entrada da noiva. Pombas brancas sobrevoaram a Catedral. Um Pai Nosso
foi cantado por um Coral em companhia de uma Orquestra. A Igreja estava repleta
de pessoas de várias classes. A Catedral estava toda enfeitada de rosas. Nos
altares, anjos e arcanjos pareciam entoar a Aleluia de Haendell.
Após todo esse cerimonial, com a
preleção do sacerdote e a benção das alianças trazidas no bolso do fardamento
do noivo, o povo todo a chorar, a noiva saiu como o seu novo esposo para
embarcar na carruagem, um trenó e seguem destino a fora. O buquê de ramalhetes
caiu nas mãos de Janilce a gritar de alegria sem saber por quanto tempo sequer.
A recepção ocorreu em um Hotel de
Luxo onde a noiva reapareceu acompanhada do seu marido. O Senador estava feliz
por esse casamento, segurando a mulher pelo braço. Em certo instante, dona
Lindalva disse algo ao ouvido do velho. Esse sorriu e nada respondeu. Apenas a
mão da esposa bem de leve. Lauro, o marido, disse então que todos enchessem a
pança porque naquele instante eles – -referindo-se a sai esposa, Marilu - -
seguiriam viagem para o sul do país onde passariam a lua de mel.
Senador
--- Ainda tem? - - sorriu
Lauro
--- Está cheio de mel - - sorriu
à vontade
Logo após esse bota fora o casal
saiu para seu novo apartamento, na avenida Prudente de Morais, antes da Praça Pedro
Velho, local onde havia um parque infantil e a praça em frente à casa do
Governador conhecida por Vila Cincinnati. A criadagem ainda estava à espera do
casal igualmente com a mãe de Marilu, dona Noca, tão nervosa como impaciente
Noca
--- Ave Maria. Já passa da meia
noite! Ainda tem gente pelo salão do Hotel? - - indagou abusada.
Lauro
--- Tem gente como colmeia de
abelha. Meus pais saíram logo cedo. O velho partiu para o interior, penso eu. -
- falou exausto
Marilu
--- Eles viajam amanhã cedinho.
Foi o que me disse dona Lindalva. - -
Noca
--- Vocês querem algo? - - indagou.
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