- MANSÃO -
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VISITA -
Num dia de
domingo, bem depois da festa de Ciro, um carro estacionou em frente à casa de
Dalva Lopes e dele desceram três distintas figuras: Amanda, José Afrânio e o
recente conhecido Jorge Aranha, o tal “eminencia parda” como ficou logo
conhecido por Dalva e Walquíria quando ainda na festa. Os três personagens logo
entraram e o jardineiro fez presença enquanto chegavam à sala as duas
personagens do dia: Dalva e Walquíria, essa amparando o seu afiliado Ciro,
garoto que estava bem mais solto a medida que a idade avançava. E começaram a
conversa entre muitas outras coisas. Navio que pegou fogo, marujos que
morreram, gente da praia e do mato e, enfim, a Prefeitura.
Aranha
--- Eu sinto
ser preciso uma administração mais forte. O que achas? –
Dalva
--- De política
eu não entendo nada. – Sorriu.
Aranha
--- Mas há
política de toda espécie. Veja bem as estrelas. É política. Como o Sol, o
firmamento e tantas coisas ainda não vistas. Tudo é política. –
Dalva
--- Sei disso.
Prostituição também é política. Comprar carro, vender alface. Isso tudo é política.
Eu preciso dizer que não entendo de política partidária. Um sujeito está, hoje
em uma banda. Amanhã, puxa para outro lado. Isso é que não aceito. Então, fico
calada. – Afirmou.
Aranha
--- Faz bem.
Faz bem. Mas se na hora de votar, em quem a senhora consagra? –
Dalva
--- Eu não
voto. Prefiro viver independente. -
Aranha:
--- Claro.
Claro. A senhora está correta. Eu tenho amigos e eles não votam. Claro. Cada
qual faz o que melhor entende. Porém vejamos: eu – digamos – sou um candidato.
Mas, tem outros que não pegam um prego numa barra de sabão. Esses, não votam. E
se eu sou candidato, sei que se ninguém votar em mim, eu vou ter apenas um
voto. Imagine eu ser eleito por apenas o meu voto! – Sorriu -. No Rio Grande do
Sul, teve um caso bastante interessante. Dois candidatos a prefeito, um por um
determinado partido ao contrário do outro. Os dois irmãos, com certeza eles
eram irmãos, chegaram ao fim da votação e se surpreenderam com o resultado. Os
dois tiveram igual votação. Nenhum venceu. E agora? O Juiz deu ganho de causa
ao mais velho. E assim a cidade teve o seu prefeito. – Gargalhou.
Sorvetinho
--- Isso foi
agora? – Indagou surpresa.
Aranha
--- Faz pouco
tempo. Talvez da outra eleição, se bem me recordo. -
Zequinha
--- Esse foi um
caso sui gênere. – Gargalhou
Amanda
--- Tem casos
desse tipo. –
Dalva
--- Eu penso ao
meu modo. Não voto e pronto. –
Aranha
--- Mas alguém
vota. Se a senhora, por exemplo, que sair candidata e não vota, o outro vota.
Veja bem o caso. Eu não voto. Mesmo assim outro vota em meu lugar. Se nós tivéssemos
uma votação democrática mesmo. Se as pessoas não fossem obrigadas a comparecer às
urnas, então seria mais fácil de se conhecer. Nos Estados Unidos, vota quem
quer. E não se obriga ninguém a votar. Assim é bem diferente. No Brasil, mesmo
a senhora não votando por estar até mesmo em viagem, outro vota. Quer dizer: de
uma forma ou de outra, o voto é obrigatório. –
Dalva
--- Assim é, mas
não se sabe em quem ou não votou. –
Amanda
--- Mas não é
preciso o candidato ter dinheiro nas eleições? –
Aranha
--- Nem sempre.
Um vendedor de farinha na feira, certa vez, foi consultado se ele não queria
ser candidato a Senador. Ele respondeu: “Eu não tenho um centavo e devo a todo
mundo”! O homem que o consultou disse apenas que, se ele quisesse sair Senador,
o resto era com o partido a quem o cidadão se filiaria. Então, sem um tostão no
bolso, o cidadão saiu candidato e foi eleito Senador. Pergunta-se como? Verba
do partido político. –
Dalva
--- É sorte. –
Aranha
--- Não. É
estratégia. Na corrida de candidatos é como os cavalos. Vence o que tem mais
força. E não sorte. –
Dalva
--- Já sei que
comigo eu não tenho essa força. –
Aranha
--- Pode ser.
Pode ser. Pelo menos, a senhora já tentou? –
Dalva
--- Nem quero.
Esses sortudos estão aí com corda e canga. Eles são os mais trambiqueiros da
aldeia. –
Aranha
--- Não quer
experimentar? Pelo menos uma vez? Eu tenho um exemplo de que um vereador tentou
quatro vezes até vencer. –
Dalva
--- E ele era
rico? –
Aranha
--- Que nada.
Tinha só uma bodega. Mas persistiu. Teve outro: um homem rico disputou eleição com
um sujeito pobre. No fim das contas, o rico perdeu até a medida das calças. –
Dalva
--- E quem
ganhou? O pobre? –
Aranha
--- Isso. Isso.
Esse pobre, hoje está rico. E o rico vive na mendicância. O pobre tinha apenas
um programa de rádio. E não era empregado da empresa. Foi seguindo e hoje já
está com cinco eleições conseguindo vitória. É a vida, senhora. Ganha quem sabe
levar à frente esse barco. –
Dalva
--- Eu não sei.
Não conheço ninguém. E se tenho apoio é só dos amigos, como Walquíria, Amanda,
José Afrânio e outras pessoas. Eu estou funcionária da Universidade, a olhar as
estrelas e nada mais.
Aranha
--- Certo.
Certo. Mas tem agora o governador do Estado. E se estou aqui, foi por um pedido
dele!
Dalva
--- Quem? Esse
Governador? Eu nem o conheço! Como esse homem pode me conhecer? –
Aranha
--- É o caso.
Ele governa todo esse povo. E a senhora, também. Foi a pedido dele que eu estou
aqui confabulando.
Dalva
--- Mas eu não sei
nem o seu nome! – Espantou.
Aranha
--- Oswaldo
Souza. É o seu nome. Osvaldo Souza Barcelos. O conhece? -
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