quarta-feira, 5 de agosto de 2015

LAÇOS DE TERNURA - 48 -

- MANSÃO -
- 48 -
VISITA -

Num dia de domingo, bem depois da festa de Ciro, um carro estacionou em frente à casa de Dalva Lopes e dele desceram três distintas figuras: Amanda, José Afrânio e o recente conhecido Jorge Aranha, o tal “eminencia parda” como ficou logo conhecido por Dalva e Walquíria quando ainda na festa. Os três personagens logo entraram e o jardineiro fez presença enquanto chegavam à sala as duas personagens do dia: Dalva e Walquíria, essa amparando o seu afiliado Ciro, garoto que estava bem mais solto a medida que a idade avançava. E começaram a conversa entre muitas outras coisas. Navio que pegou fogo, marujos que morreram, gente da praia e do mato e, enfim, a Prefeitura.
Aranha
--- Eu sinto ser preciso uma administração mais forte. O que achas? –
Dalva
--- De política eu não entendo nada. – Sorriu.
Aranha
--- Mas há política de toda espécie. Veja bem as estrelas. É política. Como o Sol, o firmamento e tantas coisas ainda não vistas. Tudo é política. –
Dalva
--- Sei disso. Prostituição também é política. Comprar carro, vender alface. Isso tudo é política. Eu preciso dizer que não entendo de política partidária. Um sujeito está, hoje em uma banda. Amanhã, puxa para outro lado. Isso é que não aceito. Então, fico calada. – Afirmou.
Aranha
--- Faz bem. Faz bem. Mas se na hora de votar, em quem a senhora consagra? –
Dalva
--- Eu não voto. Prefiro viver independente. - 
Aranha:
--- Claro. Claro. A senhora está correta. Eu tenho amigos e eles não votam. Claro. Cada qual faz o que melhor entende. Porém vejamos: eu – digamos – sou um candidato. Mas, tem outros que não pegam um prego numa barra de sabão. Esses, não votam. E se eu sou candidato, sei que se ninguém votar em mim, eu vou ter apenas um voto. Imagine eu ser eleito por apenas o meu voto! – Sorriu -. No Rio Grande do Sul, teve um caso bastante interessante. Dois candidatos a prefeito, um por um determinado partido ao contrário do outro. Os dois irmãos, com certeza eles eram irmãos, chegaram ao fim da votação e se surpreenderam com o resultado. Os dois tiveram igual votação. Nenhum venceu. E agora? O Juiz deu ganho de causa ao mais velho. E assim a cidade teve o seu prefeito. – Gargalhou.
Sorvetinho
--- Isso foi agora? – Indagou surpresa.
Aranha
--- Faz pouco tempo. Talvez da outra eleição, se bem me recordo. -  
Zequinha
--- Esse foi um caso sui gênere. – Gargalhou
Amanda
--- Tem casos desse tipo. –
Dalva
--- Eu penso ao meu modo. Não voto e pronto. –
Aranha
--- Mas alguém vota. Se a senhora, por exemplo, que sair candidata e não vota, o outro vota. Veja bem o caso. Eu não voto. Mesmo assim outro vota em meu lugar. Se nós tivéssemos uma votação democrática mesmo. Se as pessoas não fossem obrigadas a comparecer às urnas, então seria mais fácil de se conhecer. Nos Estados Unidos, vota quem quer. E não se obriga ninguém a votar. Assim é bem diferente. No Brasil, mesmo a senhora não votando por estar até mesmo em viagem, outro vota. Quer dizer: de uma forma ou de outra, o voto é obrigatório. –
Dalva
--- Assim é, mas não se sabe em quem ou não votou. –
Amanda
--- Mas não é preciso o candidato ter dinheiro nas eleições? –
Aranha
--- Nem sempre. Um vendedor de farinha na feira, certa vez, foi consultado se ele não queria ser candidato a Senador. Ele respondeu: “Eu não tenho um centavo e devo a todo mundo”! O homem que o consultou disse apenas que, se ele quisesse sair Senador, o resto era com o partido a quem o cidadão se filiaria. Então, sem um tostão no bolso, o cidadão saiu candidato e foi eleito Senador. Pergunta-se como? Verba do partido político. –
Dalva
--- É sorte. –
Aranha
--- Não. É estratégia. Na corrida de candidatos é como os cavalos. Vence o que tem mais força. E não sorte. –
Dalva
--- Já sei que comigo eu não tenho essa força. –
Aranha
--- Pode ser. Pode ser. Pelo menos, a senhora já tentou? –
Dalva
--- Nem quero. Esses sortudos estão aí com corda e canga. Eles são os mais trambiqueiros da aldeia. –
Aranha
--- Não quer experimentar? Pelo menos uma vez? Eu tenho um exemplo de que um vereador tentou quatro vezes até vencer. –
Dalva
--- E ele era rico? –
Aranha
--- Que nada. Tinha só uma bodega. Mas persistiu. Teve outro: um homem rico disputou eleição com um sujeito pobre. No fim das contas, o rico perdeu até a medida das calças. –
Dalva
--- E quem ganhou? O pobre? –
Aranha
--- Isso. Isso. Esse pobre, hoje está rico. E o rico vive na mendicância. O pobre tinha apenas um programa de rádio. E não era empregado da empresa. Foi seguindo e hoje já está com cinco eleições conseguindo vitória. É a vida, senhora. Ganha quem sabe levar à frente esse barco. –
Dalva
--- Eu não sei. Não conheço ninguém. E se tenho apoio é só dos amigos, como Walquíria, Amanda, José Afrânio e outras pessoas. Eu estou funcionária da Universidade, a olhar as estrelas e nada mais.
Aranha
--- Certo. Certo. Mas tem agora o governador do Estado. E se estou aqui, foi por um pedido dele!
Dalva
--- Quem? Esse Governador? Eu nem o conheço! Como esse homem pode me conhecer? –
Aranha
--- É o caso. Ele governa todo esse povo. E a senhora, também. Foi a pedido dele que eu estou aqui confabulando.
Dalva
--- Mas eu não sei nem o seu nome! – Espantou.
Aranha
--- Oswaldo Souza. É o seu nome. Osvaldo Souza Barcelos. O conhece? -  

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