- PRAIA -
- 03 -
TEMPO -
Ao saber da idade da moça, o
homem Jorge ficou tranquilo e não mais perguntou. Em instantes, Isis vinha até
Alice indagar o preço de tal mercadoria, pois era a primeira vez a atender.
Alice orientava e contava aquilo que a moça vendia colocando o dinheiro no
bolso do avental. O tempo foi seguindo e
Isis se aquilatando no fazer, parecia até alguém já há muito a servir em
botecos. Se um freguês chagava apressado, ela acolhia de qualquer maneira. E
assim seguia o dia. Um garoto procurando confeitos ou uma mulher indagando por
algo sempre em falta. Desta forma seguia a faina. Raras vezes Isis tinha para o
seu descanso. Ela, sempre atenta, vigiava tudo e a todos. Quando Jorge saiu,
ela perguntou a Alice.
Isis
--- P’ra onde ele vai? -
Alice
--- Praça. Vai fazer a praça. O
carro é dele, mas as placas são de aluguel. –
Isis
--- Imagino. No interior também
tem gente fazendo praça. –
Alice
--- É dura, a vida. Tem dia que
ele não vem almoçar. Coisa chata. – Fez cara feia.
Isis
--- A senhora se acostumou com
essa vida? –
Alice
--- Você. Pode me chamar de
“você”. E tem jeito? – Perguntou como se
respondesse.
Isis
--- Na roça, tem dia que a gente
nem come. Um sol de rachar. Tem vez que o dono da terra manda o povo colher
algodão. Coisa triste. – Reclamou.
Alice
--- Eu tenho marcas no corpo por
colher algodão. É ruim mesmo. -
Isis
--- Aquilo vem para a Capital? – Indagou
pensando.
Alice
--- Parece. Não sei bem. Tem
navios que embarcam os fardos. –
Isis
--- Aqui é bom de se viver. O
mar. Tem gente todo dia que vem para a praia. Gente correndo. É uma vida
alegre. Meninos. – Sorriu.
Alice
--- Nos domingos eu e Jorge vamos
a praia. De tarde. Quando o sol perde a força. – Comentou.
Isis
--- Faz bastante calor uma hora
dessas. Imagino. –
Alice
--- Também, o movimento cai ao
fim da tarde. Tem muito, no sábado logo cedo. Às vezes, até cinco horas. Jorge,
tem vez, de não poder nem ao menos despachar na bodega. Ele aproveita os
melhores horários. –
Isis
--- Quem vem tanto? –
Alice
--- Mecânicos, homens de boa
aparecia. Esses, ficam num reservado. Os pinguços ficam aqui mesmo. –
Isis sorriu com a expressão da
mulher.
Isis
--- Essa é boa. Pinguços! Quer
dizer: bêbados. – Sorriu ainda mais.
Alice
--- Sim. Mas vadios. Gente que
não tem nada. Vice só de cachaça. Pinguço mesmo. –
Isis
--- Quem são os homens de boa
aparecia? Gente rica? –
Alice
--- Mais ou menos. Você verá. –
Isis
--- Eu? – Suspirou por ver que já
estava com um emprego certo
Alice
--- Sim. Você. Vai depender de
você mesma. Tem dias que a gente ganha bem. Outros dias não se ganha nada. Ou
quase nada. -
Com isso, a moça ficou
desnorteada. Ganha-se muito o não se ganha nada. Mesmo assim, aquele era um
emprego bem melhor do que não fazer coisa alguma. As cocadas ficavam para
depois.
À hora do almoço, de 11 horas em
diante, o movimento no bar, crescia bastante. Gente tomando cachaça. Outros,
apenas cerveja com um tira-gosto ou pratinho. E a moça tomou o seu destino a
lavar pratos, preparar os conteúdos para os mecânicos mais ousados. Esses,
passavam a mão nas nádegas de Isis. Ela desconfiou e largou a tapa na cara do
afoito.
Alice
--- Deixa p’ra lá. É assim mesmo.
Pior eu já passei. – Comentou.
Isis
--- Mas eu não gosto. –
Alice
--- Tenha calma. Com o tempo se
ajeita. – Sorriu.
E o tempo rodou até a 1 hora da
tarde, quando o movimento esfriou. Na parte da tarde, apenas umas moças
chegavam ao bar para buscar café e petiscos para fazer a alegria da galera
Consumidor
--- Tem filé? – Indagava um
atrasado.
Alice
--- Sumiu tudo, ao meio dia. –
respondia a mulher
Outros se contentavam com ovos,
farinha de rosca e queijo. Era a vida. E se perguntava alguém se havia carne
malpassada, a resposta vinha de certo que para depois. Alguns se contentava com
bolinhos de carne ou costela acompanhada de cerveja bem gelada ou coxinha com
rabada desfiada e mesmo bolinho recheado com linguiça.
Isis
--- Tem empada. Serve? – Indagava
a moça ao consumidor.
Consumidor
--- Ora mais tá. Empada vai bem
com cerveja. – Sorria
De um jeito ou de outro, o
movimento prosseguia até as 9 ou 10 horas da noite quando as damas tomavam
conta do movimento da Ribeira, já um pouco distante do bairro de Brasília
Teimosa. Então, era hora de se recolher. Isis comentava.
Isis
--- Acho que não devo ir para
casa. –
Alice
--- Pois fique. Tem cama no
quarto de trás. –
Isis
--- Mas o povo vai reclamar. –
Alice
--- Que povo? Deixa p’ra lá. Vá
se banhar no quarto de trás.
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