- MAR SERENO -
- 01 -
COMEÇO -
Eram sete e meia horas da manhã
daquele dia de verão. Maria Isis Fernandes chegou ao balcão do bar existente
próximo a Brasília Teimosa, bairro de Natal e notava apenas uma mulher
arrumando copos e bandejas estando de costas naquele instante. Ela queria um
pouco de água, pois apesar do tempo, já fazia calor àquela hora bem cedo da
manhã. E para tanto, tocou com o nó do dedo a madeira do balcão como se com
isso fizesse uma zoada fraca para não assustar a mulher. Com o toque a mulher,
mesmo sem se soerguer, olhou para trás e indagou.
Alice
--- Diga, moça! – Falou a mulher.
Isis.
--- Um pouco de água, por favor.
– Respondeu a moça.
Alice
--- Espere. Vou já. – Respondeu
enquanto se erguia e fazia careta pelo modo como estava.
E, nem tanto de imediato, Alice, mulher
que despachava no bar, veio com um copo de água gelada e colocou à mesa pondo a
disposição de Isis. Naquele instante, Alice olhou bem a moça e pesquisou para
ver se havia aliança em seus dedos. Nada viu e nada quis saber. Apenas desviou
o olhar para ver o movimento da praia. Um ônibus saiu do seu ponto e seguiu em
direção a cidade àquela hora cedo da manhã. O carro seguia apinhado de gente.
Nesse instante Alice olhou bem para quem partia e nada falou. Ao fim do copo
Isis indagou.
Isis:
--- A senhora sabe onde se pode
pegar um trabalho? Qualquer trabalho? –
Alice nem ligou para o que ouviu.
Porém, passado um instante, informou.
Alice
--- Tem gente que vende coisa na
praia. Você é de fora? – Quis saber
Isis
--- Um pouco além de Santa Cruz.
Já chegando em Campo Redondo. – E fez menção com a mão.
Alice
--- Não conheço nada para aquelas
bandas. –
Isis
--- A senhora é daqui? –
Alice
--- Paraíba. Minha família é toda
paraibana. Apenas minha avó é de Alagoas. –
E recolheu o copo levando para pôr
em um local onde se recolhia os pratos sujos de comida.
Isis
--- Eu cheguei, aqui, no início
da semana. Da outra. E fui para a casa de uma tia, aqui mesmo nesse bairro.
Mas, na casa de minha tia anda tudo muito fraco. Ontem, não teve almoço. Hoje,
não teve café. O marido de minha tia vive como Deus quer. Bêbado até morrer.
Sei não. Ela já está um tanto alquebrada. As filhas ganharam o mundo. Um filho,
esse só aparece no início da noite, e novamente vai embora. Eu decidi: vou
procurar um trabalho. Seja lá do que for. Até mesmo de vender cocada. Mas, não
tem quem faça. – Falou a moça a chorar.
Alice se pôs a ouvir e, por um
instante, falou.
Alice:
--- Coitada. Eu não ofereço nada
porque nada posso dar. Tenho esse barraco e só vendo cachaça. Nos finais de
semana, tem mais alguma coisa. Almoço, esse ainda sai todos os dias. Mas, é só
para os mecânicos. O resto é assim. –
Nesse ponto, se aproximou do bar
um rapaz por nome de “Carioca”. Ele chegou apressado e pediu um café com pão,
ovos, pouco de cuscuz e nada mais.
Carioca:
--- Olá. Ponha café. – Pediu.
Alice
--- Que mais? – Com a cara
trancada.
Carioca
--- Tem ovos? Dois. E cuscuz.
Pão, também. –Sorriu sem querer e olho para a moça
Isis se afastou do rapaz para um
pouco mais distante. Esse, perguntou.
Carioca
--- Trabalha aqui? –
E Isis partiu para o outro lado
do barraco. Nesse instante, Alice observou o rapaz e pediu para a moça entrar.
Alice
--- Entre. A porta é do lado. –
Disse para a moça a evitar contratempo
E assim, Isis fez. Ela entrou no
barraco e seguiu para a cozinha. Alí, pegou logo os pratos sujos e começou a
lavar.
Isis:
--- Quem é ele? – Perguntou a
murmurar.
Alice
--- Um Zé ninguém. Só arruma
confusão. – Respondeu
Isis
--- Já estou cheia disso. Tive um
que mataram. Foi uma facada só. - - chorou.
Alice
Isis
--- É no mundo todo. –
Alice
--- Você estuda? –
Isis
--- Fiz o primeiro grau. Também,
onde eu moro não escola mais adiantada. –
O rapaz procurava ouvir a
conversa. Porém não havia modo. E indagou.
Carioca
--- Que tanto vocês cochicham? –
Alice
--- Não te interessa. Como e pague.
– Respondeu abusada.
Carioca gargalhou e respondeu
Carioca
--- Dinheiro, só mais tarde.
Agora, nada. – Sorriu metendo a mão da boca para retirar as farpas do que
sobrava. E sugava ainda mais.
Alice
--- É assim. Cambada de
ordinários. – Relatou para a moça.
Isis
--- E ele paga? – Indagou
assustada.
Alice
--- Paga. Ele teme o meu homem. –
Declarou abusada.
Isis
--- A senhora tem marido? –
Alice
--- Apenas um. Ele vem já. Foi
buscar as compras.
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