- BAÍA FORMOSA -
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DECISÃO -
A decisão era
fatal. No decorrer dos minutos, Dalva mergulhou bem fundo em sua decisão para
poder falar de forma inequívoca. O Chefe de Governo, Osvaldo Souza Barcelos era
um homem rico, extremamente poderoso e tinha o poder em suas mãos. Era como se
falava: “O que o Governador quer, ele faz”. Um homem austero. Ele assumiu o
poder por causa da morte do ex-Governador anterior quando o avião no qual
viajava, naufragou de vez no Oceano Atlântico, próximo à costa do Rio Grande,
mais para dentro do arquipélago de Fernando de Noronha. A senhora Dalva Lopes
Baldo tinha então que se decidir em ser ou não Prefeita do município de Baía
Formosa onde existia a praia de Sagi, principal distrito daquele município,
próximo à divisa com o Estado da Paraíba. Na verdade, Sagi está localizado a 90
km de Natal com praias praticamente intocadas. Seria o paraíso da natureza não
fora o acidente ocorrido com o navio que foi ao fundo totalmente consumido pelo
fogo após debater nas encostas da bela praia. Baía Formosa era a sede municipal
principal produtora de cana e camarão E era esse município que o senhor doutor
Osvaldo Souza Barcelos teve a visão aguçada. A praia de Sagi seria transformada
em um polo turístico para visitantes de Natal e da Paraíba. No local, tinha um
ponto importante. Além das casas dos pescadores, aldeia de índios onde menos
índios tinha nesse tempo, algo mais se apresentava: o rio do encontro com o
mar. Se não se podia ter algo mais, o rio Guaju era o ponto maior. No alto, as
dunas. Em baixo, o resto do navio petroleiro afundado por conta da natureza. Os
nativos, tinham o dever de cobrar da mãe natureza o quinhão que lhe sobrara: a
devastação do navio naufragado por esse resto de tempo. Sagi é uma praia
extensa com algumas pequenas baías. Era esse o ponto nefrálgico a verde perto o
Governador do Estado. E nesse ponto, Dalva Lopes falou com convicção.
Dalva
--- Muito bem.
Eu não aceito a proposta. Talvez o Governador se decepcione com a minha
posição. Mesmo assim, eu peço desculpas. Não aceito.
As duas irmãs –
Amanda e Walquíria – pareciam ter tomado um tremendo susto. Não aceitar uma
oferta como a qual era mais que temeroso. O ancião, José Afrânio, pigarreou
forte. O convidado, Jorge Aranha, calado ficou por algum tempo. O vento frio
soprava do morro e calando por algum tempo. Meninos brincavam na rua com suas
algazarras. Um vendedor de frutas passava a oferecer por melhores preços as
mangas, cajus, sapotis e tantas coisas mais. No seu lugar, quieto estava o
homem, Jorge Aranha, como se soprasse os dedos das mãos, pois juntara-os e de
vez, soprava-os. De sua boca não saia nenhum murmúrio. Ele, tao somente
observava a mulher com seus olhos mortos sem nada falar. Sagi, última praia do
Estado para se encontrar com a Paraíba, local do município de Baía Formosa era
uma praia intocável nos tempos de outrora. À vista do plantio da cana, em amplo
município, era Sagi uma pobreza total para quem não o conhecia. No local, era
franco o camarão e peixes apanhados nas redes de arrasto. Se não fosse o navio
encalhado a vida dos seus habitantes não tinha maior progresso.
O almoço
transcorreu num clima de silêncio quebrado por uma opinião ou outra como o
sertão faminto, a falta de água, os riachos sem nada, os açudes esturricados,
animais mortos na estrada, alarmes e choros. Essa opinião era dada por José
Afrânio para ver o homem barrigudo a olhar o tempo sem nada mais falar. As
lagostas eram o prato favorito da mesa naquela manhã tropical em Natal, região
leste do Estado. Baía Formosa, apresentava um aspecto selvagem na natureza a
respirar um ar inexplorado. Naquele remanso encontrava-se a maior reserva da
Mata Atlântica ainda preservada: a Mata da Estrela. A cidade localiza-se às
margens de uma baía. O nome Baía Formosa vem da única da única baía do litoral
do Estado.
Amanda
--- Por que se
chama Mata da Estrela? –
Zequinha
--- Porque tem
alí a maior reserva da Mata Atlântica. A Mata margeia toda a extensão litorânea
da Baía. Dunas imensas, florestas e só lagoas. – Explicou.
Amanda
--- Entendi.
Aliás, eu já estive ali como o senhor. Lembra? - Sorriu
E o almoço se
prolongou até o meio da tarde quando o senhor Jorge Aranha resolveu partir
perguntando ao seu novo amigo José Afrânio desejava ir também e esse recusou
afirmando para depois, uma vez ter ainda que falar com Dalva. Assim, sem mais
promessas, Aranha partiu de vez em seu automóvel.
José Afrânio
indagou de Dalva a razão de rejeitar a oferta de sair candidata à Prefeitura de
Baía Formosa e teve como resposta ser “mais um emprego” e ela não estava ciente
de tal função, até por que era um caso desconhecido. Afinal, Dalva já estava
ambientada como funcionária da Universidade e outra função não lhe faria bem.
Dalva:
--- São
questões que eu desconheço. E não pretendo ingressar em um ponto sem ter um
conhecimento qualquer. Alguém diz algo. Outro é o contrário. Tem os camachos. É
um horror! –
Zequinha
--- Certo.
Certo. É a sua natureza quem lhe adverte. Eu conheço várias mulheres que deixam
tudo para se dedicar a política. Mesmo assim, isso é a natureza dessas
mulheres. O que ela está vendo é o poder de ganhar mais. Ganhar bem. E
trabalhar menos. Aqui mesmo, no Estado, tem várias dessas mulheres. Elas
começam como presidente de uma agremiação pequena. Depois se elege vereadora e
vai seguindo como deputada, prefeita, governadora, entra pela política como até
senadora e chega a Ministra. É o cargo.
O cargo. Veja na Argentina ou nos Estados Unidos. As mulheres querem ser as
maiores. As líderes. –
Dalva;
--- E na
Alemanha. Elas querem ter o poder. Mas: que poder? Na Inglaterra também é a
mesma coisa. Na Índia e em outros locais. É uma sanha terrível. Não se vê mais
uma mulher sendo dona de casa. Ela não quer isso. Ela quer os cargos dos
homens. Bosta! – Disse amarga.
Zequinha
--- Por esse
lado você tem razão. Benazir Bhutto foi uma política do Paquistão. Duas vezes
primeira-ministra e, por fim, Chefe de Governo. Ela foi morta em Rawalpindi, em
seu País, em um atentado quando voltava, ao ser atingida por uma bomba. É
assim. – Cuspiu de lado.
Dalva
--- Eu não sei
o meu destino. Posso, um dia, ser morta. Mas, posso viver bem. Mesmo assim, não
me interessa ser política. Nem presidente das mulheres que vivem a fazer café.
– Sorriu
Zequinha
--- Eu já
exerci cargos importantes. Mesmo assim, me aposentei como um mero empregado.
Nunca me veio a ideia de ser vereador ou presidente, secretario ou tesoureiro
de um sindicato, mesmo depois de aposentado. Eu fico como alguém que assume um
local em uma mesa de uma Casa Espírita. Mesmo assim, não quero ser o maior de
todos. – Destacou
O dia passou e,
ao anoitecer José Afrânio seguiu para a sua moradia no automóvel de Dalva Lopes
Baldo com sua neta Amanda ainda a conversar com as tolices de sempre. Passados
alguns dias, o pescador chegou a residência de Dalva, logo cedo da manhã para
deixar uns peixes e lagostas como fazia sempre. Do portão, chamou o jardineiro
perguntando pela “patroa”. E o jardineiro respondeu.
Jardineiro
--- Ela já foi
para o emprego. Algo? – Indagou
Pescador
--- Vim trazer
os peixes. Dona Noca? – Indagou pela mulher cozinheira.
De momento,
respondeu a mulher:
Noca
--- Estou indo.
– Respondeu sorrindo
Pescador
--- Ah. Está
aqui os peixes e umas lagostas. Segure. –
Noca
--- Isso já
está sendo um vício. – E sorriu.
Pescador
--- Que nada.
No mar tem muita. – Relatou sorrindo com seu chapéu de palha.
Noca
--- Ah Bom.
Novidades? – Indagou
Pescador
--- Não. Apenas
a morte do prefeito de Baía. Quatro homens entraram na casa dele e fizeram
fogo. Pei bum – disse o pescador
Noca:
--- O Prefeito?
Ave Maria! Agora? Quem fez isso? Vou chamar Sorvetinho! – e saiu apressada.
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