sábado, 1 de agosto de 2015

LAÇOS DE TERNURA - 45 -

- CASEBRES -
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O PREFEITO -

O fogo tomava conta da embarcação em uma estupenda voragem sendo incapaz de se debater pelo furou inclemente. Fogo imenso onde cada uma das embarcações navais se recuava para locais mais seguros. Enquanto isso, Walquíria manobrou o seu carro até chegar à frente de uma casa desgastada onde era a sede da prefeitura de Sagi. No local, apenas um homem a observar ao longe o fogo a consumir embarcação. Quando a moça estacionou o carro, o seu avô, José Afrânio Beraldo quis saber do paradeiro do Prefeito.
Homem
--- Se bem me pergunta ele está da Capital. – Respondeu o homem.
Zequinha
--- E o vice? –
Homem
--- Está para os lados de Pernambuco cuidando do gado. –
Zequinha
--- E o presidente da Câmara?  -
Homem
--- Cuidado do camarão. – E cuspiu de lado.
Zequinha
--- Mas não tem ninguém aqui? Um secretario ou um atendente? – Indagou intranquilo
Homem
--- Se bem me lembro, tem apenas a minha pessoa. Eu sou o vigia. Tomo conta do que ainda presta. E se presta. – Falou manso.
Zequinha
--- Mas não tem ninguém mesmo? Nem da Câmara? – Inquietou.
Homem
--- Aqui tem apenas três vereadores. De resto, tem dois secretários. E os dois, seguiram com o patrão. –
Zequinha
--- Que patrão? –
Homem
--- O Prefeito. Agora, os outros secretários há muito debandaram. Aqui não se paga há um ano. Ninguém faz nada. Eu, apenas, estou aqui vendo o fogo do barco. Quando se tem feira, a gente junta o que se tem e troca por outras coisas. É assim. Tem vereador que vive da pesca. Alguns, Alguns. – e cuspiu de novo com sua mescla de fumo.
Zequinha:
--- Aqui é mesmo Sagi? – Quis saber.
Homem
--- Assim é o que se diz. – Falou brando.
Zequinha:
--- E tem morador? –
Homem
--- Poucos. Muito poucos. Ontem mesmo o mar levou um punhado. O senhor sabia? –
Zequinha:
--- Eu sei disso. E com quem se fala quando não tem ninguém no comando do Município? –
Homem
--- Senhor. Para bem dizer, o único que ainda sobra é o Zé da Bodega. Ele, por certo tempo, foi prefeito. Depois, abandonou a função. Isso faz bem uns dez anos. Se não me lembro. –
Zequinha:
--- E o senhor, que faz? –
Homem
--- Pesco. É o que dá. Vivo da pesca, pois a prefeitura não paga. Eu nem sei quanto tenho a receber. Deixa pra lá. –
Zequinha
--- Pesco. – Resmungou – E não tem nem escola, nem Receita, nem calçamento. E nem pastoril? -  quis saber com cuidado.
Homem.
--- Ah. No tempo de festa as meninas fazem pastoril. Dinheiro? Só se vendo! Um homem recolhe tudo e vai embora. –
Zequinha
--- Quem é o homem? –
Homem
--- Um borra-botas do Secretário da Fazenda. – Cuspiu de lado
Zequinha
--- E os outros? Educação, por exemplo! –
Homem
--- Essa – coitada – é uma velha. Mais velha que eu. Só chama as professoras – muitas não têm nem mesmo o primeiro grau completo – e diz o que diz. Depois, vai embora. Os vereadores vêm uma vez por mês. É uma desgraça. - Lamentou
Zequinha
--- Vem uma vez para que? –
Homem
--- Para nada. Não tem dinheiro. Então eles vão embora para voltar no mês seguinte. Tem deles que mandam até um capanga para mode não vir somente ele. –
Zequinha
--- Eu não posso nem pedir para fechar essa bagunça, pois não tem mais nada para fechar. Tá vendo? Tá vendo? Tá vendo? Vou ter com o Governador, agora! – Disse ríspido.
O homem sorriu displicente. Suas vestes eram um blusão da marinha, com certeza dada por algum marinheiro, uma calça escura, um par de coturno e, na cabeça, o chapéu. E só. O frio soprava com intensidade fazendo um murmúrio terrível. Um enterro prosseguiu para estada a fora, provavelmente de um adulto, pôs a rede era tensa, uma vez caixa não mais havia. Os demais caixões foram usados por outros defuntos, mortos quando a água do mar jogou tudo para fora.
De volta à capital, José Afrânio seguia revoltado com o depoimento colhido junto ao pescador. Irritado por demais ele não parava de falar com as duas netas. O que ele queria saber era para onde o dinheiro estava sendo escoado. Uma terra de pesca, o rendimento era franco com toda certeza. Mesmo assim, o pagamento do pessoal com atraso e as repartições municipais estavam aos pandarecos.
Zequinha
--- Tenho que fazer algo. Ah se tenho! – Relhava com toda certeza.
Amanda
--- Acalme-se meu avô. Eles são quem mandam nos tributos. –
Zequinha
--- Acalme-se? E a Saúde? A Educação? Quem faz essa joça? – Indagou irritado
Amanda
--- E o que pensa o senhor fazer? –
Zequinha
--- Ele não pode por esperar! Vejamos! – Embrutecido.
Já era meio da tarde quando José Afrânio e suas netas chegaram a cidade. Nesse ponto, Walquíria decidiu passar em casa para verificar o estado de saúde antes de ir para a casa de seu avô. 

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