- BANCAS DE PRAIA -
- 08 -
EMBAIXADOR
Na verdade, aquele homem que ali
na praia estava era, na verdade, um Embaixador. Embaixador do Brasil. Vossa
Excelência o Embaixador. Ele era natural de Natal e vivia em viagens pelo mundo
afora. Conhecedor de Países de Europa, África, Ásia e as Américas do Norte,
Centro e sul. Era um perfeito Diplomata. Às vezes, passeava por Natal revendo a
família – mãe, pai e irmãos – pois àquela altura não era casado, tendo sua
mulher falecido em um acidente de carro no caminho entre a França e os Alpes. O
Embaixador ficou triste e não mais casou. Quando estava em Natal, visitava a
praia pela manhã e no restante do dia passava a vista nos jornais estrangeiros
e nacionais ou revia as fotos de quando criança. O Diplomata era um homem alto
e robusto tendo o nome de Ênio Rebelo Monroe. Nem por isso o Embaixador se
gabava. Nunca buscou carro especial e, às vezes, visitava amigos na cidade. Quando
o Embaixador estava confabulando com Isis era por pura distração.
Embaixador
--- A senhora compra tudo feito?
–
Isis
--- Não. Eu faço mesmo. Tapioca,
beiju, bolos, almondegas. Apenas o coco eu mando retirar do cercado. – Sorriu.
Embaixador
--- E a senhora aprendeu aonde? –
Isis
--- Minha mãe. - pendeu a cabeça a sorrir.
Embaixador
--- Ah sim. Eu sei. E a senhora
quer se fixar nesse trabalho? –
Isis
--- Eu penso. Mas vai depender de
muita coisa. Por enquanto eu vou ficando nesse serviço. –
Embaixador
--- Quais “muita coisa”? –
Perguntou
Isis
--- Em princípio vai depender de
recursos. Dinheiro, quero dizer. Depois, o tempo. A chuva. Se chove, o negócio
pega. Eu, hoje, alugo essa banca. Porém: por quanto tempo? Eu mesmo não sei.
Um, dois ou três meses. É isso. –
Embaixador
--- Esse é um dos problemas. Mas,
a senhora não outros meios? –
Isis
--- No momento, não. Tem muita
gente aqui. Cada um que faz o seu. É difícil, meu senhor. –
Embaixador
--- Mas a senhora pode dar um
jeito. –
Isis
--- Qual? – Indagou preocupada
Embaixador.
--- Aluga uma quitanda ou coisa
assim. –
Isis
--- Pode ser. Mas vai depender do
local. E daí, da moradia e mais, do custo. Verba. Entende? –
Embaixador.
--- A senhora só aprendeu isso? –
e apontou para os alimentos.
Isis
--- Nada. Tem muita coisa. A
questão é o aperto. Eu faço uma coisa e deixo outra. É assim. –
Embaixador
--- Por que a senhora não põe uma
ajudante? –
Isis
--- Com que dinheiro? – Sorriu
depressa e logo emudeceu.
O Embaixador ficou alheio e se
pôs a indagar a si mesmo. “A moça tem razão”. E balançou a cabeça para um lado
e para outro.
Embaixador
--- A senhora tem razão. A
propósito. A senhora mora aqui próximo? –
Isis
--- Sim. Mas eu não pago aluguel,
por enquanto. Vai depender de outras coisas. –
Embaixador.
--- De que, por exemplo? –
Isis
--- (sorriu para o Embaixador e,
então perguntou) – O senhor já comeu carne? –
O Embaixador ficou inquieto com a
questão e nada respondeu de imediato. Apenas observou a moça para ter a certeza
de ter ouvido. E então, respondeu.
Embaixador
--- Carne? Claro que sim. Por
que? –
Isis
--- Eu não comi. Nem ontem e nem
antes de ontem. E não comi peixe também. Entendeu bem, senhor? –
O Embaixador ficou sereno sem
saber o que falar. Essa pessoa não comeu carne, nem peixe. Talvez não pudesse
comer por muito tempo. Quem sabe, ostras, caranguejo ou siris. O que a moça
comia, na verdade, ele não sabia atinar. E questionou.
Embaixador
Por que, minha senhora? – Falou
com bastante calma
As lágrimas lhes trouxeram
amargura naquele momento ao explicar ao Embaixador o que ela podia comer.
Isis
--- Por não ter meios. Se eu
disser ao senhor que ontem só comi brote, o que achas? –
O Embaixador caiu na verdade da
vida. A moça não tinha mesmo recursos para se alimentar. Ela não tinha verba
alguma para se alimentar de qualquer comida. E quantos tinham na rua, na mesma
situação a moça, ele não sabia contar. E, então, o homem chorou. Chorou demais.
E indagou.
Embaixador
--- Quer morar em minha casa? Vai
tem comida, roupa e, principalmente, dinheiro. – Alertou
Isis
--- Em troca de que? – Indagou
com calma.
O Embaixador se inquietou por não
saber explicar. Ele podia estar convidando para a moça ser empregada da casa ou
simplesmente para nada. E aquietou-se
Embaixador
--- Talvez, a senhora possa fazer
algo que a minha mãe não saiba. Não sei bem. Porem algo. Alguma coisa. Simples,
talvez. – Falou sem entusiasmo.
Isis.
--- Eu vou ser empregada do
senhor? – Quis saber com um olhar desconfiado
O Embaixador ficou embaralhado ao
responder. Mesmo assim, informou.
Embaixador
--- Claro. A senhora será a
governanta da nossa casa. É isso que
ofereço, de momento! – Afirmou
A moça olhou bem nos olhos do
Embaixador para poder perguntar
Isis
--- Quanto paga? – Fez questão de
dizer
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