terça-feira, 25 de agosto de 2015

MAR SERENO - 04 -

- PRAIA DESERTA -
- 04 -
SEGUINTE -
No dia seguinte, às 05.00 horas da manhã, o dia ainda estava por despertar. Havia nuvens no céu e barcos de pesca no mar. Pessoas começavam a trotear fazendo cooper na calçada da praia e quem levava as suas bancas para pôr em ordem à margem da maré. Alice já estava a preparar o café da manhã e o homem do leite chegava de imediato para despachar o seu quinhão. Aos poucos chegavam os pães trazidos em uma Kombi. E assim, o dia avançava aos poucos. De dentro da casa, surgiu a figura de Isis, ainda sonolenta a indagar:
Isis
--- Que horas? –
Alice
--- Passa das 5 – resmungou
Isis
--- Virgem como é cedo. – Reprovou
Alice
--- Aqui não tem horas. Veja. Ligue o rádio. – Torceu a cabeça em volta
Isis
--- Ah. Tá bom. Eu vou me assear. Espere que eu volto logo. –
Isis não percebeu a falta do carro de Jorge em um instante. Após alguns momentos foi o que notou. E, depressa, correu para o banheiro onde se pôs a assear. Na panca do bar, chegavam os primeiros “biriteiros” com suas caras cheias de grude. E nada falavam. Apenas pediam.
Biriteiros
--- Pinga! – Relatavam.
Alice
--- Pois sim. Uma hora dessas? – Reclamava a mulher
Daí a pouco chagavam as 6 e 7 horas onde o movimento já era grande com os meninos buscando os pães, mulheres a apanhar açúcar, café pronto, bolacha e arroz doce. Era um movimento inquieto na manhã daquele dia. A essa altura, Isis já estava a operar vendendo e tomando o dinheiro dos menos afoitos. Quase não tinha tempo de descansar dado a enervante correria da freguesia. Quando a buzina zoou forte nas oficinas da Rede Ferroviária, Isis quase caiu de susto.
Isis
--- Que é isso? – Indagou assustada
Alice
--- A Rede. Sete horas. – Explicou desatenta.
Isis
--- Rede? – Perguntou meio aluada.
Alice
--- Sim. O trem.  É hora do trabalho. – Aclarou.
E assim caminhou o tempo com os mecânicos chegando às oficinas, motoristas saído em seus ônibus, carros a passar em debandada, os garotos do sorvete passando com seus carros para buscar as suas mercadorias, os homens a oferecer tapiocas aos passantes, o rapaz do cuscuz a oferecer seus suprimentos batendo com uma placa no pau da armação e tudo que se imaginava levar. O vendedor de pescado a aparecer e desaparecer repentinamente com as suas pescas. Era uma eterna multidão. Gente indo e voltando. Alguém a tomar banho de sol nas bancas armadas. Um rapaz a passear a beira-mar. Atleta a exercitar a musculatura. Casal a levar o filho para o banho a praia seca. Era gente a chegar vindo de carros ou a pé. De longe, Isis observava o movimento do pessoal. E nada comentava. Apenas dizia a um freguês.
Isis
--- Quer caldo de peixe? – Perguntava sem meios
Freguês
--- Mas tarde. Tem beiju? –
E a moça partia para buscar o beiju ou pão com queijo entre o lixo as vezes colhido pelos catadores e fossas saturadas ligadas as redes pluviais entre coqueiros e remansos sem sindicatos para acudir os desacertos.
Às 08.00 horas chegava o carro de praça de Jorge com uma carga de frutas, carnes, manteiga, e até um carneiro trazido para esfolar a qualquer dia ou tempo. Ele despelou a carga no chão do balcão.
Jorge
--- Faltou linguiça. – Disse o homem
Alice
--- Não tinha?
Jorge
--- Tinha. Foi esquecimento meu. – Fez cara feia.
Alice
--- E o picado? –
Jorge
--- Esse está aí. -  
Alice
--- De carneiro? –
Jorge
--- De bode. Não se faz picado de carneiro. Bode ou boi. –
Alice
--- Não se faz suas ventas. – Dialogou com raiva.
Jorge sorriu e mandou Isis colocar tudo para dentro, no quarto de trás. Enquanto a serviçal saía, eis que chegava outra. Nizete, coisa muito rara. Vinha um dia e dez não. Depois do namoro com Vandilo ficou assim.
Nizete
--- Boa; - e sorriu
Alice
--- Boa, desaparecida. – Sorriu
Nizete
--- Onde está o povo? – Indagou se referendo a Isis
Alice
--- Lá dentro. – Sorriu e apontou para Isis já vindo a chegar
Nizete
--- Eu soube. – Sorriu
Alice
--- E Vandilo? – Perguntou
Alice
--- Oficina. – Declarou apontando para a Chevrolet
Nizete
--- Olá. Como vai? – Perguntou a Isis sempre sorrindo
Isis
--- Olá. Vou bem. Trabalha? – Indagou se referindo ao bar já temerosa de perder o emprego
Nizete
--- Não. Hoje, eu vou ao médico. –
Isis
--- Doente? –
Nizete
--- Nada de mais, eu creio. – Sem explicação


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