segunda-feira, 6 de julho de 2015

LAÇOS DE TERNURA - 30 -

- SÃO MIGUEL ARCANJO -
- 30 -
CUIDADOS -

Em poucos minutos surgiu no quarto onde a dona Noêmia estava internada, o médico, o doutor Marcelo Orta, com os seus óculos de graus e vestindo a manda hospitalar. Ele penetrou tão sutil quase ninguém percebeu. Ao se acercar da cama da enferma, ele observou de imediato o prontuário que recitava o passar das últimas horas e a medicação dada a mulher pregado na cama, ao lado da frente. Ele nada falou. Apenas pendurou na cama, como estava antes dele chegar. Dona Dalva Lopes estava calada e assim ficou. O cirurgião observou a enfermeira de plantão e nada também falou. Com as duas mãos para trás, ele observou de nome a dona Dalva Lopes e abaixou a cabeça tendo por sinal dito a senhora.
Orta;
--- Incrível! Como é que pode? Incrível! A melhora da saúde de sua protegida é o melhor possível. Eu rasgo o meu diploma, agora! – E observou o tratamento da perna ainda embrulhada com gases.
O médico Marcelo Orta apenas observou o tratamento e nada falou. Por mais uma vez, o homem observou a pulsação e se a paciente estava ou não febril.
Orta
--- Nada mal. A senhora está praticamente curada, dona Noêmia. –
A mulher caiu em prantos. E com alegria a solução respondeu.
Noêmia;
--- Eu sabia! Eu sabia! Graças a Deus! – Declarou com alegria.
Orta:
--- Bem. Eu tenho que ir a um Congresso em São Paulo e na volta eu vejo de osso te dar alta. Mas, uma coisa: como é o nome daquela erva? – Quis saber.
Noêmia:
--- A erva? É Janaúba. Santo remédio! O senhor que saber por que? – Perguntou.
Orta;
--- Por nada! Curiosidade! Aqui, eu encontrei no laboratório da SUCAM. Os técnicos me deram informação. Segundo me informaram, é muito boa as gotas. – Declarou.
Noêmia.
--- Eu não disse! Eu não disse! É Janaúba. A erva milagrosa! Foi uma índia que me ensinou! - - e toca a mulher chorar.
Orta:
--- Isso. Isso. Eu vou ao Congresso e faço um relato desse medicamento! Incrível! Incrível! – Era tanto o que declarava.
Com um espaço curto de tempo, o doutor Orta chamou a doutora Dalva para ir até seu Gabinete onde poderiam conversar com mais vagar. Notava-se em Orta a possibilidade de ter que dar alta a mulher Noêmia em breves dias. E com isso, ambos iniciaram o diálogo.  O cirurgião especulou vários casos da enfermidade. Porém, nunca tinha visto aquele mal em se tratar com um ramo do mato.
Orta:
--- A ciência tem muito o que aprender. Eu passo exames, receituário, os mais variados. E o paciente vai se curar com uma rama do mato. Isso me deixa embevecido! –
Dalva:
--- Eu, também, nunca tinha ouvido falar nesse mato. Janaúba. – Respondeu
Orta
--- A medicação está aqui em nossas mãos. E não se sabe de nada.  Eu vou a esse Congresso e exponho todo o caso. Mas uma coisa. A sua protegida, ela não sofria de câncer. O que se acometeu foi uma medida de cobra ou coisa assim. Ela não viu e também não soube responder. Cobra, urtiga ou mesmo um bicho do mato. Besouro. Isso foi o que respondeu ao ferimento. Mas, vamos deixar como está. Na verdade, a erva Janaúba é quem vai ganhar a fama. Na verdade, ela é indicada para esse tipo de enfermidade também. O que não faz mal, as vezes cura, não é verdade? – Articulou
Dalva:
--- Até cachaça. – Respondeu sorrindo a mulher.
Orta
--- Até cachaça mesmo. Apesar de não beber, eu já curei muita gente que tomava cana pura! -  adiantou
Dalva
--- Com a tua permissão, eu vou contar um fato real. Ocorreu para esses lados. Caminho das praias ao norte. Um velho vinha caminhando e notou um homem, também dos seus sessenta anos com uma ferida braba na perna. A chaga estava a descoberto. O peite, ao que parece, apenas coçava a chaga. O senhor que passava, olhou bem para a chaga e deu esse recado:
Velho:
--- Que é isso? – indagou.
O outro:
--- Ferida braba! – respondeu,
Velho
--- Quer curar? – perguntou.
O outro:
--- Se tiver cana! – respondeu.
Velho
--- Bem. Cana não tenho. Mas tenho uma receita. – Explicou
O outro:
--- Só se for merda! – Disse a sorrir.
Velho:
--- Bem. O senhor já deu a receita. Pois passe merda. Se tiver ainda hoje, não perca tempo. Quando eu voltar, com uma semana, o senhor me diz. Se for merda fresca, ainda melhor. –
O outro:
--- Tá doido? Vou passar merda? – Indagou exaltado.
Velho
--- Então, morra! – Respondeu
Com uma semana, o velho voltou e encontrou o chaguento cheio de alegria e não deu tempo nem a indagar. O doente foi logo mostrar a perna sarada.
Outro:
--- Caguei no mesmo dia, botem uma masca de fumo e suportei a dor. Mas, no dia seguinte, vi que estava bem melhor. Hoje, está aqui, a perna. Sarou por completo. – Relatou.
Velho:
--- Tá vendo. Se tiver que fazer de novo e se alguém perguntar, o compadre diz: “passe merda”.
O doente:
--- Já ensinei um bocado de gente. Quem pergunta, eu digo: merda rala. – E gargalhou
O médico gargalhou para dizer.
Orta:
--- Essa eu não sabia. Mas, tenho troco. Um ancião passando alí perto da Base Naval, viu um moleque com uma porção de fígado. E perguntou para que tanto fígado. O menino disse que era para colocar no seio de uma moça que estava com um câncer. O ancião respondeu ao garoto.
Ancião
--- Bote sapo. Bem vantajoso. Deixe um dia ou dois e depois tire da chaga. –
Garoto:
--- Sapo? E ela vai querer? -  indagou com receio
O ancião sorriu e se despediu do menino afirmado:
Ancião
--- Sapo grande! E partiu para o seu destino. E a moça colocou um sapo e hoje nem se importa. 


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