- SEPULTURA -
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SEPULTAMENTO
Diante disso,
Walquíria lamentou o estrago ao qual foram submetidos os homens da Marinha que
foram as cruéis vítimas do desafogo e, a cima de tudo, os escafandristas foram
os mais audazes em retirar todos dos corpos das vítimas, algumas com excesso de
peso devido a água tragada quando desceram ao inferno de limo do mar. Não se
sabia ao certo quantas vítimas tinham sido retiradas. A primeira foi a do
Governador do Estado e os componentes que conduziam a aeronave acidentada. Os
comentários advindos eram os mais alarmantes. Sabia-se ter o Governador morto
passar pouco tempo no Salão Negro do Palácio onde algumas autoridades lhe prestariam
homenagens fúnebres. Havia no programa a Banda de Música da Polícia Militar a
entoar os hinos fúnebres e o toque de silêncio. O ataúde era um caixão enorme
dado a vantagem do corpo do morto. Na parte interna do caixão havia sido posto
um suporte de alumínio para não deixar sair nada de dentro. Comentava-se ainda
o mau cheiro advindo do seu interior, caso muito repercutido, mas pouco visto
pelos presentes. Uma coberta negra enlutava o caixão com as suas franjas
douradas. A coberta ia até o chão. Para ser conduzido o ataúde foram
necessários oito guardas de honras, todos bem formados para poder soerguer a
caixa fúnebre e pô-la em um carro do Corpo de Bombeiros. Os que estavam por
perto tapavam as narinas reclamando do odor vindo do esquife.
Dalva, Walquíria
e o menino Ciro estavam ao largo, com boa distância, a observar o padre baixo e
gordo a sacudir água benta no infausto caixão. Notava-se a presença de José
Afrânio entre os demais a conversar com os demais assuntos desastrosos do
aparelho caído há oito dias no mar onde ninguém conhecia bem. Um menino indagou
à sua mãe:
Menino
--- O defunto é
aquele? –
Mãe:
--- Sim!
Calado! Não se fala aqui. –
E o cortejo
fúnebre seguia adiante, no início de sua marcha a conduzir o defunto ao Campo
Santo da Cidade. As lojas da capital fecharam as suas portas no momento
decisivo para pôr em luto a passagem do esquife. O Carro de Bombeiros seguia o
trajeto em marcha lenta com os guardas em cima, todos com postura ereta em
sinal de profundo respeito. As sirenas ligadas davam um toque de profundo
respeito. As motos da Polícia seguiam à frente mantendo a segurança do
trânsito. Logo atrás, os carros da Governadoria e veículos de amigos e
parentes. E a multidão a caminhar unida ciente do fazer os votos de luto e
lágrimas. Ouvia-se a Banda de Música com o seu lúgubre toque de respeito. Quem
não seguia o cortejo fúnebre, conversava com os demais um pouco lento trocando
palavras amistosas.
Homem:
--- Um homem
bom. –
Dois:
--- E não
mentia. Fez tudo o que prometeu. –
Três
--- Só era
mulherengo. Às quartas-feiras saía a britá pelos bordeis e comia tudo. –
Quarto
--- Larga de
mentira! Ele era o Governador! Desbocado! – Respondeu com ira.
A noite já era
presença e a multidão acompanhou a pé o cortejo até o sarcófago baixar à sepultura.
No final de tudo, as bodegas abriram suas portas para atender a freguesia. Os
cachaceiros, em primeiro lugar.
Cachaceiro
--- Bota uma
para respeitar o morto. –
Bodegueiro
--- É p’ra já.
– Respondeu com sua manga de camisa por fechar.
Menino:
--- Tem pão, Zé
Buchudo? – Um menino indagou.
Na casa de José
Afrânio todos estavam a conversar sobre o avento da tarde. O homem teve licença
para sair e voltar após três dias de folga. Ele seria agraciado com uma medalha
por acertar com os corpos no fundo do mar, alertando ser os espíritos que o
orientavam por tudo. Se por ter certeza ou não, a Base Aérea resolveu lhe dá
uma Medalha de Honra ao Mérito e a passagem ao posto de Oficial Militar.
Amanda:
--- E fez bem.
Ele acertou em tudo. –
Odete
--- Também ele
já é um velho. Dia a mais dia a menos se acaba tudo. –
Zequinha:
--- Tu queres
que eu morra? – Alertou com olhos acesos.
Odete
--- E tu não é
velho mesmo! – Disse a sua esposa partindo para o interior da casa.
Zequinha:
--- Tá aqui, ó!
– E mostrou uma “banana” a mulher
Amanda
--- Vamos de
parar conversa com os outros o que é melhor. –
Dalva:
--- E o
namorado? – Indagou sorrindo a Amanda.
Amanda
--- Não tem
nada de namorado. Apenas meu conhecido. –
Sorvetinho
--- Namorado?
Quem tem namorado? Essa? – Alegrou a vida.
Zequinha
--- É um bom
rapaz. Faz-me gosto. – Lembrou o velho.
Sorvetinho:
--- A
propósito. Eu vi um gajo até simpático. Pena porque ele anda todo esmolambado.
– Mastigou uma unha.
Dalva:
--- Já sei quem
é. Ele tem três mulheres. – Adiantou sorrindo.
Sorvetinho
--- Que tem
isso? Comigo, quatro! Mas não dá proveito. Tem ferida! –
Amanda:
--- Sarna? É
bom demais! A gente coça, coça e a bicha não passa. – Sorriu.
Sorvetinho:
--- Quem tem
uma coceira assim é a minha avó-. – Sorriu.
Zequinha:
--- Deixamos de
conversa. Veja teu filho. Está dormindo? – Indagou a Dalva
Dalva
--- Dorme que
nem mosca. Mas, vamos nos ajeitar. Está na hora de ir. –
Walquíria:
--- Hoje eu
fico. Mas amanhã chego cedo. Vou arrumar as trouxas. Se for falta de adeus, até
logo. – Respondeu.
Dalva:
--- Mas chegue
cedo. Amanhã tenho obrigação na Universidade. Até. – Segurou o menino ao sair
da casa de seu José Afrânio
O dia seguinte
era de muita chuva. Walquíria chegou logo cedo em casa de Dalva. Essa, com
pouco tempo, saiu para a Universidade fazer as suas obrigações necessárias. E
anunciou ter de voltar antes do meio dia para o almoço.
Sorvetinho:
--- Algo em
especial? – Quis saber Walquíria para poder preparar o almoço.
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