quarta-feira, 15 de julho de 2015

LAÇOS DE TERNURA - 35 -

- LAGOSTAS -
- 35 -

LAGOSTA -

Dona Noca preparava as lagostas enquanto conversava com Noêmia, a mulher doente, tendo o garoto José a escutar. A luz não chegava e era uma simples claridade emanada pelo tempo chuvoso. As lagostas deviam ser uma delícia. Cada qual de maior tamanho. E foi um presente de um pescador amigo de Doca que passou logo cedo, na casa, e deu a mulher. Ele estava todo molhado pela chuva e tinha ainda uma porção de peixes, com certeza, para entrega nas distantes freguesias. Enquanto preparava as lagostas, dona Noca tecia conversa de mulher despachada sobre tudo por que já passou na vida.
Noca:
--- Lagosta! Enormes as “bichas”. Hoje, vou fazer um ensopado de lagosta. Será que a moça gosta? Bem. Se gosta ou não gosta, vai provar. – Relatou a mulher fazendo o prato de lagosta
Noêmia
--- Na praia a gente come muito disso. Eu não posso nem provar. Essa reimosa na perna. Só depois de alguns tempos. E eu nem gosto muito das lagostas. Já gostei. Mas, hoje, não. – Disse a mulher
Noca
--- Em Natal tem muito disso. Para os lados de Ponta Negra. Do outro lado. A gente sobe a encosta e desce para apanhar lagosta. Tem muita. Muita mesmo. –
Noêmia
--- E essa Ponta Negra é longe? –
Noca
--- Nada. Bem alí. Depois do morro. É só subir e descer. –
Noêmia
--- Na praia, tinha um velho que só comia dessas tais. Um dia, já de noite, bem dez horas, ele chegou em sua casa e despachou as lagostas em cima da mesa. E não disse nada. Só despachou. Bem.  A mulher do pescador só foi observar as lagostas e voltou. Nesse momento, o homem não estava mais em casa. E veio um outro pescador e deu a notícia: “Dona, seu marido morreu”. A mulher duvidou e disse que ele estava em casa. E mandou o pescador olhar. E o pescador, sabedor de histórias, disse que o homem tinha morrido há pouco tempo e o cadáver estava sendo trazido pelos companheiros. E ficou a lenga-lenga quando trouxeram o corpo. Então, a mulher desmaiou de medo. Era o corpo do marido.-
Noca
--- E as lagostas? – Indagou curiosa.
Noêmia
--- Essas? Só o diabo sabe. Não tinha lagosta na mesa. O homem era uma assombração. Minha avó foi quem contou. Dessa noite para cá todo mundo teve medo de comer lagosta. -  
Noca
--- Pois é. O destino tem dessas proezas. Certa vez.... Eu era criança ainda. Mas, não esqueço. Certa vez, num bar alí, na Ribeira, um bairro de Natal, um homem, por Nazareno, como se chamava, estava bebendo cerveja ou cana mesmo, e deu quase meia-noite, ele fez a conta e seguiu para a sua casa, no Alecrim. Nesse tempo, o Alecrim era distante. E ele foi a pé, contando os postes – quis sorrir -. Lá para as tantas, nem bonde mais passava, ele chegou à Cidade (Alta) e pegou caminho pela rua do centro, a avenida Rio Branco, onde tudo era fechado. Só tinha casa de moradia naquele bairro. Tinha, bem para cá, um prédio que era o mercado da Cidade. Mas já ficava distante de onde Nazareno estava. Deus guarde sua alma. Pois bem. O homem atravessava uma rua pequena que sai de outra rua e viu uma criatura toda vestida de noiva. Ela estava em desassossego pois corria feito louca. A noiva saiu em debandada da rua e seguiu pela avenida (Rio Branco) logo próximo a uma repartição. Parece que era a casa do Professor. Tudo fechado. E o homem, assustado, viu aquela noiva a correr como louca e então parou com temor.
Nazareno
--- Oxente! O que é isso? – Indagou cheio de medo o rapaz
Noiva
--- O senhor vai descer? – Quis saber apavorada a noiva.
Nazareno:
--- Claro que sim. Para onde vai a moça? – Perguntou de olhos esticados.
Noiva
--- P’ra lá. – Apontou o caminho do Alecrim.
Nazareno
--- Pois é o meu caminho. A essa hora da noite não tem mais bonde. Eu vim lá de baixo, da Ribeira.  Longe que só. – Relatou já perdendo o susto.
Noiva
--- Pois é o meu caminho. Eu vou para lá. Se o senhor não se importa, podemos ir juntos. –
Nazareno
--- Pois tá certo. A senhora veio de um casório? – Perguntou com dúvidas.
Noiva
--- Ah sim. Eu sou a noiva. Tinha muita gente. E resolvi sair. Deixei o noivo roncando. – Sorriu
Nazareno.
--- Era aqui? – Indagou o homem a apontar o caminho onde a moça, de imediato, saiu.
Noiva.
--- É bem ali, a casa. Tem gente demais. E uns homens tocando violão. Eu perdi a calma e fugi. –
Nazareno
--- Eu vou para o Alecrim. Moro perto do Quitandinha. Logo após, nas Oficinas. Sabe? – Perguntou apontando o longínquo bairro.
Noiva:
--- Eu sei onde fica. O Quitandinha é um bar. Já está quase fechado. Mas ainda tem gente por lá. O pessoal do interior. Gente pobre de Jó. A maioria dorme nos bancos da praça. – Disse a sorrir
Nazareno
--- Eu sou do interior. Mas faz muito tempo que eu moro na capital. Tenho mãe. Ela é lavadeira. De manhã cedo, ela vem com suas peças lavar roupa aqui no riacho do Baldo. – e apontou o riacho do Baldo.
A esse tempo, Nazareno e a sua acompanhante, já estavam próximo ao riacho. E ambos seguiram em frente a conversar asneiras. Coisas comuns de casamento e tudo mais. Já estavam a subir a ladeira da Igreja (de São Pedro) onde não havia viva alma no caminho a não ser uma padaria a cozinhar os pães, brotes e bolachas. E os dois, animados, a conversar e apontar as casas de gente mais ou menos rica e a noiva a falar já ter estado na Igreja para se confessar como preparação para o casório. Ninguém por perto. Apenas o cemitério do bairro. E foi quando a noiva passou em frente ao portão do campo santo que falou a Nazareno.
Noiva
--- Eu fico aqui mesmo! – Sorriu e entrou pelo portão fechado a chave ponde fim o caminhar.
O rapaz, apavorado com tamanho medo, desabalou em sua caminhada a pedir socorro a ninguém até chegar, quase morto, ao bar Quitandinha. E lá, deve tempo de falar.
Nazareno
--- Eu vi uma assombração. Uma moça. Uma noiva. – E caiu no chão
Noêmia:
--- Virgem!? Uma morta noiva! – Indagou alarmada
Noca:
--- Pois é. Minha avó contava essa história. Tu ainda tens dúvidas!? – Perguntou cheia de temor
Noêmia
--- Nossa! Eu vou beber é um copo d’água! – E saiu correndo para fora da cozinha
Walquíria, que estava a ouvir, indagou:
Sorvetinho
--- Que foi!? – Perguntou plena de temor.
A chuva caía copiosa sobre toda a capital.


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