- LAGOSTAS -
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LAGOSTA -
Dona Noca
preparava as lagostas enquanto conversava com Noêmia, a mulher doente, tendo o
garoto José a escutar. A luz não chegava e era uma simples claridade emanada
pelo tempo chuvoso. As lagostas deviam ser uma delícia. Cada qual de maior tamanho.
E foi um presente de um pescador amigo de Doca que passou logo cedo, na casa, e
deu a mulher. Ele estava todo molhado pela chuva e tinha ainda uma porção de
peixes, com certeza, para entrega nas distantes freguesias. Enquanto preparava
as lagostas, dona Noca tecia conversa de mulher despachada sobre tudo por que
já passou na vida.
Noca:
--- Lagosta!
Enormes as “bichas”. Hoje, vou fazer um ensopado de lagosta. Será que a moça
gosta? Bem. Se gosta ou não gosta, vai provar. – Relatou a mulher fazendo o prato
de lagosta
Noêmia
--- Na praia a
gente come muito disso. Eu não posso nem provar. Essa reimosa na perna. Só
depois de alguns tempos. E eu nem gosto muito das lagostas. Já gostei. Mas,
hoje, não. – Disse a mulher
Noca
--- Em Natal
tem muito disso. Para os lados de Ponta Negra. Do outro lado. A gente sobe a
encosta e desce para apanhar lagosta. Tem muita. Muita mesmo. –
Noêmia
--- E essa
Ponta Negra é longe? –
Noca
--- Nada. Bem alí.
Depois do morro. É só subir e descer. –
Noêmia
--- Na praia,
tinha um velho que só comia dessas tais. Um dia, já de noite, bem dez horas,
ele chegou em sua casa e despachou as lagostas em cima da mesa. E não disse
nada. Só despachou. Bem. A mulher do
pescador só foi observar as lagostas e voltou. Nesse momento, o homem não
estava mais em casa. E veio um outro pescador e deu a notícia: “Dona, seu
marido morreu”. A mulher duvidou e disse que ele estava em casa. E mandou o
pescador olhar. E o pescador, sabedor de histórias, disse que o homem tinha
morrido há pouco tempo e o cadáver estava sendo trazido pelos companheiros. E
ficou a lenga-lenga quando trouxeram o corpo. Então, a mulher desmaiou de medo.
Era o corpo do marido.-
Noca
--- E as
lagostas? – Indagou curiosa.
Noêmia
--- Essas? Só o
diabo sabe. Não tinha lagosta na mesa. O homem era uma assombração. Minha avó
foi quem contou. Dessa noite para cá todo mundo teve medo de comer lagosta. -
Noca
--- Pois é. O
destino tem dessas proezas. Certa vez.... Eu era criança ainda. Mas, não
esqueço. Certa vez, num bar alí, na Ribeira, um bairro de Natal, um homem, por
Nazareno, como se chamava, estava bebendo cerveja ou cana mesmo, e deu quase
meia-noite, ele fez a conta e seguiu para a sua casa, no Alecrim. Nesse tempo,
o Alecrim era distante. E ele foi a pé, contando os postes – quis sorrir -. Lá
para as tantas, nem bonde mais passava, ele chegou à Cidade (Alta) e pegou
caminho pela rua do centro, a avenida Rio Branco, onde tudo era fechado. Só
tinha casa de moradia naquele bairro. Tinha, bem para cá, um prédio que era o
mercado da Cidade. Mas já ficava distante de onde Nazareno estava. Deus guarde
sua alma. Pois bem. O homem atravessava uma rua pequena que sai de outra rua e
viu uma criatura toda vestida de noiva. Ela estava em desassossego pois corria
feito louca. A noiva saiu em debandada da rua e seguiu pela avenida (Rio
Branco) logo próximo a uma repartição. Parece que era a casa do Professor. Tudo
fechado. E o homem, assustado, viu aquela noiva a correr como louca e então
parou com temor.
Nazareno
--- Oxente! O
que é isso? – Indagou cheio de medo o rapaz
Noiva
--- O senhor
vai descer? – Quis saber apavorada a noiva.
Nazareno:
--- Claro que
sim. Para onde vai a moça? – Perguntou de olhos esticados.
Noiva
--- P’ra lá. – Apontou
o caminho do Alecrim.
Nazareno
--- Pois é o
meu caminho. A essa hora da noite não tem mais bonde. Eu vim lá de baixo, da
Ribeira. Longe que só. – Relatou já
perdendo o susto.
Noiva
--- Pois é o
meu caminho. Eu vou para lá. Se o senhor não se importa, podemos ir juntos. –
Nazareno
--- Pois tá
certo. A senhora veio de um casório? – Perguntou com dúvidas.
Noiva
--- Ah sim. Eu
sou a noiva. Tinha muita gente. E resolvi sair. Deixei o noivo roncando. – Sorriu
Nazareno.
--- Era aqui? –
Indagou o homem a apontar o caminho onde a moça, de imediato, saiu.
Noiva.
--- É bem ali,
a casa. Tem gente demais. E uns homens tocando violão. Eu perdi a calma e fugi.
–
Nazareno
--- Eu vou para
o Alecrim. Moro perto do Quitandinha. Logo após, nas Oficinas. Sabe? – Perguntou
apontando o longínquo bairro.
Noiva:
--- Eu sei onde
fica. O Quitandinha é um bar. Já está quase fechado. Mas ainda tem gente por
lá. O pessoal do interior. Gente pobre de Jó. A maioria dorme nos bancos da
praça. – Disse a sorrir
Nazareno
--- Eu sou do
interior. Mas faz muito tempo que eu moro na capital. Tenho mãe. Ela é
lavadeira. De manhã cedo, ela vem com suas peças lavar roupa aqui no riacho do
Baldo. – e apontou o riacho do Baldo.
A esse tempo,
Nazareno e a sua acompanhante, já estavam próximo ao riacho. E ambos seguiram
em frente a conversar asneiras. Coisas comuns de casamento e tudo mais. Já
estavam a subir a ladeira da Igreja (de São Pedro) onde não havia viva alma no
caminho a não ser uma padaria a cozinhar os pães, brotes e bolachas. E os dois,
animados, a conversar e apontar as casas de gente mais ou menos rica e a noiva
a falar já ter estado na Igreja para se confessar como preparação para o
casório. Ninguém por perto. Apenas o cemitério do bairro. E foi quando a noiva
passou em frente ao portão do campo santo que falou a Nazareno.
Noiva
--- Eu fico
aqui mesmo! – Sorriu e entrou pelo portão fechado a chave ponde fim o caminhar.
O rapaz,
apavorado com tamanho medo, desabalou em sua caminhada a pedir socorro a
ninguém até chegar, quase morto, ao bar Quitandinha. E lá, deve tempo de falar.
Nazareno
--- Eu vi uma
assombração. Uma moça. Uma noiva. – E caiu no chão
Noêmia:
--- Virgem!?
Uma morta noiva! – Indagou alarmada
Noca:
--- Pois é.
Minha avó contava essa história. Tu ainda tens dúvidas!? – Perguntou cheia de
temor
Noêmia
--- Nossa! Eu
vou beber é um copo d’água! – E saiu correndo para fora da cozinha
Walquíria, que
estava a ouvir, indagou:
Sorvetinho
--- Que foi!? –
Perguntou plena de temor.
A chuva caía
copiosa sobre toda a capital.
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