- NAVIO ENCALHADO -
- 42 -
A VOLTA -
Quase meio-dia
e o celular de Walquíria tocou. De imediato, a moça atendeu. Era a sua comadre,
Dalva Lopes avisando está chegado em casa. A moça respondeu da mesma forma e
estava seguindo de taxi para a moradia onde residia, ela e o afilhado, Ciro. O
menino, Walquíria adotou desde pequena idade, talvez quando do seu nascer, por
conta de uma mulher desconhecida o deixou em um apartamento onde Dalva Lopes
residia naquele tempo, quase um ano passado. Na manhã quando o navio encalhou
numas pedras, Walquíria resolveu sair de casa e ir ter com seu avô contar o
ocorrido. Dalva, por seu lado, rumou para a praia de Sagi com a equipe da
Universidade onde ocorreu o caso do SMQueen, o navio petroleiro. De volta a sua
residência a mulher procurou falar com Walquíria, e essa ainda não chegara da
visita à própria família, na Cidade. Esse foi o caso
Com um pouco de
tempo, Walquíria chegou a residência e procurou saber detalhes do acidente com
a nau. Dalva tinha muito o que contar e pediu licença para ir ao banheiro. Logo
após, as mulheres teriam a conversa bastante longa. Enquanto isso, dona Noca, a
cozinheira, comentava com assenhora Noêmia o caso da Ribeira contada por sua
avó, quando ainda era uma moça dos seus 20 anos. A avó de dona Noca tinha vindo
com sua família da cidade de Panelas montada em jumentos, pois naquele tempo
não havia carro, a não ser de boi, coisa da moda dos engenhos de açúcar. Por
isso, a escolher, tinham as mulas e jumentos.
Noca
--- Minha avó
contava ter vindo morar em Natal quando moça. Ela e sua família. Irmãos, pai e
mãe. Certa vez minha avó contou que, no seu tempo, ela vendia tapioca, bolo e
beiju no Bairro da Ribeira. Era uma tirada e tanto. Quando moça, minha avó já
morava na Rua do Motor. Esse nome, a rua não tinha. Era apenas um arremedo de
casas, taperas, mocambos feitos de palha ou reboco. E assim, minha avó levou a
vida. No seu tempo, ela contava que existia na Ribeira, uma casa transformada
em pensão. E ficava na esquina da Rua do Comercio. A pensão dava para o rio
Potengi. Era muita gente a ficar pela rua à espera do trem. Nessa época, o trem
ficava do outro lado do rio. E quem precisava ir, tinha que esperar. Isso foi
no ano de 10. Ela contou, certa vez, um homem atacou uma mulher da vida e a
matou. Coisa triste! Bem na esquina da pensão. Veja só! Ele se chama Maria
Rita, mas tinha o apelido de Tanajura! – Sorriu.
Noêmia:
--- Tanajura?
Que coisa! Parece uma abelha. – Respondeu sem sorrir.
Noca:
--- Pois é!
Mulher da vida tinha o nome que se colocava. Essa vivia bêbada. Era um pé lá e
outro cá! Bêbada! Coisa triste! Mulher bêbada! E eram muitas assim. Todas. Quem
vivia assim só podia beber! E era cana mesmo! –
Noêmia
--- Na minha
terra, mulher não bebe. Agora, homem! Esses vivem que só Deus sabe. – Confessou
Noca:
--- Homem é um
pau d’água. – Falou sem sorrir.
Noêmia
--- Não sei que
gosto tem! – Afirmou torcendo o rosto
Noca
--- É doce, a
cana. É feita quando se tira o açúcar da própria cana. Por isso é que chamam
cana.
Noêmia
--- Disso eu
sei. Os escravos, eles descobriram a cachaça espremendo a cana. –
Noca
--- Pois é. P’ra
você ver. –
Nesse instante,
Walquíria com Dalva. A mulher terminara o banho e foi pegar o seu filho, Ciro e
comentou o desastre da nau.
Dalva:
--- Coisa
triste! Muita gente morreu por conta das ondas. Casebres destroçados. Só ficou
a ruína. O povo entristecido. É coisa de fazer dó! O navio encalhou nas pedras.
Ele foi jogado pela onda, disse o piloto. E foi mesmo! Uma onda gigantesca! O
navio é qualquer coisa de dez andares de altura! Um monstro! Eu não vi o outro
lado da nau! Ela ficou envergada! Caída assim para um lado. Os embarcadiços
foram tirados em escadas de cordas! Quarenta homens. Todos eles machucados. O
navio é um monstro. Eu vim almoçar e volto para ver o acidente. Nós estamos
tomando notas do ocorrido. – Entristecida.
Sorvetinho
--- Mas. ....
Como foi que se deu essa tormenta? – Quis saber de maiores detalhes.
Dalva
--- O piloto
comentou ter havido um maremoto muito forte. E em seguida a onda gigante
arrastou o navio até as pedras. –
Sorvetinho
--- Nossa Mãe!
E não deve jeito de inverter a rota? – Espantada
Dalva
--- O que!? O
mar é enorme! Um navio na frente dele, por maior que seja, não passa de um
palito de fósforo! Uma coisa bem miúda! Nem um palito! Algo sem nenhum tamanho!
Ora! –
Sorvetinho:
--- Não entendo.
Mas, o navio está cheio de óleo? –
Dalva
--- Sim. Porém
está sangrando. Porém pouco. Ele adernou. Os tanques, ó? Tome o tamanho de cada
um!
Sorvetinho
--- Quarenta
homens? Que horror! – Comentou com tristeza.
Dalva
--- É o tamanho
da embarcação. Tem uns com menos
tripulantes. Trinta, por exemplo. –
Sorvetinho:
--- E não tinha
socorro por perto? – Indagou a alimentar dúvidas.
Dalva
--- Socorro?
P’ra que socorro? Se tivesse outro, afundaria! Eu não estou dizendo!? O socorro
que um navio tem é chamar pelo rádio! – Articulou exasperada
Sorvetinho
--- Foi por
isso que a Marinha chegou logo. – Pensativa.
Dalva
--- E demorou
demais! Demorou demais! A velocidade de um navio da Marinha e vagarosa em
comparação a um carro de luxo que percorre a estrada. Além do mais, uma Corveta
não dá para assistir socorro a muita gente. –
Sorvetinho
--- Qual navio
que foi socorrer? – Indagou
Dalva
--- A Marinha
foi de carro mesmo. Depois é que veio a Corveta. É uma loucura! E a Polícia
estava no meio com uns brutamontes truculentos. Uns gigantões. Chegaram muito
tempo depois! –
Sorvetinho
--- Imagino!
Para prender bandidos, eles não dão o menor valor. Agora mesmo, uns bandidos
massacraram cinco mulheres dentro de um bordel, e não apareceu um, p’ra fazer
um chá. - comentou aborrecida
Dalva
--- Foi o caso
de Assú? - Indagou
Sorvetinho
--- Isso aí.
Perto de Assú. - Abusada
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