- TEMPESTADE -
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Dona Noca, a
cozinheira, deu as suas informações por onde já havia trabalhado, em casas de
grã-finos, uma vez embaixador conhecido pelo nome de doutor Aldo, e mais
notáveis burgueses, os quais viviam na capital, inclusive um a atender pelo
sobrenome esquisito que a mulher não sabia dizer. Talvez fosse Guglielmo Lettiere
e em sua mansão, os ladrilhos eram todos feitos com a Cruz Suástica, do tempo
de Adolf Hitler, líder germânico, homem tirano chamado de Fuhrer.
Noca:
--- Eu era
pequena, nesse tempo. Nem me lembro. A minha mãe é quem conta. O casarão ficava
na Rua das Virgens, no bairro da Ribeira. Ainda me recordo quando eu trafego
pela rua. –
Dalva
--- Eu ouvi
falar nesse homem. No tempo da aviação. Dizem que ele hospedou os tripulantes
de um avião da Rússia. –
Sorvetinho:
--- A Rússia
não é um País comunista? – Indagou surpresa
Dalva;
--- Era. Era.
Hoje, não é mais. Os comunistas debandaram. Hoje é Rússia, apenas. –
Sorvetinho:
--- Virgem! Que
esculhambação! Eu, heim? – Fez a moça.
Noca:
--- Pois é. A
Ribeira tem muita história. O povo rico da cidade, todo mundo morava na
Ribeira. A Cidade só tinha pobreza. –
Dalva
--- Mas tinha
gente importante para esses lados. –
Noca:
--- Uns dois ou
três. Meu avô conta que na Cidade só tinha a Matança. Era na Avenida Rio
Branco, onde hoje é o Banco do Brasil, no centro. –
Sorvetinho
--- Meu avô
conheceu a sede da prefeitura. Era uma casa bem baixinha. No outro canto, tinha
um Cinema. O Royal. Fez sucesso. –
Dalva:
--- Eu sei bem,
por ouvir falar, a casa do presidente João Café. –
Noca:
--- O Véu de
Noiva? Mas o presidente, quando era pobre, morou na Rua 15 de Novembro, antes
de ser transformada em rua dos lupanares. –
Sorvetinho:
--- Lu o que? –
Indagou com cara franzida.
Dalva
--- Covil de
Lobas. É do tempo de Roma Antiga. Prostibulo. – Sorrio
Sorvetinho:
--- Ah, sei!
Rua das Putas! – e gargalhou.
Noca:
--- As pobres
coitadas faziam a vida alí. E na Quarentena, para bem falar. –
Sorvetinho:
--- Quarentena?
Um beco da Ribeira? - quis saber mais.
Noca:
--- Sim. No
tempo antigo. Minha avó fazia bolo, cuscuz, tapioca na feira da Tatajuba, na
esquina de cá. Depois se construiu o Mercado e acabou a feira. –
Sorvetinho
--- E onde era
esse Mercado? – Quis saber.
Noca
--- No fim da
rua para o lado que tem o Distrito Policial da Ribeira. Sabe? – Perguntou.
Sorvetinho:
--- Não. Só
conheço o Distrito da Cidade. E por fora. – Gargalhou, dando a entender nunca
ter sido detida.
Noca;
--- A senhora é
bem nova. Eu já vi esse distrito. E outros. Não precisei ser detida. Na praia
do Meio tinha um. –
Dalva
--- A senhora
mora na praia? –
Noca:
--- Na rua do
Motor desde que vim ao mundo pelas mãos de dona Zefa. – Falou com voz trêmula.
Dalva:
--- E tinha
médico nesse tempo? – Perguntou curiosa.
Noca:
--- E deu
tempo? Todos os partos foram apanhados por dona Zefa. Era a parteira da região.
Até na Dois de Novembro e no Tirol. A mulher era segura nas mãos. – Falou com
sobriedade.
Sorvetinho:
--- Hoje, não
tem mais mulher desse timbre. – Comentou a sonhar.
Noca;
--- Não tem?
Ora não tem! Vá para o mato. É só o que se acha. Parteira. Tem de ruma! Até
soldado de polícia! Tem um “meganha” que vive de fazer parto para os lados do
Rego Moleiro. É tiro e queda. As mulheres chegam ficam a falar: “Me aguarde”. –
E sorriu.
Dalva
--- É verdade.
Na fazenda do meu avô tem um velho que vive de fazer parto. - Argumentou a
sonhar.
Sorvetinho:
--- Esse teu
foi com o velho? – Curiosa.
Dalva:
--- Não. Foi
puxado a ferro. Estava enlaçado. Quase que fiz cesariana. – Lamentou.
Sorvetinho.
--- Ele está um
peralta! – Sorriu.
Dalva:
--- Puxa ao
pai. – Lamentou por não ter mais o pai.
Noca;
--- E o pai? –
Quis saber.
Dalva:
--- Morreu.
Acidente de carro! – Declarou.
Noca:
--- Tão jovem
assim! –
Sorvetinho:
--- O pai dele,
agora, sou eu. O meu mimoso. Vou ver se acordou. Conversem! – e saiu da sala
E as mulheres
ficaram a conversar. Dalva mostro os locais de comidas e declarou se Noca sabia
fazer comidas excepcionais, para atender aos seus velhos amigos em ocasiões de
maior festejo, como da festa e natal, aniversários, feriados e na época junina.
A mulher respondeu:
Noca:
--- É só dizer
como quer o peru. – Sorriu.
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