- ONDAS -
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WALQUÍRIA -
Na manhã
daquele dia, Walquíria resolveu ir até a residência do seu avô contar o sabido
com o navio petroleiro encalhado nas pedras da praia de Sagi, litoral sul do
Estado. A moça não sabia de muito, a não ser o dito pelo pescador, o confirmar
pela mãe de Ciro, a senhora Dalva e conversas outras tidas com dona Noca, a
cozinheira da casa. Foi Noca quem ouviu o pescador relatar o caso do navio.
Mas, a senhora Dalva Lopes Baldo foi à praia de Sagi com a equipe da
Universidade Federal para colher informes do havido. Apesar de não saber de
nada, Walquíria correu o mundo para falar, depressa, ao ancião José Afrânio
Beraldo, o seu avô e por consequência com todo o pessoal a residência. Na sua
viagem não muito longa, Walquíria foi de taxi em companhia do seu afilhado, o
menino Ciro, por conta de a moça ter sido a madrinha e ter tomado conta do
menino de manhã, de tarde e à noite. As ruas da capital já mostravam o seu
movimento bem diferente de antigamente, quando Natal tinha apenas casas de
moradia, na Cidade, e um mercado público com gente diversa na feira livre do
bairro. Era evidente ter casas, porém todas de morada, como nos anos do início
do século XX e mais para o começo da capital. Os nomes das ruas da Cidade Alta,
eram por demais interessantes. Rua dos Tocos, Da Lata (de água, pois pela rua
Santo Antônio passavam as mulheres para buscar água no Baldo, no tempo em que
não havia água encanada), das Freiras e, tempos depois, mudava-se os nomes de
diversas ruas da capital. Quando Walquíria chegou a residência de seu avô,
havia pouco movimento, onde estavam abertas as portas de uma padaria. E só. Por
ali, o povo comprava as necessidades da manhã em lugar de ir ao Mercado da
cidade onde era uma lonjura e tanto.
Sorvetinho
entro na residência do avô e foi logo dizendo, um tanto afogueada com o menino
Ciro no colo.
Sorvetinho
--- Sabe o que
ocorreu? – Indagou apreensiva.
O avô sorriu e
disse:
Zequinha
--- Um navio
encalhou. – O sorriu.
A moça se
voltou e quis saber:
Sorvetinho
--- Como o
senhor sabe disse? Ah. Já sei. O espiritismo! – Despachou
O ancião soltou
uma bela gargalhada e logo em seguida foi dizendo:
Zequinha
--- Mortos e
feridos não têm. Apenas apreensão. E o que mais? – Sorriu.
Sorvetinho:
--- Mais nada.
Eu quero é saber como ocorreu, e pronto! – Tirou o menino do colo.
Zequinha
--- Uma onda
gigante empurrou o navio para a terra e nada mais. – Falou sorrindo.
Sorvetinho
--- Como o
senhor sabe? O Rádio disse? – Indagou apreensiva.
Zequinha:
--- Nada disso.
O pessoal do Rádio nem sabe do ocorrido. Apenas os meus guias. Ou o caso não
foi assim? – Sorriu.
Sorvetinho
--- Sei lá se
foi! E agora? O que é que se faz? – Indagou aperreada.
Zequinha:
--- Nada.
Espera-se dois anos. Descarrega-se o cru – óleo – e deixa-se a embarcação a
servir de amostra. –
Sorvetinho:
--- Só? – Quis
saber de pronto.
Zequinha
--- Ou minha
filha. Se você procura-se saber de mim o ocorrido, eu não saberia ditar coisa
alguma do sucedido. Agora, eu sei. Não saiu por aí dizendo a todo mundo. Apenas
você perguntou. Do caso, eu soube quando você entrou aqui. Apenas foi assim. –
Sorvetinho
--- Eu não
entendo mais nada. Quanto mais aprendo, menos sei. – Declarou com voz amarga
Zequinha
--- Os casos
ocorrem. No meu caso, por exemplo, eu vejo, eu ouço, eu converso. Eu sei quando
é u espírito e quando não. Agora, quanto a você, eu não posso adivinhar o que
você não sabe ou deseja saber. É um caso estranho. Se eu vou morrer amanhã, eu
não sei. Disso, eu não de ninguém. Mas, um navio que perde o rumo, ah, isso eu
vejo. Por que, eu não sei. Eu sei quando alguém mente ou diz a verdade. Disso,
eu sei. Não adianta nem me dizer que ele está falando a verdade porque se é
mentira. Eu não me importo em saber se ele diz a verdade. Eu sei se é verdade.
Para muitos, a mentira é uma verdade. Eu até que admito. A verdade pode ser uma
mentira para alguém e não ser para outro.
No caso muito simples: Jesus! É verdade ou mentira? Esta é uma questão
base. Para muitos ele não passa de conversa. Mas para os Católicos é uma pura
verdade. É uma questão de dúvida. – Formulou.
Sorvetinho
--- E o senhor,
o que acha de Jesus? –
Zequinha:
--- Como
católico ou como ateu? – Quis saber.
Sorvetinho:
--- Vá lá. Como
católico. – Quis saber.
Zequinha
--- É uma
resposta difícil para você entender. Antes de Jesus houve outros. Mas Jesus foi
tido como um símbolo. Se ele falou o que dizem, outros falaram também. Mas não
se diz. E, por conseguinte, ao se sabe. Jesus não é o nome dele. É bem outro.
Mas ater a Jesus. Ele viveu num tempo difícil onde ninguém queria saber de um
caso ou de outro. Roma era o Juiz. Veja bem: Leões famintos para devorar os
Cristãos. O que você acha disso? – Indagou
Sorvetinho:
--- Acha como?
– Indagou surpresa.
Zequinha:
--- É certo ou
errado? –
Sorvetinho
--- Claro que é
errado. – Disse sem pensar.
Zequinha:
--- E uma
menina de 15 anos degolar um prisioneiro. E certo ou errado? – Quis saber.
Sorvetinho
--- Uma menina?
Pequena? Mandada a executar? – Indagou sem saber
Zequinha
--- Isso mesmo.
A menina se escancha no espinhado do homem. Um adulto. Bem moço ainda. Agora, é
inimigo da Nação. Isso certo ou errado. Veja bem: uma menina. Certo ou errado?
–
Sorvetinho
--- Depende. –
Aguentou com a resposta.
Zequinha:
--- Não depende
de nada. Ela degolou o prisioneiro. O mesmo ocorreu aqui, no Estado. Cinco
homens armados entraram em um cubículo e mataram quatro mulheres. Certo ou
errado? –
Sorvetinho
--- Por que
eles mataram? – Indagou a moça
Zequinha
--- Não importa
porque mataram. Eles, simplesmente trucidaram. É certo? –
Sorvetinho
--- Claro que é
errado. O que tem a haver com os leões? – Perguntou
Zequinha
--- Bem. Os
leões estavam famintos. Os famigerados do interior, estavam com sede de vingança.
Você tem em mãos dois ou mais casos semelhantes. Se um Juiz condena um homem
que roubou uma lata de cerveja em supermercado, que motivo ele tem para
inocentar um cidadão que mata um rapaz que lhe atrapalhou no transito e até
quebrou o retrovisor do seu veículo e até não o prendeu por ser réu primário?
Isso é certo? – Quis saber
Sorvetinho
--- Onde foi
esse caso? – Perguntou.
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