quinta-feira, 4 de maio de 2017

SONHOS DE MARILU - 04 -

- TIPOGRAFIA -
- 04 -
REDAÇÃO -


O carro seguiu caminho do Palácio para o bairro da Ribeira, descendo a ladeira da avenida Junqueira Aires e Marilu ouvindo a conversa de Lauro sobre jornais do Rio de Janeiro, São Paulo, e até mesmo do estrangeiro como Le Figaro e Le Monde, com certeza, a influência da imprensa das guerras e na paz em todo o mundo. As primeiras publicações como a Suméria, na Mesopotâmia e Acta Diurna, do imperador Augusto, em Roma. Tudo isso ela ouvia em silencio. Era um mundo novo que se abria com certeza para quem sabia apenas de carne e peixe, tapioca, pamonha e coisas simples da vida. E então seguiram viagem até a avenida Tavares de Lyra onde estava a redação do Jornal O Estado em um prédio amplo de dois andares pegando de uma esquina a outra. Veículos eram tantos que para se encostar o seu carro, o motorista teria que fazer imensas manobras. Os gazeteiros gritavam a todo pulmão as notícias mais alvissareiras do dia como “A Mulher que engoliu um Trem”! Isso era ponto forte para se vender um jornal do dia. Anciãs a oferecer seus quitutes, meninos a passar em zig-zag, correndo feito um louco, um bêbado a pedir uns trocados para comprar mais uma “cana”, casas de comércio, armarinhos, bebidas, Casas Bancárias, jogatinas, bares, carros novos ou seminovos, Igreja do Bom Jesus, tipografias, revistas da Casa Pernambucana, lojas da moda, sapatos finos, cinema, teatro, hotéis, farmácias e tudo mais o que se pensasse. Tudo isso a moça se admirava em ver. No final, Lauro estacionou seu veículo.
Lauro
--- Chegamos. Pode saltar. É aqui mesmo o Jornal. - - falou com calma
Marilu, tomada de surpresa pelo enxame de populares a correr de cima a baixo, via os navios lá ao fundo, no rio Potengi balançando com a maré cheia e os botes e lanchas se escorando ao cais da avenida Tavares de Lyra, oscilando a qualquer modo. Gente vinda de viagem da praia da Redinha. Homens a admirar o outro lado do mangue onde havia a Estação da Coroa, em tempos passado, um ponto de desembarque dos viajantes vindos de Ceará-Mirim para a capital. Homens com seus peixes às costas. Mulheres a agarrar seus filhos para o desembarque dos botes de travessia. Era o mundo todo. Marilu viu aquilo e apontou.
Marilu
--- O Cais do Porto. - - sorriu
Lauro
--- Dos botes e lanchas. Os dos navios de cargas e passageiros, ficam logo à frente. É só seguir pela Rua do Comércio, como era chamada a Rua Chile, antigamente. - - falou
Marilu
--- Eu conhecia desde moleca. Minha fazia café logo a frente, na Tatajubeira, aqui perto. - - expôs.
Lauro
--- Esse bairro tem histórias. E como. - - explicou
Logo a seguir, Lauro convidou a moça a entrar no edifício. Eles foram ver as máquinas de linotipos, rotativas, gravuras, impressão, chapas, linotipos em vários tamanhos, chumbos aquecidos, fotos, matrizes, clichês, máquina de compor na qual se fundem em um só bloco as linhas compostas, e todo o mecanismo necessário a manutenção do jornal.  A alma de uma oficina. Para Marilu, era maravilhoso ver tudo aquilo além dos homens a compor as suas chapas.
Marilu
--- Esse maquinário foi feito tudo aqui? - -
Lauro
--- De forma alguma. Esses equipamentos foram adquiridos da França.  Todos eles. Mas tem de outros países, como Portugal, Inglaterra, Itália e principalmente Alemanha. - -
Marilu
--- E como vieram? - -
Lauro
--- Esses aqui vieram desmontados. Os técnicos, foram eles que montaram e ensinaram como se fazer os jornais. - -
Marilu
--- Um trabalho e tanto! - - relatou com cuidado
Após passear pelo o parque de impressão, Lauro convidou Marilu a subir ao primeiro andar onde estava a sede do jornal onde os repórteres batalhavam para conseguir em primeira mão o que fora ainda mantido em sigilo: a Redação. Era ali onde todos os segredos viravam notícias. Era cedo ainda. Na redação via-se apenas dois repórteres a trabalhar. Um, ao telefone. O outro redigindo matérias em primeira mão. Lauro entrou na sala e cumprimentou os presentes. De vez, apresentou a moça Marilu dizendo ser uma visita ilustre. Os cumprimentos foram saudados a Marilu. Ele ainda mostrou a biblioteca na outra sala, o arquivo de jornais antigos, a sala de revisão dos jornais do dia entre outros setores. Em seguida, Lauro abriu uma porta onde se via o nome de Diretor. Era naquela sala que o homem trabalhava.
Lauro
--- É aqui que nós ficamos. - - relatou sorrindo
Toda contente a moça já sentia o calor da imprensa a seus pés. E falou:
Marilu
--- Para se ocupar um cargo de jornalista é necessário se conhecer tudo isso? - - quis saber
Lauro
--- Necessário, eu não digo. Mas, para ser um jornalista completo é bem melhor conhecer de tudo um pouco porque senão ele vai virar para si um bobo da corte. - -
Marilu
--- Nossa! Quanto tempo em levo para saber o que é um jornal? - - indagou
Lauro
--- Antes de tudo você vai precisar saber escrever. O que vai escrever. Como se deve escrever. Eu vejo casos cruéis onde o repórter noticia em uma matéria casos com “muitos”. Ora! O que são muitos? Ninguém saber dizer. Bem melhor seria dizer um número para se ter uma ideia. E não: “muitos”.
Marilu
--- Verdade. É até aborrecido esse vocábulo. Muitos. Muitos! Soa mal. - - relatou
E o dialogo prossegui por várias horas com o professor a determinar casos pueris, como nome de ruas onde nem sempre é o mesmo. E então explicou que o jornalismo é o processo de comunicação de um assunto em razão de um meio qualquer. O jornalismo é concluído pelo processo de entrevista entre o profissional e o entrevistado.
Lauro
--- A partir da invenção de Johannes Gutenberg, em 1447, surgiram jornais modernos, que tiveram grande circulação entre comerciantes, para divulgação de notícias mercantis. - - explicou
Marilu
--- Nesse tempo havia outros jornais? - -
Lauro
--- Lógico. Havia os jornais sensacionalistas escritos a mão. Tivemos jornais sobre Conde Drácula. Em Veneza, o governo lançou o “Notizie scrite” conhecido como “gazeta”. Mas, um pouco além, nos anos, surgiram “O London Gazette”, lançado em Londres, Inglaterra, na Suécia, Alemanha, França. A notícia é um formato de divulgação de um acontecimento por meios jornalísticos. - - enfatizou 
Marilu
--- A guerra é o melhor meio de divulgação? - - indagou
Lauro
--- Não só a guerra como os acontecimentos sociais. Políticos, econômicos, culturais e naturais. Guerras e golpes de estado tem o seu valor. –
Marilu
--- Foto de morte macabras! Horrível! - - torceu o rosto
Lauro
--- Mas tem casos em que o ser fotografa a sua própria morte! - - sorriu
Marilu
--- Tem meios de se saber a notícia? - -
Lauro
--- Sim. Tem. É o seguinte” para o repórter: O que, Quem, Quando, Onde, Como, Por que? Esses são os destaques. - - explicou      


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