sábado, 6 de maio de 2017

SONHOS DE MARILU - 06 -

- CADÁVER -
- 06 -
CADÁVER 

Após tomar informações de todo o conteúdo onde morreu o ancião Tarugo, a jovem Marilu voltou à redação do jornal O Estado temendo ter espado de algo que não anotara, por descuido. E assim ela conversava com Canindé o que mais havia no Forno do Lixo para se falar além da morte do ancião. E por isso, Canindé foi ditando a questão de lixo humano encontrado nos hospitais, nos mercados, nas residências e em vários pontos da cidade. Lixos que têm vários aspectos. Os resíduos domésticos, sólidos urbanos, industrial, hospitalar dentre os mais.
Canindé
--- As crianças são as mais vulneráveis. Você viu uma criança comendo um bolo de chocolate apodrecido? - - perguntou
Marilu
--- Confesso que não observei. - - assustada
Canindé
--- Tinham mulheres mal arrumadas catando o lixo. Nós vivemos em uma sociedade que consome muitos recursos. É a sociedade de consumo que consome muitos produtos, como carros, enlatado, bebidas e livros. Mas nem sempre foi assim. Durante a II Guerra Mundial, os materiais e recursos eram escassos. Em nosso país há pessoas que sobrevivem com a reutilização do lixo. Até mesmo para se alimentar de coisas podres. Você viu as verduras apodrecidas? - - indagou
Marilu
--- Isso eu vi, mas nem prestei atenção. Só olhava para o defunto. - - preocupada
Canindé
--- Nem viu os urubus? Ratos, porcos, cães. A cidade cresceu demais. E as pessoas de bem querem ter uma boa alimentação e artigos de luxo. A população rural deixou o campo em busca da vida na cidade. Pense nisso. - -
Marilu
--- Isso é o que se chama de penúria para os pobres, miseráveis, degredados. Eu estou a entender agora. - -
Canindé
-- É isso e muito mais. Eu, por ser negro, não posso morar em uma casa de luxo. Tenho que residir em uma tapera. Os ricos, esses podem. Tem dinheiro. Esbanjam. Comem bem e de tudo. Os pobres, miseráveis, vivem do lixo, das sobras. –
Marilu
--- Como você é cruel! - - falou ressentida
Canindé
--- Essa é a verdade. Observe o que você joga fora todos os dias. Latas de bebidas, saquinhos de restos de comida, papeis, garrafas. Coisa assim você encontra na lata do lixo. Tudo o que não se consome é refugo. - - explicou
Marilu
--- Na sua opinião o que se deveria fazer? - -indagou
Canindé
--- O que é refugo joga-se fora. Mas, não deixar para a gente pobre em condições comer. O pobre deve ter melhores condições de viver e de sorver os alimentos. Não, tirar do meio do lixo entre ratos e urubus. - - com ênfase
Marilu
--- Nisso, você tem razão. Mas, como então se deve fazer para o pobre evitar o lixo? –
Canindé
--- Do jeito que a coisa vai, a solução é matar o lixão, mesmo. Mas, para se evitar o negócio é tirar o pobre do lixo e comanda-lo para um setor adequado e evitar ter o pobre apenas o lixo para devorar com ânsia. Não se mata a fome comendo lixo. - -
Marilu
--- Isso é difícil. Muito difícil. A pobreza é uma condição de vida. Eu vejo, no mercado, o pobre comendo lixo do lado de fora, na calçada, onde se deixa monturos de frutas, carne de gado, galinha, até mesmo de suínos. - - imaginou de repente
Canindé
--- Isso, reflete a desigualdade social entre a população. Ricos, mais ou menos e apenas miseráveis. Gente carente do interior que vem para a cidade. - - relatou
Marilu
--- Também tem a seca que assola o interior. Bichos mortos. Os fazendeiros não dão comida a ninguém. - - disse ainda
Canindé
--- Tem crianças, pequeninas, pedindo esmola de qualquer coisa para matar a fome. Meninos, mesmo além de pobres mendigos. Gente humilde. Velhos e crianças. Gente procurando sobreviver do lixo. - - falou com certo desprezo à riqueza.
Marilu
--- E essa matéria, por onde eu começo? - - indagou
Canindé
--- Eu acho melhor começar pelo defunto. Faça uma inteligente matéria. Depois, faça a outra, do Forno do Lixo. Duas. Separadas. Bem distintas. - - respondeu
Marilu
--- É mesmo. É o que vou fazer. Faço uma e, depois, faço a outra. - - falou a moça.
Com isso a moça se aquietou. Pensava muito de como iniciar a matéria do morto vindo na manhã bem cedo entocado na carroçaria do caminhão coletor. Teve que ver outras matérias iguais ou semelhante de formas ser possível iniciar o seu assunto. E de vez Marilu começou desse modo: Cadáver do Forno do Lixo. Estava iniciado o assunto. E então Marilu relatou em todos os pormenores o achado macabro do meio do lixão que o caminhão coletor despejou entre montes de outras matérias, como carnes podres, peixes estragados, apuros e porção de frutas podres. Seu nome foi identificado por José Meira conhecido simplesmente Tarugo. Ele era um mendigo dos seus sessenta anos e vivia a catar lixo pelas ruas da cidade. O mendigo vivia nos lixos catando o que podia para saciar a fome ingrata pela qual passava. Já nem sabia dizer o seu nome ao certo e pensava que a sua sobrevivência dependia do que podia colher. Entre restos de comidas era tudo que ele consumia do lixo comum. Tarugo já nem posava mais em papelão, pois o lixo comestível era bem melhor. A sua mulher era outra a catar os lixões. A mulher, seus filhos, genros. Todos afinal. A moça progrediu até o final da página. Mostrou a matéria ao fotografo e esse deu algumas pistas para por demais encorajar o assunto. Ela concordou e voltou a teclar. No fim, deu por certo.
Marilu
--- Pronto. Acabei. Vamos ver o que o chefe tem a dizer. - -
Canindé
--- Ele, nada vai falar.
Marilu
--- E agora? - - quis saber
Canindé
--- Faça a outra. A do menino catando lixo. - -
Marilu
--- Criança catando lixo. É melhor. Vamos à frente. Essa é forte. O lixo está matando nossas crianças. Esse é o início. - - declarou contente
Canindé
--- Muito bem. É assim que se faz. Para frente. - - sorriu
Marilu
--- Nem ache graça. Eu vou ver como faço. - -
Canindé
--- Conte a história do menino. Invente. Crie. Faça qualquer coisa. Eu tenho as fotos. –
Marilu
--- Ótimo. Vou fazer. - -
Canindé
--- Quer saber? Um nome. Neném! Era como se chamava o pequeno. Eu ouvi a mãe dele falar. -   
       

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