- PORCOS -
- 08 -
MATANÇA
Podia ser na
Índia. Podia, mesmo assim não era. A matança de animais, como o gado, o porco,
bode, carneiros, todos eles eram feitos em Natal, no Rio Grande do Norte. O
local era mesmo a Matança e o local era na Cidade, próximo à curva que levava
ao Alecrim. Ali havia além de se matar o gado, também a profissão da
Salgadeira. Esse nome era como se entendia: salgar as tripas do boi, do bode,
do porco dentre outros animais domésticos. Mais além, barreiro abaixo, tinha
outra matança. Na Curva do Trem também se sangrava porcos, bodes e até mesmo
vacas. Era o oficio do homem. Depois de sangrar, pelo menos o porco, fazia-se a
limpeza, o tratamento do animal já morto. Se era cruel no passado, em tempos
recentes também é tão abominável como em qualquer época. Se ninguém sabia,
antes, era bom ditar em dias recentes.
Marilu
--- Eu vi um
homem matando um porco no Forno do Lixo. - - relatou.
Lauro
--- Isso é
terrível. Mata-se porco, bode, carneiro e mesmo peru em qualquer ponto do
mundo. E a pessoa come e gosta. Acha bom aquele assado. - - desanimado
Marilu
--- E vende a
cabeça do bode até mesmo no mercado da cidade. - - destacou
Canindé
--- Ela, crua
tem um sabor horroroso! Parece o Cão! - - falou com certeza.
Lauro
--- Bode!
Parece até o Baphmet. O Bode maçom! - -
Marilu
--- Quem é
esse? - -
Lauro
--- É um bode.
Criatura com cabeça de bode e corpo humano. Um Mistério da Franco-Maçonaria. Os
adoradores de Baphmet. Os maçons adoram o seu Baphmet. Eles usam no peito.
Alguns. - - dialogou
Canindé
--- O Bode da
Maçonaria! Eu já vi! - - disse o homem
Marilu
--- Então? - -
perguntou
Lauro
--- Então o
que? - - indagou o chefe
Marilu
--- Faço ou
não faço? - - e entronchou os olhos.
Lauro
--- Tenho
horror a porco! Não quero nem sentir o cheiro dele com vida, quanto mais,
morto. - - antipático e baixou a cabeça no birô.
Marilu
--- É um
animal até doméstico. Come no terreiro. Mija, defeca. É normal. E se mata o
bicho para se comer. - - sorriu
Canindé
--- Coitadinho
do porquinho. Ninguém o ama. Mas todos saboreiam. - - gargalhou
Lauro
--- Espere o
resultado da primeira matéria e logo após, siga em frente. Quero ver a reação
do Vereadores. Vai haver um enxame por aqui, assim penso. Espere e faça em
seguida.
Marilu
--- Enquanto
isso vou seguindo a carruagem. Certo? - - indagou
Lauro
--- Eu penso
que vai dá bode. Um bode daqueles! Vamos à frente. - - pontualizou.
No dia
seguinte, Marilu visitou o encharcado da Curva do Trem onde se matava bodes,
porcos e até mesmo gado. Devagar, a moça ficou a olhar a morte dos suínos com
cada tacape no gargalo. Nessa ação estavam incumbidos os garotos de 15 anos e
mais ainda atingindo até 50 anos. Cada foiçada, era um morto. Eles nem se
importavam com o guinchado dos animais se debatendo, pendurados pelas pernas.
Do outro lado, eram os bodes, carneiros e mais adiante, a boiada. Matava-se
como se mata barata ou mesmo sapo. O Trem passava e isso nem ligava aos
matadores dos porcos e dos bodes. O boi ficava para mais adiante. Cada foiçada
era um estrebuchar da dor da morte. Daí em diante se ia para fazer o descarne e
as tripas dos animais. A mortandade era cruel. Para os carrascos, não havia dó
nem piedade naquela santa inquisição. Sacrificava-se dezenas de suínos, bodes, carneiros
além do gado, diariamente. Era algo tão normal que apesar do sacrifício, os
garotos de 15 anos se molhavam todos de sangue e nem por isso sentiam as dores
dos porcos já espichados ao solo. E foi assim que Marilu começou a sua matéria:
“Santa Inquisição”.
Com esse tema
Marilu descreveu toda a angustia sofrida pelos suínos na hora da sua morte hedionda.
Dezenas de pessoas se reuniam para assistir a luta brutal entre os carrascos e
os porcos. Cada qual corria para cima quando o suíno já estava morto. As
mulheres e mocinhas catavam os fatos em bacias para, logo após, fazer o uso da
fornalha e descascar os vermes apodrecidos. Eram “as rinhas dos porcos”. E não
era daquele instante que os porqueiros viviam imerso em uma sucessão de mortes.
A imagem dos animais em decomposição do rio Potengi era do mesmo modo fantástico.
A imagem dos animais aparecia quando o rio começava a entrar no oceano. Gente
pobre da maré consumia as entranhas dos porcos pelo direito de sobreviver.
Dezenas de pessoas corriam como cães a apanhar os resíduos dos porcos.
E foi assim,
que Marilu fez a sua matéria sobre a matança dos suínos lembrando de ter mais
assunto no demais municípios do interior. Dessa forma, voltou à noite a
redação. Uma zoada ensurdecedora se ouvia correr pela rua. Equipes de homens,
vereadores, protestavam por conta da matéria da criança comendo lixo. Ouvia-se
absurdos dos expoentes da Prefeitura e o aviso de que aquilo não ficava assim.
O caso seria levado ao Prefeito de Natal. A moça pediu licença e adentrou no
prédio temendo algo que pudesse ocorrer.
Canindé
--- É bronca!
Tenha cuidado. Veio o telefonema do velho Senador Almeida. Ele mandou
prosseguir com esse assunto. - - teceu o homem
Marilu
--- Quero
saber o que o senhor Lauro tem a dizer com a nova matéria. - - relatou
Canindé
--- Eu já
tenho as fotos. - -
Marilu
--- Ótimo.
Vamos à frente. - - e ela subiu a escada.
Quando
adentrou à sala da Direção, não encontrou o senhor Lauro. Ela esperou um pouco
mais até ver o homem se aproximar. Ele veio cheio de ira, falando bravo contra
tudo e todos. De repente, ele notou a presença de Marilu. Logo foi indagando de
forma embrutecida.
Lauro
--- Onde está
a matéria? - - falado assobrado
Marilu
--- Está
comigo. Esse é mais pesada. Veja. - -
A matéria
pegou duas páginas e meia. O homem leu todo o texto e após perguntou.
Lauro
--- Tem fotos?
- -
Marilu
--- Sim. Com
Canindé. Foi ele quem informou. - -
Lauro ligou
primeiro para o seu pai e confirmou ao velho ter fotos e matéria sobre novo
assunto. Leu em seguida em todos os detalhes o conteúdo. Então, Lauro ficou a
espera. Demorou um bocado para o velho falar.
Senador
--- Mande essa
menina para cá. Vamos viajar a Paris! - - confirmou
Lauro
--- Agora? - -
Senador
--- Mais que
de imediato. - -
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