- RIO DE JANEIRO -
- 09 -
VIAGEM
Logo após o
telefonema, Lauro declarou a Marilu ser desejo de que ela viajasse para o Rio,
com ele, era evidente, pois o velho Senador estaria de viagem marcada para
Paris, a capital da França. E desse modo queria ouvir a opinião da moça em
viajar tão logo cedo, ainda sem idade de maior. Queria saber a opinião de sua
mãe, dona Noca, pois pensaria nessa viagem ao exterior. A sua mãe nem sabia ler
ao contento, porém tinha uma sagacidade tremenda para definir o que ela pensava.
Mulher do interior, mesmo assim não pensava como uma “beradeira”. Tinha os seus
quentes para dizer quando fosse preciso.
Marilu
--- Mas agora?
- - perguntou assustada.
Lauro
--- É o
pensamento do Senador. - - declarou
Marilu
--- Mas ainda
eu estou estudando. - - refletiu
Lauro
--- O Senador
sabe disso. - - destacou
Marilu
--- E o
senhor? - -
Lauro
--- Você vai
comigo. Paris é um outro centro de cultura. Veja se aceita! - -
Marilu
--- E a
matéria? - -
Lauro
--- Sai
amanhã. Vamos? Tem carro e comida. Vestido, isso nem se fala. Tem o que você
quiser. - -
Marilu
--- Ai meu
Deus! Eu me meto em cada uma! - - chorou
A mocinha
chegou em casa à noite, mais tarde, e a sua mãe já estava preparando o material
para o outro dia. Já estava em sua casa, uma ajudante, que Marilu conhecia há
algum tempo do mercado da Cidade. Marilu deu boa noite e foi logo dizendo que o
jornal precisava de sua experiencia e o Senador Almeida mandou chamar com certa
urgência e ela não podia dar negativa. Marilu sentiu-se suspensa no ar e queria
saber de sua mãe se ela aprovaria a ida da moça.
Noca
--- Mandou
chamar por que? - - fez cruz com os braços presos a cintura.
Marilu
--- Ora mãe.
Lá é uma casa de comercio! - - relatou
Noca
--- Comercio
de que? Você tem nem mesmo 18 e já quer ganhar a vida? - - quase brava
Marilu
--- Ganhar a
vida, isso nunca. A direção precisa de mim. Eu só quero a sua permissão –
Noca
--- Minha
permissão para ser puta? Quem precisa de permissão para dar o rabo? - -
A moça ficou
colérica. E disse a mãe.
Marilu
--- Não faço
dessas coisas. A senhora vai dar permissão ou não? - - com ênfase
Sueli
--- Noca, a
menina é ainda de menor. Precisa você consentir que ela vá. - -
A mulher calou
e se virou para consentir.
Noca
--- Diga a seu
chefe que venha falar comigo. Amanhã. E se puder! - - falou um pouco brava
Marilu
--- Ele vem
falar com a senhora. Pode acreditar. Amanhã logo cedo do dia. – - falou com
humildade
Na manhã do
dia seguinte, Marilu não foi ao Jornal. Ela ficou no Café esperando a visita do
seu chefe, Lauro. As suas pernas tremiam só que vara verde. Alguém pedia café e
ela levava pamonha. Estava em estado nervoso que nem Deus sabia. As horas
passaram e chegou às 7 e meia. E Marilu olhava para fora vendo de Lauro surgia
da frente e de traz do Mercado sendo que nada ocorria. Um baque se deu. Um
pacote de jornais de dia. Ela, espantada quase foi ao chão. Um homem falou.
Jornaleiro
--- Jornais do
dia. - - disse isso e saiu correndo para
outros cafés
Dona Noca
observou aqueles jornais. Ela nada sabia ler. Apenas gaguejou. E viu a foto de
porcos. A mocinha, de repente, agarrou o seu jornal. Ali estava a matéria dos
porcos para se ler. Marilu ficou inquieta colhendo tudo o que estava em duas
páginas e meia. Era a matéria que ela escrevera na tarde/noite daquele dia.
Quase desmaiando de contentamento, a moça gritou.
Marilu
--- Aleluia! A
matéria está esplendida! Veja! Veja! Foi eu que fiz! A Morte dos Porcos!
O povo que
estava nos Cafés do Mercado, todos buscaram ver os corpos mortos dos suínos
levados pelo rio saindo para o mar. De imediato, o Mercado parou. O jornaleiro
saia gritando para quem não tivesse visto ainda que ali estava a história dos
porcos executados na Curva do Trem. Dona Noca, parada, com a mãos nos quartos,
apenas soletrava.
Noca
--- O que é
isso, gente! Porcos? Ora quem já viu! Prá mim basta! – - relatou sem
importância
Marilu
--- Minha mãe,
essa matéria foi feita por mim! - - gritava de alegria
Noca
--- Tanto faz.
Eu como porco quando posso! - - aborrecida
Nesse momento,
Lauro, o Diretor do Jornal, chegou ao Café. Entre cumprimentos aos demais, deu
um beijo da mão de dona Noca. E em seguida, perguntou.
Lauro
--- Como tem
passado, minha senhora? Cumprimentos a todos! - - declarou sorrindo
Noca
--- É o senhor
quem vai viajar? - - aborrecida
Lauro
--- Sim. O
Senador quer conhecer a sua filha. - - sorriu
Noca
--- Bom.
Basta! Essa megera? Não vejo graça nisso. - - e atravessou o Café
Lauro
--- Mas é
importante. Tanto para Marilu como para o Senador. É por isso que peço a
senhora em permitir que eu a leve nesse caso. - -
Noca
--- Eu? Por
mim pode levar! Tome cuidado! Se não, se não! - - apontou-lhe o dedo
Marilu
--- Minha mãe,
é só uma viagem. Confie em mim. - -
Noca
--- Vou
confiar. Mas com olho aceso! - - falou passando o dedo no nariz
Lauro
--- Não tem
importância. Afinal eu não sou de brincadeiras. Falo sério. - - fechou o riso
Noca
--- Fala sério
mesmo? - - trancou o rosto.
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