- RIO DE JANEIRO -
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O RIO
Menos de uma
semana após ter feito o pedido a dona Noca de viajar com a sua filha Marilu, o
senhor Lauro já viajava a bordo de um avião de transporte de passageiros em
companhia da jovem senhorita. Para a moça, aquele voo era, na verdade, um sonho
onde apenas os pássaros podiam alçar. A caminho do Rio de Janeiro, a moça
delirava de contentamento. De cima podia ver a Terra. Algo maravilhoso. Em
quando tempo, ela nem sabia contar. Subida e descida se torno costumeira
durante o percurso. Talvez 8 horas ou 10. Para Marilu, tudo era conforto. Um
sobe e desce que fazia a moça tremer de susto. Percorrer as capitais do
Nordeste em um ensurdecedor ruído era por demais saltitante. Paraíba, Recife,
Maceió, Aracaju, Salvador.
Lauro
--- Estamos
pertinho de chegar. Uma parada em Vitória, Espirito Santo, e depois o Rio de
Janeiro. - - relatou sorrindo
Marilu
--- O Rio.
Deve ser maravilhoso. E vi todo ele por uma revista especializada da Agência
Pernambucana, por esses dias. Lindo o Rio. - - sorriu.
Lauro
--- Verdade.
Muito belo. A Urca é uma maravilha. Apenas só se vendo. Até mesmo o Bondinho do
Pão de Açúcar. - -
Marilu
--- Se minha
pudesse vir, ela teria uma outra visão. Ela nem sabe como é belo tudo isso
Lauro
--- Uma mulher
do mato. Não sabe nem falar. Coitada. –
Marilu
--- Mas tem
irmão que viajaram para o Rio. E nunca mais voltaram. Nem sei se ainda voltarão
dessas bandas.
Lauro
--- Não dão
nem notícias? - -
Marilu
--- Nada.
Nada. Eu ouvi por informe que ele está trabalhando em uma fábrica não sei de
que. Um. O outro não se tem notícia. –
Lauro
--- Se pudesse
verificar em uma Rádio, talvez dessa mais sorte. –
Marilu
--- Talvez o
senhor tenha razão. Quem sabe? - - se comportou melhor. - -
Um pouco mais
de voo ela, Marilu, estava sobrevoando o Estado do Rio, a capital do Brasil. De
repente, a Baia da Guanabara. Um ruino, as águas, um trepido e o pouso. Duas
pistas, o aeroporto. O clássico. Gente muita, automóveis, mais aviões de
carreira, o desembarque. Lauro procurou as suas malas e as de Marilu e observou
se sua mãe, Lindalva, estava por perto. Em instantes, Lindalva surgiu em
companhia de uma mulher parecendo a governanta. A senhora, um pouco gorda e
baixa corria, como sempre, de braços abertos para abraçar o seu pupilo.
Lindalva
--- Meu filho,
meu filho! Que saudades! - - dizendo isso a chorar
Lauro
--- Ora
mãezinha! Estou aqui moído de cansado. - - respondeu o rapaz.
Levou um
pequeno tempo e a mulher indagou.
Lindalva
--- É essa a
menina? Linda. Linda. Como vai você, Marilu? Eu vi as suas matérias. O Senador
está louco por conhece-la. Você é jornalista também? - -
Marilu
--- Sim.
Agradeço a seu filho que me deu essa oportunidade. - -
Lindalva
--- Que
agradeço que nada! Você já é jornalista. Tão moça! Vamos para casa. Chegue! E a
balada prosseguiu durante o caminho a moça dizendo a sua aventura na cata dos
assuntos no meio do lixo, coisa que não se divulgava, por certo porque não dava
renda para os vereadores. E se dava, era escondido, por debaixo do pano e coisa
assim.
Marilu
--- Quando eu
disse ao gerente que era jornalista, ele calou. Teve medo. - - sorriu
Lindalva
--- Todos eles
comem bola. Não tem um. Até o Prefeito. Fez bem! Só queria ver a cara do
sujeito! - - embrutecida
Marilu
--- Está
focada no jornal. Maiúscula. - - esclareceu
Lindalva
--- Como lá,
aqui se faz! Montanhas de lixo. Meninos comendo a podridão. –
Marilu
--- Eu disse
isso. - - relatou
Lauro
--- Essa
menina é um caso raro. Eu digo isso a todos que aparecem. –
Marilu
--- Não. Eu
vivi no lixo por assim dizer. O Mercado onde minha mãe trabalha é um caso
sério. Ratos de esgotos. Cada um que não tem mais tamanho. –
Lindalva
--- Você
trabalhava no mercado. - -
Marilu
--- Sim. Minha
mãe e muitas outras pessoas. Eu tenho experiencia de vida. Nada que eu digo é mentira.
Ratos, baratas. Cada uma. Só a senhora vendo. –
Lindalva
--- Eu
acredito em você. Aliás, os navios são os maiores ambientes de ratazanas.
Lauro
--- Nas
cidades grandes também. Eles se escondem pelos esgotos. Aqui mesmo, no Rio
Marilu
---Certa vez
os homens resolveram limpar o Mercado e se descobriu que estava infestado de
ratos gigantes. A presença do bicho é repugnante. - -
Lindalva
--- Imagine! –
Lauro
--- Chegamos.
Agora, tomar banho e descansar. Amanhã é outro dia. - -
Lindalva
--- Primeiro tem
café. O Senador já está em casa. Talvez já dormindo. Ou quase! –
Após
descarregar as malas, eles adentraram no apartamento. Um garoto ajudou a levar
todo o carregamento. O Senador estava acordado ouvindo música erudita. Quando o
pessoal chegar, encheu-se do contentamento. As empregadas que estavam no
Apartamento, ajudaram no retirar os carregamentos. Na mesma hora, o filou tomou
a benção e apresentou a garota. O Senador, orgulhoso, cumprimentou, com esmero
a moça ainda pequena, com menos de 18 anos.
Lauro
--- Viu a
mocinha? Vai fazer 18 anos, agora. E vamos ajeitar seus documentos. –
Senador
--- Eu tenho
quem faça. Pode deixar. - - argumentou
Lauro
--- Ela já tem
as fotos. - -
Senador
--- Muito bm.
Um trabalho a menos. - -
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