- LIXÃO -
- 05 -
CONVITE
Na sequência,
Lauro explicou ainda a Marilu que um repórter é um tipo de jornalista que
pesquisa, escreve e relata as informações para apresentar as fontes, conduz
entrevistas e faz relatórios. Há vários tipos de jornalistas com editores,
escritores, colunistas e jornalistas visuais, o fotojornalista.
Marilu
--- É difícil
se ser jornalista? - - quis saber
Lauro
--- Creio que
não. O jornalista nada mais é um contador de histórias reais. - -
Marilu
--- E o que eu
faço para ser uma jornalista? - -
Lauro
--- Você conta
a sua história. Por exemplo: você vai à praia e vê rochas, areia, nada é
calçado, mocambos, homens a puxar a rede do mar ou mesmo sem puxar essa rede.
Você vê um assunto bem variado. Então, você tem um assunto para contar. - -
Marilu
--- E que vai
ler? - -
Lauro
--- Então, aí
depende da sua sagacidade. Um exemplo: quem lê sobre lixo? Ninguém! Mas se a
matéria for bem escrita várias pessoas têm, de imediato, o seu interesse. Os
vereadores, o prefeito e até mesmo a gente humilde. Quantos garis tem a cidade?
Dez? Vinte? Quanta gente pobre sobrevive da coleta de lixo? Você sabe? - -
Marilu
--- Confesso
que não sei. Mas tem até crianças
comendo o resto das sobras. Eu digo porque conheço aquelas pessoas. Gente
humilde mesmo.
Lauro
--- Quer fazer
uma boa matéria? Faça sobre o lixo! Faça isso e depois conversamos!
Marilu
--- Agora? - -
perguntou assustada
Lauro
--- Hoje,
amanhã, depois. Qualquer dia. Se você for fazer a feira, vai encontrar tanta
pobreza como riqueza. Esmoler é o que não falta.
Marilu
--- Meu Deus
do céu. Eu faço mesmo a matéria do lixo? – quis saber assustada.
Lauro
--- Faça. E me
traga para a revisão. - - alertou.
No dia
seguinte, a moça estava logo cedo do dia em frente à sede o jornal esperando o
carro de reportagem para ir ao forno do lixo. Com ela estava Lauro, o fotografo
e o motorista. Lauro orientou ao motorista levar a repórter até o forno do lixo,
e ao fotógrafo, fazer fotos de todo o local. As coisas mais escabrosas. Gente,
bichos, meninos, coisa ainda de se comer. Tudo enfim. O fotógrafo Canindé
compreendeu e nada relatou. Apenas chamou o motorista. Esse, toco a chave e
saiu em frente no seu carro.
O Forno do
Lixo ficava em uma esquina da via férrea, logo abaixo da curva onde o trem
fazia a manobra. Meninos procuravam o que comer do lixão. Mulheres de roupas
sujas catando o que pudessem para se alimentar, como carne podre, peixes
apodrecidos e verduras sujas. Moças de vestes rotas também colhendo coisas
podres, detritos vindos das ruas das casas de gente de bem. Essa era a forma de
se alimentar uma vez que não tinha renda e viviam abaixo da linha da pobreza.
Uma existência da fome em uma região tão rica era uma contradição difícil de
compreender. Em frente, o rio levando tudo para o mar.
Naquele
instante adentrou no Forno um caminhão do lixo para onde os mendigos correram
com mais pressa. Os pobres queriam catar o lixo e pegar o que de melhor havia para
ingerir com pressa. O Caminhão soltou uma das portas da carroçaria que estava
trancada. O monturo caiu pelo chão e no meio de tudo estava um cadáver de um
mendigo. Ninguém prestou atenção ao mendigo morto de imediato. No entanto um
coletor de lixo aguçou os olhos e disse ao motorista ter um defunto dentro do
caminhão. O pessoal pobre nem mesmo prestou atenção. O motorista foi ver e
perguntou quem foi que viu o morto.
Motorista
--- Quem
sacudiu esse mendigo? - - quis saber
Gari
--- Ele é um
mendigo chamado Tarugo. Vive a catar
lixo. - - relatou o gari
De repente, o
fotógrafo avançou para fazer suas fotos, seu material de trabalho. A moça
Marilu foi quem mais gritou, alarmada.
Marilu
--- É um
homem. Ele está morto! - - disse isso prendendo o rosto com as mãos.
Motorista
--- Ele caiu
de dentro da carroçaria do caminhão. - -
O fotógrafo
continuou a registrar a imagem do morto da forma como o defunto veio ao chão.
Marilu
--- Quem é
ele? - - quis saber
Gari
--- Tarugo.
Ele vivia perambulando pelo Forno. - - falou o gari
Marilu
--- Tarugo de
que? - - perguntou mais.
Gari
--- Zé Tarugo.
Um velho. Vivia zanzando pelo lixo. - -
Marilu
--- Ele tinha
família? Filhos? Irmãos? Parentes? - -
Gari
--- Não sei.
Pouca gente sabe. Tinha um rapaz, seu filho, que vivia na sucata do Forno.
Motorista
---É José
Meira. A gente chamava de Tarugo. E você, quem é? - -
A moça se
empertigou e disse.
Marilu
---
Jornalista. Senhor. - - relatou com toda ênfase
Motorista
--- Pois é.
Não tenho mais nada a falar. –
Nesse instante
se aproximou um homem parecendo ser um gerente do Forno e procurou saber o que
ocorrera ali no monturo com tanta gente a colher o lixão no meio de um defunto.
Gerente
--- O que
houve aqui? - -quis saber ao desespero
Motorista
--- Um morto
estava no lixo. - - relatou
Gerente
--- E a
senhorita o que quer? - - indagou embrutecido
Marilu
--- Sou
Jornalista do Jornal O Estado. - - falou brava
Gerente
--- Do Estado?
Do Senador Almeida? - - perguntou amofinado
Marilu nem
sabia desse tal Senador. Tudo que ela conhecia era seu Lauro. Se era Almeida,
não sabia também. Mas por via das dúvidas o fotografo Canindé confirmou tirando
fotos do gerente.
Canindé
--- Sim. Somos
do Jornal. - -
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