- A FOME -
- 07 -
CRIANÇA
Quando Lauro
chegou a redação, no início da tarde daquele dia, já não tinha mais nenhum
repórter da manhã. 0 Diretor do jornal O Estado foi verificar a produção da
manhã tecendo as anotações feitas. Uma e outra e, finalmente chegou ao texto do
morto no Forno do Lixo. Com bastante atenção, Lauro verificou a matéria e logo
declarou.
Lauro
--- Garota de
sorte. Sua primeira intervenção. Muito bom. Vai para primeira página. Vejamos o
restante. - - e de imediato verificou o texto.
Lauro leu e
releu para ter certeza do que havia textualizado e de repente, gritou:
Lauro
--- Caramba!
Não pode ser? Outra? Como é que pode? Criança catando Lixo? Eu estou sonhando.
Oh Marilu! - - gritou o chefe.
O repórter da
tarde que estava catando máquina, se levantou e foi ver o que o seu chefe
queria.
Repórter
--- O senhor
me chamou? - - indagou perplexo
Lauro
--- Não. Pode
sair. Puta Merda. Ela fez duas matérias. Cada uma melhor que a outra. Vou
colocar o seu nome em estampa. Logo duas?
Canindé vinha
chegando do laboratório fotográfico e pegou o seu chefe ainda eufórico. E
informou que tinha as fotos do defunto e da criança comendo lixo.
Canindé
--- Estão aqui
as fotos. Se quiser mais. Eu tenho. - - relatou.
Lauro
--- Veja essa
matéria? A da criança. Como pode fazer essa matéria? - - exaltado
Canindé
--- Está ruim?
– - indagou espantado
Lauro
--- Que nada!
Isso é uma obra de arte. Vai percorrer o mundo. Quero ver a cara dos
vereadores! Só quero ver! - - disse com bravura.
Canindé sorriu
e declarou ainda que a repórter era brava.
Canindé
--- Imagine
só. Esse é o começo de Marilu. - - e saiu colhendo suas fotos em sobra.
À noite,
quando passava das seis, Marilu chegou a redação do jornal e toda gente estava
a esperar para cumprimenta-la. A moça tomou um susto por não entender do que
estava ocorrendo. Homens, principalmente da redação sorriam e batiam palmas
para a moça. O jornal não tinha saído ainda. Apenas na manhã seguinte. Mas os
curiosos tomaram ciência em ver primeiro da matéria. Lauro estava em seu
gabinete se só tomou conhecimento da presença de Marilu quando essa chegou ao
topo da escada seguida por diversos colegas onde quase nenhum repórter a conhecia.
Mesmo assim, todos batiam palmas pela matéria da Criança do Lixo.
Repórter
--- Como você
descobre a criança? - -
Marilu
--- Ora.
Buscando notícias. - - relatou
Reporter-1
--- Eu nunca
fui naquele forno. - - querendo vomitar.
Marilu
--- Pois vá
até lá. Crianças muitas. Lá tem sacos de todo tipo de lixo. Mulheres quase
mortas, esfarrapadas, cantado lixo vindo das ruas nobres. Lixo chama lixo.
Montanhas de detritos. Nuvens de insetos. Ratos. Cada um que nem você pode
pensar. Urubus aos montes. Além disso tem ralos de água, borracharias, hortas,
calhas, piscinas não tratadas, cacos de vidros e até vasos de cemitério. - -
reclamou
Repórter- 2
--- É um
descaso. E ninguém faz nada! - - triste.
Marilu
--- Suínos
criados soltos. Um homem matava um bode! Que horror! Uma tragédia! - -
Nesse
instante, o Diretor do Jornal, Lauro Almeida, saiu apressado do seu gabinete de
trabalho e foi encontrar a senhorita Marilu. Tão depressa ele chegou ao local
onde a moça caminhava que ele sem mais e nem menos se apressou em pegar com
suavidade Marilu e a acompanhou para o seu gabinete de trabalho. O seu coração
badalava mais que um bombo. Puxou a
cadeira para a moça e logo ficou sentado em sua escrivaninha esperando o
coração aquietar-se. Com esse tempo, a olhar para o teto do jornal, discorreu
com pressa.
Lauro
--- Moça! Que
maravilha eu poder ter visto a matéria do menino! Que negócio supremo! Eu quero
saber que nome eu uso para pôr como sendo você mesmo? - - disse ele extasiado.
Marilu
--- Que susto
o senhor me fez! Chega eu estou tremendo de medo! Puxa! Nome? Mas, o senhor
pode usar um meu. Marilu. Ou outro completando o primeiro. Mas eu digo sempre
que é Marilu. - - disse a moça
Lauro
--- Está bem.
Eu, agora quero assinar você como “correspondente”. Você já é de maior? Marilu
--- Não.
Faltam poucos meses. Dois para completar 18 anos. - - respondeu de fato ainda
tremendo de susto.
Lauro
--- Maravilha!
Quem foi o fotógrafo? - - quis saber
Marilu
--- Fotógrafo?
Canindé. Fomos eu e ele. E o motorista também. Mas a matéria fomos nós que
fizemos. Eu e Canindé.
Lauro
--- Está bem.
Vou chama-lo. - - e depressa, ele procurou Canindé na sala do laboratório onde
ele e mais dois fotógrafos estavam a trabalhar na revelação de filmes. E ele
chamou Canindé e esse disse esperar um minuto. Lauro voltou ao seu escritório e
chegando, se sentou a sorrir com as mãos cruzadas no busto. E de imediato, ele
se recostou na cadeira. Canindé não demorou a chegar.
Canindé
--- Pronto,
chefe. Que mandas? - -
Lauro
---
Apresento-lhe a artista. Que furo de reportagem. Duas se possível. Mas a
maravilha é a do menino. - - sorriu.
Canindé
--- Tem outra.
- - e olhou para a moça
Lauro
--- Outra?
Qual? A do garoto? - - espantado
Canindé
--- Ela é quem
sabe. Diga a ele, Marilu. - -
Marilu
--- Não sei se
vale a pena. Mesmo assim, eu vi no Matadouro um homem decepando um bode. Não
era muita coisa. Porém tinham porcos. Vários. Todos mortos e alguns para serem
mortos. Cabritos. Tem também a chamada “Salgadeira” onde mulheres tiram as
tripas do boi e em compensação levam para casa os corações dos animais como
pagamento. - - disse a moça
Lauro
--- Crueldade!
Como pode se fazer uma coisa dessas. Mas, sem mesmo autorização da Prefeitura?
- -
Marilu
---O Prefeito
faz vistas grosas.
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