SONHOS
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SONHOS -
Naquela noite
Marilu dormia o seu tranquilo sonho. Lembranças fugazes e delirantes de um
passado risonho tidos a não sei quanto tempo. Noite calma, rua em silencio,
nada demais para sacudir de seu leito suave de um confortável sono. Um gato
miou dolente no telhado ao lado e um cão passou a latir contra aquele outro
animal do lado de baixo de uma casa tão perto. Sombras faziam quando nuvens
cobriam o céu emoldurado. Nesse momento, Marilu sentiu alguém a lhe soprar os
ouvidos. Contudo, ela não despertou de pronto. Apenas se ajeitou no leito.
Momentos seguintes, uma voz delicada sussurrou ao seu ouvido. Ela se cobriu de toda.
Mesmo assim, a voz não se conteve. E ela, adormecida, falou:
Marilu
--- Mãe! É a
senhora? - - perguntou baixinho
A voz
sussurrou, baixo.
Pai
--- Seu eu,
filha minha. Teu pai. - - disse a voz.
Marilu
--- Quem? Meu
pai? É meu pai? - - indagou feliz.
Pai
--- Sim. Sou
eu. Paulo. Lembra de mim? - - indagou sorrindo
Marilu
--- Sim. Meu
paizinho. Como poderia eu esquecer? De onde vens? - - indagou
Pai
--- Sempre eu
estou aqui, filha minha. - - sorriu feliz
Marilu
--- Sempre? E
como não te vejo? –
Pai
--- A Medalha
de Honras. Lembras? - - sorriu
Marilu
--- Medalha?
Em Paris? Aquela? Eu lembro que um senhor me deu! - -
Pai
--- Eu estava
ao seu lado, filha minha. - - sorriu
Marilu
--- O senhor?
Como eu não vi? - - perguntou
Pai
--- Para se
ver, a pessoa tem que acreditar. Acredite e me veras. - - disse a criatura
Marilu
--- Acredite,
como? - - indagou
Pai
--- Crendo.
Apenas crendo. Nada mais! - - disse o pai
Marilu
--- Crendo!
Mais do que acredito? Eu jamais vi o senhor. - -
Pai
--- Porém,
agora veras de vez. - - disse ele a sorrir
Marilu
--- Mas como
eu vejo o senhor? - -
Pai
--- Olhe à
direita. Sempre eu estarei aqui a teu lado. - - sorriu
Marilu
--- À direita?
- - se virou no leito
Pai
--- Não abra
os seus meigos olhos. Apenas fique à direita. -
-
Marilu
--- Pai! É
você? - - perguntou
E a sombra
sumiu de vez. A moça, de repente acordou e nada vislumbrou por perto. Ela estremeceu
de medo e após alguns segundos, pulou da cama e foi até ao quarto onde dormia a
sua mão. A mulher ainda dormia. Quando a moça chegou, Noca despertou
assombrada.
Noca
--- Que é
isso, menina? Fazendo medo aos outros? - -
Marilu
--- Foi o meu
pai. Eu vi. Agora! - - disse assombrada
Noca
--- Viu nada!
Vai dormir! Teu mal é sono! Deixa. Eu ainda quero dormir. - - falou brava
Marilu
--- Eu vi,
mãe. Ele disse estar a meu lado. Vi sim! - - disse a moça quase chorando
Noca
--- Agora,
mais essa! Sai da frente que vou me levantar. Ora! Viu coisa alguma! - - e a
mulher partiu em disparada.
Marilu
--- Vi, mãe!
Agora mais essa! Não acreditas? - -
Noca
--- Sai da
frente que vou ao aparelho. - - relatou e se levantou, peitando que nem bicho
A moça ficou
para traz pensando ter sido um sonho o que lhe acometeu. Sentou num tamborete e
ficou a meditar simplesmente aturdida.
Marilu
--- Um sonho?
Será que foi um sonho? Vou para uma sessão espírita sem dizer nada. Ah se vou.
Hoje mesmo! - - disse isso e baixou sua cabeça na mesa.
À noite, ela
lembrou a Lauro que naquele dia não podia ficar da redação pois tinha algo a
cumprir sem perda de tempo. O homem olhou para Marilu e bateu com o lápis na
mesa dizendo de imediato.
Lauro
--- Que está
havendo? - - curioso
Marilu
--- Nada de
mais, são coisas minhas. - - respondeu
Lauro
--- Quer o
carro? - -
Marilu
--- Não é
preciso. Não quero dar trabalho. Eu vou e volto. Se der tempo, ainda hoje eu
volto. Coisas corriqueiras. - -
Lauro
--- Se
precisar, eu dirijo com o meu. - -
Marilu
--- Não. Não.
É melhor que não. –
Lauro
--- Tudo vai
bem? - -
Marilu
--- Aqui, tudo
normal. Não se preocupe. - -
Lauro
--- Está bem.
Amanhã nós conversamos. - -
Marilu
--- Está
certo. Até amanhã. Se cuide! - - sorriu
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