- ESPERANÇA -
- 20 -
O PAI -
No mesmo dia,
à noite, Marilu chagou a sua casa onde encontrou a sua mãe. Lembranças de um
passado breve, troca de abraços, choros enfim. Marilu contou sua história em
Paris. As viagens bem-sucedidas, os cafés da noite, teatro, além do rio Sena. A
sua mão ouviu. Mas não entendeu toda a loucura. Ficou a supor que seria esse
Paris. Um mistério! Com certeza algum lugar que se viajasse como de Santa Cruz
a Mossoró, certamente. Ou mais longe, chegado até Juazeiro do Norte, no Ceará.
Era provável que fosse assim. Rezar para padrinho Cícero. Coisa normal.
Noca
--- Essa
cidade é mais longe que Juazeiro? - - quis saber,
Marilu
--- Mãe, nem
pergunte uma coisa dessas. A senhora já ouviu falar da Guerra? Pois é para
aquelas bandas. - -
Noca
--- Ah, bom.
Já sei. Um compadre meu viajou para aquela terra. Mas nunca mais voltou. Será
que se perdeu por lá? - -
Marilu
--- Quem sabe.
Pode ter se perdido mesmo. - -
Noca
--- Sabe? Teu
pai apareceu. - -
Marilu
--- Apareceu?
Quando? - - surpresa.
Noca
--- Semana
passada. Eu soube por seu Manoel. Ele estava muito doente. Eu fui até o
Hospital. Estava com a doença ruim. Quase nem me reconheceu. Só fazia chorar.
Eu o acalmei, portanto. - -
Marilu
--- E como ele
está? - - quis saber
Noca
--- Morreu.
Não vai chorar. Ele morreu. Nós fizemos o enterro. E pronto. O homem não tinha
nada no bolso. Voltou só para morrer. Pronto. - -
Marilu, chorou
de qualquer modo. Ela nem conhecera seu pai. Porém queria vê-lo pelo menos uma
vez.
Marilu
--- Estava
magro? - - quis saber
Noca
--- Só o osso!
Ele andou jogando a vida toda. Não tinha nem mulher. Só jogava. Coitado. Que
desgraça. - -
Marilu
--- Ele
perguntou por mim? - -
Noca
--- Foi o que
mais falou. Mas nem sabia seu nome. - -
Marilu
--- Meu nome?
Desgraça! - - abusada
Noca
--- Sim. Mas
foi a doença. Ele só delirava. - -
Marilu
--- Deve ter
sido. Coitado. E a senhora lembrou a ele meu nome? - -
Noca
--- Eu disse.
Ele então recordou. Parece que a avó dele tinha o mesmo nome. - -
Marilu
--- Minha avó?
- - curiosa
Noca
--- Não.
Bisavó. Ele lembrou disso uma vez. Parece. –
Marilu
---Mas se
chamava Marilu? - -
Noca
--- Não. Era
Soledade. Dona Soledade. - -
Marilu
--- Ah. Eu nem
sabia mais que me chamava Soledade. - - caiu em pranto
Noca
--- Que é
isso, menina? Era essa! - -
Marilu
--- Eu sinto
pena do meu pai. Sempre senti pena, mesmo sem conhecê-lo. - - baixou a cabeça e
caiu em prantos.
Noca
--- Agora deu!
Levanta! Pior foi o que ele sofreu. - - embrutecida
Nenhum comentário:
Postar um comentário