-GARGALHEIRAS-
- 08 -
-GENTE -
No hospital de Currais Novos
tinha gente demais. O povo se assustou com o estrondo ouvido às primeiras horas
da tarde e um clarão no céu. Uma
claridade invulgar se arremessou contra o tempo e surgiu de repente a ameaçar
gado e gente, espantando a todos e em seguida, afundando em uma montanha que
fazia o cerco e onde se construiu a barragem de Gargalheiras que abastece as
cidades de Acari e Currais Novos. Nesse momento, passava em frente ao Hospital,
um rapaz bem encarado, sorridente até, que os que o conhecia o cumprimentavam
cordialmente. Ele notou a multidão e foi logo a indagar.
Rafael.
--- Esse povo todo está com medo
do Meteoro? Ele se enfurnou na mata da serra! – sorriu.
Andante:
--- Que serra? – indagou
Rafael:
--- Lá. Eu vi o Meteoro. Ele veio
do céu. E após mergulhou na mata. – relatou
Andante:
--- Jura? – indagou curioso.
Rafael:
--- Ora mais. Eu estava caçando
por lá quando vi a luz descer para os lados da serra. E aí, sumiu de vez. –
relatou.
Andante:
--- Mete o que? – tornou a
perguntar.
Rafael:
--- Meteoro. Ou meteorito. Ele
estava todo esbagaçado. Mas era de um tamanho descomunal. Grande mesmo. – falou
sério.
Andante:
--- E esse povo também viu? –
indagou com cisma.
Rafael:
--- Não sei. Agora, eu vi. Vinha
até um motorista pela estrada. Ele olhou para o Céu e até parece que cegou com
a luz. Ele bateu com o carro e depois se deu por conta do que era. – falou.
Andante:
--- Ele morreu? – indagou mais
curioso.
Rafael:
--- Não sei. Acho que não. Depois
ele passou por mim na estrada. Meio confuso. – e sorriu.
Andante:
--- A minha mulher viu um negócio
cheio de luz. Ela estava no quintal dando de comer aos porcos e galinhas. Eu
estava na minha casa. E ela entrou correndo dizendo ter visto um clarão vindo
do Céu. Para ela, o que ela avistara era Jesus. – relatou o homem a pensar.
Rafael:
--- E essas outras pessoas? –
indagou sorrindo.
Andante:
--- Todo viu a mesma coisa. E só
dizem ser Jesus que desceu à Terra com asas douradas. Elas acreditam nisso. Eu
não creio. – relatou o andante.
Rafael:
--- E o pessoal que atende? –
quis saber.
Andante:
--- Uma enormidade também viu.
Todo mundo! – fez vez o senhor.
Rafael:
--- Como é seu nome, senhor? –
perguntou
Raimundo:
--- Eu sou Raimundo. E o senhor?
– indagou
Rafael:
--- Rafael. É como me chamam. –
relatou.
Raimundo:
--- Eu morro em Cerro Cora. Mas
algum tempo fico mesmo em Currais Novos onde eu tenho uma fazendazinha para
cuidar do gado do meu patrão. Fico lá e cá. – relatou
Rafael:
--- Eu morro no Riacho da Luiza.
Conhece? – indagou.
Raimundo:
--- Riacho da Luiza é no
município de São Vicente. Era uma velha índia que habitou a região. São Vicente
vive da agricultura. Eu morei lá. – fez ver.
Rafael:
--- Pois é. O senhor conheceu o
coronel Solano Lopes? – indagou sorrindo
Raimundo:
--- Quem me dera. Ele era dono de
terras em Cerro Cora. Homem forte. Isso é o que dizem. – comentou
Rafael:
--- Morreu já faz tempo. Nos idos
de 1827 por ai assim. – comentou
Raimundo:
--- Meu pai conhecia a família do
Coronel. Ele falava muito do homem. Mas não conheceu o moço, pois morreu ainda jovem
mesmo. – explanou.
E a prosa continuou por mais
tempo enquanto o Hospital se enchia de gente vinda em todas as direções, alguns
pacientes trazidos em maca ou enrolados em redes. Outros vinham de carroça de
burro e alguns chegavam de pé para ver se podiam ser atendidos com mais
presteza. Pouca gente estava em casa naquela hora da tarde. Carros, motos, e
até os muares serviam de condução. Gente moça e idosa, gemendo e chorando em
busca de socorro. Os veículos se empilhavam nas ruas. Os motoristas, temerosos,
procuravam se alojar em algum remoto abrigo. Uma idosa senhora era buscada em
sua rede e levada para o interior do Hospital.
Enfermeira:
--- Gente! Aqui não cabe mais
cabe mais ninguém! A esperança é um médico! – gritava assombrada a enfermeira
Paciente:
--- E onde nós pomos? –
perguntava atarantado um doente
Enfermeira:
--- No meio da rua! Em qualquer
lugar! No Céu! – gritava a enfermeira sem parar.
Paciente:
--- No céu? Que céu? Jesus já
veio correndo do Céu! – alertou espantado.
E os doentes continuavam a
chegar. Parecia um dia em que um ônibus atropelou e matou para lá de trinta
pessoas depois da ponte de entrada, em um dia de festa, 13 de Maio, consagrado
a Nossa Senhora. Era um ruge-ruge de gente mais parecendo uma arapuá cheio de
vespas. Repórteres procuravam colher informações das pessoas. Médicos não havia
nem pra dá um chá. E os atendentes se faziam de tais profissionais. Umas
freiras lutavam com brio a ajudar o povo aflito, alguns à beira da morte. Uma
zoadeira infernal se fazia presente por todo canto que houvesse. As Irmãs
Freiras eram as que depositavam maiores cuidados. O pároco local e seus
assessores também estavam a cuidar dos doentes.
Raimundo:
--- Onde está o médico? – indagou
exaltado.
Rafael:
--- Sumiu! Sumiu! – disse o
caçador.
Não havia mais um médico sequer.
A mulher do Prefeito da Cidade, dona Laura, uma profissional de Enfermagem,
chegou às pressas para dar o seu amparo aos ansiosos pacientes. De resto, era a
proteção Divina.
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