sexta-feira, 3 de abril de 2015

PRIMEIRA PÁGINA - 08 -

-GARGALHEIRAS-

- 08 -

-GENTE -


No hospital de Currais Novos tinha gente demais. O povo se assustou com o estrondo ouvido às primeiras horas da tarde e um clarão no céu.  Uma claridade invulgar se arremessou contra o tempo e surgiu de repente a ameaçar gado e gente, espantando a todos e em seguida, afundando em uma montanha que fazia o cerco e onde se construiu a barragem de Gargalheiras que abastece as cidades de Acari e Currais Novos. Nesse momento, passava em frente ao Hospital, um rapaz bem encarado, sorridente até, que os que o conhecia o cumprimentavam cordialmente. Ele notou a multidão e foi logo a indagar.
Rafael.
--- Esse povo todo está com medo do Meteoro? Ele se enfurnou na mata da serra! – sorriu.
Andante:
--- Que serra? – indagou
Rafael:
--- Lá. Eu vi o Meteoro. Ele veio do céu. E após mergulhou na mata. – relatou
Andante:
--- Jura? – indagou curioso.
Rafael:
--- Ora mais. Eu estava caçando por lá quando vi a luz descer para os lados da serra. E aí, sumiu de vez. – relatou.
Andante:
--- Mete o que? – tornou a perguntar.
Rafael:
--- Meteoro. Ou meteorito. Ele estava todo esbagaçado. Mas era de um tamanho descomunal. Grande mesmo. – falou sério.
Andante:
--- E esse povo também viu? – indagou com cisma.
Rafael:
--- Não sei. Agora, eu vi. Vinha até um motorista pela estrada. Ele olhou para o Céu e até parece que cegou com a luz. Ele bateu com o carro e depois se deu por conta do que era. – falou.
Andante:
--- Ele morreu? – indagou mais curioso.
Rafael:
--- Não sei. Acho que não. Depois ele passou por mim na estrada. Meio confuso. – e sorriu.
Andante:
--- A minha mulher viu um negócio cheio de luz. Ela estava no quintal dando de comer aos porcos e galinhas. Eu estava na minha casa. E ela entrou correndo dizendo ter visto um clarão vindo do Céu. Para ela, o que ela avistara era Jesus. – relatou o homem a pensar.
Rafael:
--- E essas outras pessoas? – indagou sorrindo.
Andante:
--- Todo viu a mesma coisa. E só dizem ser Jesus que desceu à Terra com asas douradas. Elas acreditam nisso. Eu não creio. – relatou o andante.
Rafael:
--- E o pessoal que atende? – quis saber.
Andante:
--- Uma enormidade também viu. Todo mundo! – fez vez o senhor.
Rafael:
--- Como é seu nome, senhor? – perguntou
Raimundo:
--- Eu sou Raimundo. E o senhor? – indagou
Rafael:
--- Rafael. É como me chamam. – relatou.
Raimundo:
--- Eu morro em Cerro Cora. Mas algum tempo fico mesmo em Currais Novos onde eu tenho uma fazendazinha para cuidar do gado do meu patrão. Fico lá e cá. – relatou
Rafael:
--- Eu morro no Riacho da Luiza. Conhece? – indagou.
Raimundo:
--- Riacho da Luiza é no município de São Vicente. Era uma velha índia que habitou a região. São Vicente vive da agricultura. Eu morei lá. – fez ver.
Rafael:
--- Pois é. O senhor conheceu o coronel Solano Lopes? – indagou sorrindo
Raimundo:
--- Quem me dera. Ele era dono de terras em Cerro Cora. Homem forte. Isso é o que dizem. – comentou
Rafael:
--- Morreu já faz tempo. Nos idos de 1827 por ai assim. – comentou
Raimundo:
--- Meu pai conhecia a família do Coronel. Ele falava muito do homem. Mas não conheceu o moço, pois morreu ainda jovem mesmo. – explanou.
E a prosa continuou por mais tempo enquanto o Hospital se enchia de gente vinda em todas as direções, alguns pacientes trazidos em maca ou enrolados em redes. Outros vinham de carroça de burro e alguns chegavam de pé para ver se podiam ser atendidos com mais presteza. Pouca gente estava em casa naquela hora da tarde. Carros, motos, e até os muares serviam de condução. Gente moça e idosa, gemendo e chorando em busca de socorro. Os veículos se empilhavam nas ruas. Os motoristas, temerosos, procuravam se alojar em algum remoto abrigo. Uma idosa senhora era buscada em sua rede e levada para o interior do Hospital.
Enfermeira:
--- Gente! Aqui não cabe mais cabe mais ninguém! A esperança é um médico! – gritava assombrada a enfermeira
Paciente:
--- E onde nós pomos? – perguntava atarantado um doente
Enfermeira:
--- No meio da rua! Em qualquer lugar! No Céu! – gritava a enfermeira sem parar.
Paciente:
--- No céu? Que céu? Jesus já veio correndo do Céu! – alertou espantado.
E os doentes continuavam a chegar. Parecia um dia em que um ônibus atropelou e matou para lá de trinta pessoas depois da ponte de entrada, em um dia de festa, 13 de Maio, consagrado a Nossa Senhora. Era um ruge-ruge de gente mais parecendo uma arapuá cheio de vespas. Repórteres procuravam colher informações das pessoas. Médicos não havia nem pra dá um chá. E os atendentes se faziam de tais profissionais. Umas freiras lutavam com brio a ajudar o povo aflito, alguns à beira da morte. Uma zoadeira infernal se fazia presente por todo canto que houvesse. As Irmãs Freiras eram as que depositavam maiores cuidados. O pároco local e seus assessores também estavam a cuidar dos doentes.
Raimundo:
--- Onde está o médico? – indagou exaltado.
Rafael:
--- Sumiu! Sumiu! – disse o caçador.

Não havia mais um médico sequer. A mulher do Prefeito da Cidade, dona Laura, uma profissional de Enfermagem, chegou às pressas para dar o seu amparo aos ansiosos pacientes. De resto, era a proteção Divina.

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