quarta-feira, 29 de abril de 2015

RASTRO MORTAL - 24 -

- MOTO -
- 24 -

- FRUTAS
Ainda no dia seguinte do tormento entre o Meteoro e o espedaçar do avião Boeing, um caminhoneiro viajava para Natal, às primeiras horas da madrugada e já conhecedor do que fez a bola de fogo na capital, mesmo assim, despreocupado por dizer apenas ser “esse bicho um negócio do demônio”. E gargalhava, então. Era o sinal de desprezar o ocorrido. O seu caminhão vinha lotado de frutas para chagar logo cedo à CEASA, entidade responsável em receber frutas, legumes e hortaliças de todos os tipos. Pela madrugada, coisa de duas horas, ele mantinha a velocidade normal até porque esse seu carro era mesmo um velho “cambão” não desenvolvendo mais de 80 quilômetros por hora. José Nicácio viajava pela estrada da região de Santa Luzia em um tempo seco de fazer dó onde nem água havia o suficiente para se beber. Como era então de madrugada, José Nicácio apenas fazia as contas do ter o apurado e nem pagar a todos os fornecedores dessa vez. O céu estava nublado, porém não parecia de chuva. Um galo cantou fora de hora, mesmo assim, José Nicácio não deu a menor importância. Carros não vinha pela estrada. Havia cercados de um lado e do outro. E ele também não deu importância. Uma comichão no pé, e ele começou a coçar, mesmo tirando o sapato roto e chulerento. Entre uma passagem e outra, surgiu uma moto em toda velocidade. Seu motoqueiro estava com um capacete escuro, talvez preto. O motoqueiro saiu de uma vereda em toda velocidade. José Nicácio teve tempo de avistar o motoqueiro. E se assustou porque o homem enveredou para a frente do caminhão. O motorista ainda buzinou. Mas a coisa foi tão rápida que não deu mais tempo a fazer coisa alguma. Ele sentiu o impacto da moto em seu caminhão de frutas e o homem ser puxado por baixo do caminhão. Aquele estraçalhar e com certeza fazendo a vítima em pedaços. De repente, José Nicácio pisou no freio e o carro trafegou uns vinte metros dado a velocidade na qual ele viajava. Tão logo parou seu caminhão, José Nicácio desceu e assustado procurou verificar o destino do motoqueiro. Não havia casebre por perto a quem ele pedisse socorro. De qualquer modo ele correu para a trazeira do seu caminhão a procura de ajudar o homem da moto. Mesmo assim, não viu moto e nem motoqueiro. Ele se abaixou para ver se havia alguém preso nas engrenagens de seu caminhão e nada pode enxergar de fato.
Nicácio:
--- Sumiu? – indagou cheio de susto.
E, mesmo no escuro da madrugada, José Nicácio procurou encontrar o motoqueiro de um lado e outra da pista. E nada pode perceber. Não havia sinal de gente e moto alí por perto. Ele coçou a cabeça e voltou a olhar por baixo do caminhão. E nada encontrou de certo. Não havia motoqueiro algum. Mesmo depois de Nicácio buscar por amplo caminho, ele não avistou coisa alguma. Quase como um louco, embrutecido com a causa do rapaz, ele ainda seguiu à frente em busca de algum vestígio, apesar de saber que na frente nada ele estaria a encontrar. A coçar a cabeça, com a camisa aberta aos peitos e calça presa por um cinto, ele então voltou para a cabine do seu caminhão.
Nicácio:
--- Ora merda. Eu vi o homem. E a moto também. Agora, nem uma coisa nem outra! Eu estou ficando doido? – perguntou a si mesmo.
E deu marcha no carro, olhando mais uma vez para trás, e seguiu preocupado com o caso do defunto. Na estrada não havia viva alma. E então Nicácio seguiu um tanto aluado a indagar.
Nicácio
--- Mas eu vi o rapaz! Eu vi! Eu vi! – era o que ele declarava.
Entre trancos e barrancos Nicácio rodou e mais rodou onde tudo ainda era fechado, quando ele passou pelas primeiras taperas e casas de taipa. Em seguida, veio a cidade. Um homem ajustava o seu caminhão limpando as mãos com uma estopa. Ele nem deu por fé. Apenas seguiu o seu destino. Mas adiante, um posto de combustível ainda fechado. E logo a seguir uma mulher com uma trocha na cabeça. Disso tudo Nicácio nem observou. Quando o tempo raiou ele entrou da cidade de Macaíba, onde os feirantes já estavam ponde as suas bancas e dona Cora era a primeira mulher a buscar freguês para lhe arranjar o que comer. O homem, todo molhado de suor, ainda buscou explicação pelo defunto da estrada. E contou a sua prosa;
Nicácio:
--- Dona Cora, bom dia! Eu estou alarmado com que há poucos ocorreu comigo. Eu vinha na estrada de madrugada, tudo escuro, nem vento soprava, quando, de repente, atravessou na minha frente um rapaz e sua moto. Eu brequei o cambão e, de repente busquei o homem para prestar socorro e não havia mais ninguém. Nem em baixo do carro e nem a distância. Como é que pode? – indagou preocupado
Cora:
--- Virgem. Ninguém, ninguém? – perguntou surpresa.
Nicácio:
--- Nem a alma! – chorou vertendo lágrimas
Cora:
--- Ele pode ter se engalhado na trazeira. Não? – perguntou sem assunto
Nicácio:
--- Que traseira? Não havia ninguém em baixo de carro! Eu verifiquei todo o percurso e não havia nem lágrimas.
Cora:
--- Estranho. Muito estranho! – responde a mulher.
Nesse momento surgiu um outro caminhoneiro que também seguia para a Ceasa e pediu licença por ter ouvido toda a história de Nicácio. Ele, era um homem corpulento e um pouco de baixa altitude. Então, falou sobre o que ouvira Nicácio contar. Uma verdadeira história tenebrosa.
Motorista:
--- Com licença pela sua fala. Eu, por acaso, já sabia dessa tragédia. Aconteceu há vários anos. Era um rapaz que vinha de seu casebre em busca de uma parteira para atender a sua mulher, bem jovem, e que estava tendo uma criança. Acontece que a criança estava enlaçada e não podia sair. Ele, então, deixou a mulher com a sua mãe e correu em debandada a procura da parteira. Era uma vereda muito estreita por onde ele trafegava em sua moto a toda pressa. Era de madrugada. Cedo da manhã. Era noite ainda. Quando ele chegou ao cruzamento da pista, um caminhão que também buscava seu caminho, atropelou o rapaz. Foi morte certa. Desde esse tempo que se chama o local do rapaz da moto. Se esse foi o seu caminho, portanto você cruzou com o rapaz da moto. – declarou
Cora:
--- Menino! E a mulher? – indagou preocupada.
Motorista:
--- Mãe e filho morreram também. Apenas ficou a velha mãe. É o que me consta. Todos, na redondeza sabem bem essa história. Os três defuntos foram enterrados no cemitério da capela. Tem uma capela no lugar. Uma capela, assim. Pequena. É lá onde se enterra os defuntos. O nome do morto, se não me falha a memória, era José Aparecido. Ou coisa assim. – declarou cuspindo de lado.
Nicácio:
--- Meu Deus do Céu? É verdade essa história? Mas eu estava pronto para correr louco! E a gente pode fazer algo em benefício da família? – indagou.
Motorista:
--- Creio que não. É se contentar de não ter sido você. – reportou
Cora:
--- Eu vou acender três velas! – disse a mulher se baixado para retirar um pacote de velas.
Uma cruz estava postada no cruzamento da estrada, um pouco derreada e marcando o nascimento e morte do homem. O seu nome era quase todo extinto. Porém se podia ver em letras miúdas o assentado “Aparecido” quase nulo. Um ramo de flores foi depositado no local já há muito tempo. Ninguém, ou quase ninguém sabia dizer com precisão qual o seu nome. Tempos depois, ao passar pelo local, José Nicácio visitou a cova no cemitério. Porem nada encontrou de verdade. A marcar para o local da cruz, Nicácio ainda observou ser o nome. Na verdade, de Aparecido. Ele entrou pela vereda e bem distante avistou um casebre. A casa de Aparecido. Não havia viva alma. O casebre estava todo malfeito e havia alguém a declarar ser a choupana ditada de assombrada. Isso, foi quando Nicácio voltou de sua longa viagem. Um homem gordo estava a espera em seu caminhão e, logo a seguir, passou marcha e seguiu. Esse homem era o mesmo que contou a história do rapaz da moto. Nicácio ainda observou o gordo mas não teve tempo de chamá-lo. Ficou então, apenas a espiar quando o caminhão se afastou de vez.
Nicácio
--- Quem era esse homem? – indagou com cisma.
E assim, José Nicácio debreou o seu cambão e seguiu viagem para o sitio de Santa Luzia onde nada mais tinha a contar. Apenas lamentar o ocorrido com José Aparecido, sua mulher e filho. Com relação a anciã, ele nada podia contar, pois ninguém havia por perto. Apenas, seguia o rumo do caminhoneiro gorducho. Nicácio nunca o vira no mercado da Ceasa para contar a história. Algum depois ele veio a saber ser o caminhoneiro o mesmo homem que matou por atropelamento o jovem José Aparecido.
Nicácio
--- E onde ele está agora? – perguntou assustado
Alguém
--- Dizem que ele morreu depois de um acidente com um motoqueiro. – respondeu
Nicácio
--- Morreu? Morreu com? – perguntou assombrado
Alguém
--- O povo matou. É o que se diz. Não sei. – relatou
Nicácio
--- Mas em vi o homem! – disse com fé o caminhoneiro.


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