sábado, 4 de abril de 2015

PRIMEIRA PÁGINA - 09 -


- CHUVA NA SELVA -

-09 -

SUAVE VENENO


Ainda sem meios de entrar em contato com a redação, Marlene Santos jogava o celular em um canto do banco tremendo de raiva. A chuva renitente não parava. No meio do mato, o fotógrafo Armando Souto verificou uma mocinha a dar adeus para o carro onde ele viajava, e nesse instante preparou a máquina fotográfica para fazer algo de acerto. Ele pulou para o banco traseiro, onde estava amuada a repórter Marlene Santos e fez mira para a moça e começou a faina fotográfica. Nesse instante, Marlene Santos se aborreceu com o fotógrafo pelo fato de como o rapaz se apoiada na banca com os pés abertos em forma de “A”. Sem mágoas, Armando Souto nada respondia. O seu intento era fazer fotos o mais breve possível. A moça no alpendre da casa sorria franco com a sua boca vermelha como um suave veneno. E o seu jeito brejeiro decantava enfim a estonteante boniteza da selvagem natureza. Esse gênio sublime agia de mansinho colando no seu olhar a virgem e meiga briosa de visão altiva. Enfim, ele viu a flor do mocambo feita de palha surgindo em uma feiticeira vez de um bem brasileiro de gente morena, isoneira até como sua ingênua tradição. E nisso tudo ele focou a sua câmera. Uma, duas e mais de três fotos Armando Souto conseguiu filtrar da boneca de cetim em forma de mulher. A cada passo que Aramando dava era um xingamento a mais feito pela jornalista em seu banco traseiro. A chuva intensamente caia e o carro seguia seu percurso apagando-se pela sombra do caminhar distante.
Catolé:
--- Parece que chegamos. – falou o motorista.
Marlene:
--- Parnamirim? – perguntou com surpresa.
Catolé:
--- Parece. A chuva é braba. Não consigo enxergar. – relatou
Marlene:
--- Está escuro! – afirmou a supor.
Catolé:
--- É a chuva. O transbordamento da água vem solto pela ribanceira. – alegou.
Em seu lugar, já sentado, Armando Souto rebobinava a sua câmera e ainda olhava para trás onde a mocinha esteve por alguns instantes e tão depressa sumiu. As árvores gigantescas não mais permitia gravar o local da tapera onde a menina moça tinha estado.
Armando:
--- Sumiu! – disse o rapaz.
Marlene:
--- Quem sumiu? – indagou com raiva.
Armando:
--- A mocinha. – disse o rapaz a fazer o trabalho em sua máquina.
Marlene:
--- Ah. Besta! Estou p’ra ver! – disse a jornalista com bastante asco.
Catolé:
--- Quem? – indagou o motorista.
Armando:
--- Uma deusa! – respondeu.
Catolé:
--- Deusa? – esboçou um sorriso
Marlene:
--- Uma megera. – falou repugnante.
Armando:
--- Veja tua língua! – advertiu com modos.
Quando rompeu a estrada, Catolé se assombrou com o volume de carros, caminhões, cegonhas, trucados entre os outros veículos pequenos e médios. Era um monte de carros parado por não ter saída para qualquer canto. Aviões continuavam fazendo voos por toda a área enquanto helicópteros sobrevoavam para outros locais em busca dos restos do Boeing destroçado em pleno ar. Os aparelhos da FAB engrossavam a fileira com os demais voos de outros Estados em busca da nave e do meteoro que rompeu o Céu àquela hora da tarde, não fazia nem duas horas. O ronco dos motores dos aparelhos era um desassossego para o povo. Na terra, havia mortos atropelados pelos carros. Veículo tombados como se fossem folhas fugidias de jornais. A chuva importuna seguia com mais impetuosidade a levar as águas de estrada abaixo por onde o motorista nem bem podia transitar.
Catolé:
--- Chove quando não se precisa! – resmungou
Marlene:
--- Espera por mim um pouquinho! – e abriu a porta descendo do carro. Em seguida, sumiu.
Armando:
--- P’ra onde você vai, sinhá burra? – indagou o fotógrafo
Catolé:
--- Deixa. Ela foi cumprir suas necessidades. – falou baixinho.
Armando:
--- Assim, eu também vou! – relatou
Catolé:
--- E eu vou conversar com os caminhoneiros, dessa vez. – e desceu do seu veículo estacionado para aquém da rodovia.
O Hospital central de Parnamirim estava locado de enfermos, uns à beira da morte. Outros, gemendo e chorado em um véu de lágrimas na impaciência do destino. Enfermeiras e auxiliares buscavam a todo custo socorrer os mais aflitos e desterrados da vida. Alguns médicos, bem poucos mesmo acudiam os doentes sem nada poder fazer. Os aviões passavam raspando por cima do Hospital. E outros objetos caiam com o soar do barulho. Carros de bombeiros seguiam a toda presa para um destino incomum, apenas com a sua zoada infernal provocando maior alarde. Ambulâncias e veículos de pronto-socorro não paravam de rugir em direção a Natal, a capital do Estado. Era a hecatombe geral. Mortos pelo meio da rua e carros de polícia a vigiar os lutuosos.
Soldado:
--- É o fim do mundo! – declarava um policial
Outro:
--- E a gente, o que faz? – indagou aperreado
Soldado.
--- Nada. Aguardar as ordens. – relatava a cuspir de lado
No outro ponto da estada o motorista Catolé, de posse das informações recebidas, adiantou o seu veículo a percorrer o caminho em direção ao Município de São José. Com a chegada do fotografo e da jornalista, o motorista seguiu por novo caminho.
Catolé:
--- Falou com a redação? – indagou à jornalista
Marlene:
--- Sim. Eles não disseram nada. Apenas mandaram a “gente se virar”. Bosta! – reclamou
Armando:
--- Vou tirar mais fotos dessa tragédia. – alertou
Catolé:
--- Em vou seguir por São José. É o caminho mais longo. – relatou
Marlene:
--- Coitada da criancinha. A mãe morreu e ela ficou a chorar. – relatou a olhar a cena
Catolé:
--- Morte é o que não falta por essa região. – reclamou prudente
Armando:

--- Até vaca! – e fotografou reses mortas 

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