BAPHOMET
30
NASCIMENTO
Marilu chorou um pouco. O dia
estava esquentando. Janilce, em seu santuário, relia os jornais de ontem. Sem
novidades no front. Era uma questão de tempo. Uma ambulância passou, correndo.
Janilce ouviu se sirena. Um acidente, talvez. Fez lembrar um pintor passado a
lixa na parede de uma casa. O pintor usava também, uma régua de alumínio. Uma
vez, esqueceu e passou a régua na parede para afastar um fio elétrico,
energizado. Um pipoco. Um baque surdo. O pintor caído no chão. Coisa triste.
Boca aberta. Olhos arregalados. A morte!
Janilce
--- Coisa triste. Não dá nem
vontade de ler. - - reclamou
Um toque de sino. Janilce
percebeu. Um vendedor de cavaco-chinês. O barulho do sino prolongava rua a fora
e se misturava com os toques de um torneiro mecânico besuntando de graxa uma
porta de metal. Carros novos ou velhos buzinavam sem parar numa correria
infernal parecendo a Dança Macabra com um compasso ritmado, ligeiro, as vezes
alto, depois muito baixo. Os ossos de uma caveira. Caveira de um morto, fazia tempo.
Entre outros temas surgiu um que lhe surpreendeu. Algo sobre a
Franco-Maçonaria, algo já bem antigo em Natal, porém nunca descoberto na
imprensa local. E foi então que a sua curiosidade despertou. Vendo ser um
jornal do Rio, Janilce se aquietou para poder ler o artigo. De repente, ela
notou na vidraça do seu escritório uma cara deformada. Ela teve um susto e
falou trêmula.
Janilce
--- Está fazendo susto a mim? - -
disse isso e arremessou um jornal amassado contra a vidraça
Marilu sorriu e nem teve medo do
jornal. Despregou da vidraça e entrou no escritório de Janilce onde
cumprimentou a moça com doce afável
Marilu
--- Que estás lendo? - - quis saber
Janilce
--- Um artigo sobre Maçonaria. -
- explicou
E pegou o Jornal das Letras
olhado por um todo e o que podia ser verdadeiro.
Marilu
--- “Onde há muita luz, as
sombras são mais profundas” – Goethe. Hum. Pensamento e tanto. O livro deve
seguir a mesma filosofia. O tomo reza que, atualmente, por todo esse mundo
existem quatro milhões de pessoas envolvida com a Maçonaria. Veja. –
Janilce
--- Imagino. Aqui, em Natal, não
se ouve nem falar da tal Maçonaria. Tudo é segredo. Por que? - - perguntou
Marilu
--- Também não sei. Eu soube que
o Senador é Maçom. Mas não soube mais de nada. – -
Janilce
--- Ele come bode? - - assustada
Marilu
--- Sei lá. Por que bode? - -
assustada
Janilce
--- Eu vi, certa vez, um maçom
comendo bode. Dizia ele ser saboroso. - - cuspiu na cesta.
Marilu
--- Pelo o que já ouvi o bode não
tem nada a haver com a Maçonaria. Existe uma figura maçônica que serve de
vários aspectos. Elifas Levi foi um cidadão francês que deu origem a esse
chamado “bode” maçônico. Quem me contou foi Lauro. O “bode” se chama mesmo “Baphomet.
Ele representa o Deus definido por Hermes Trismegisto e encontrado no Convento
de Cristo de Tomar, cidade portuguesa, distrito de Santarém. Baphomet foi
adorado pelos Templários. –
Janilce
--- É o Cão mesmo? - - olhos
abertos
Marilu
--- Nada de Cão. É a união de
dois vocábulos gregos: “Baphe” e “Metis”, significando “Batismo da Sabedoria”.
Daí o termo Baphomet. - - sorriu.
Janilce
--- Aqui tem um desses bodes. É
feio. Veja! – - fez cara feia
Marilu
--- Ele pode ser feio, mas o seu
segredo nos fascina. O maior dos seus mistérios tem permanecido há séculos
Janilce
--- Imagino! Mas que ele é um
“bode”, ah sim. Ele é! - - discordou
Marilu
--- Veja bem! Baphomet é uma
figura com cabeça de bode. Um antigo Deus celta, Cernunnos, é também
representado com chifres sentado na posição de lótos. Tem mesmo na Grã-Bretanha
um deus chifrudo, uma figura semelhante tem na Catedral de Norte-Dame, de
Paris. Essa de Eliphas Levi representa a Alta Magia. Tem mesmo a do
Representante dos Templários com seios femininos, chifres e asas. Tem do que
você quiser. E não é bode.
Janilce
--- Por é. Chifrudos. - - com
cara feia
Marilu gargalhou
Marilu
--- Bem. Vamos lá. Quais são as
origens da Maçonaria? Em Londres, tem o maior templo maçônico do mundo. Foi ali
que a maçonaria começou, no início do século XVIII. Para alguns, é uma
sociedade secreta envolta em profundo mistério. Para outros, é um grupo
iniciático que promove a fraternidade entre os seres humanos.
Janilce
--- Com bodes e tudo! - - levou a
questão em sorrisos
Marilu
--- Pode ser! Os maçons cultivam
o mistério, o que gera suspeita. A partir de 1738, a Maçonaria foi excomungada
pelo Papa Clemente XII. Seria o início de uma longa série de condenações para
os maçons e os seus segredos.
Janilce
--- Segredos? - - com cara
retorcida
Marilu
--- Sim. Segredos. A Maçonaria
tornou-se, inclusive, um dos alvos preferidos dos nazistas. Esse conceito de suspeita explica porque a
imagem que temos da Maçonaria e difícil. Cavaleiros Templários, Rosa Cruzes,
Alquimistas e muitas tradições místicas.
Janilce
--- Não conheço nada disso. - -
abusada
Marilu
--- Ora, ora. Você está
conhecendo agora. Muitos acreditam que os maçons são descendentes dos
Cavaleiros Templários.
Janilce
--- Mas, me dia logo: O que se
chama de Cavaleiros Templários? - - quis saber
Marilu
--- Um grupo de homens cristãos.
Eram muitos os Templários. Construíram Fortes. Muitos mesmo. E não tinham
negócios de querer o seu sexo. Era um dos mistérios deles.
Janilce
--- E eu não dava! - - rejeitou
Marilu
--- Na marra? Quero ver se não
dava! - -
Janilce
--- Sendo assim, até podia ser.
Com carinho! - - sorriu
Marilu
--- Ah. Não vou mais explicar. -
- abusou
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