segunda-feira, 11 de setembro de 2017

GRANDES DEUSES - 42

IMAGEM 
42
ALMOÇO 

Meio-dia. Janilce se prepara para sair do Jornal. Lauro, também. Ele veio logo atrás da moça. Canindé descia os degraus para chegar à rua, entrada do Jornal. Gente de um lado para outro chega se atrapalhava. O Bar Café estava cheio de fregueses àquela hora. Todos discutiam futebol e política, um caso raro de se deixar de lado. Do porto da avenida Tavares de Lira, surge um apito singular de uma lancha. Um trem, passa apressado vindo da esquina da rua do Comércio[al1]  – rua Chile – para continuar até a estação central, a meio caminho. Carros de um lado para outro trafegavam sem cessar. Uma mulher idosa catava lixo no chão. Os Bancos estavam com suas portas abertas para atender aos clientes. O Céu estava calmo, sem nuvens. Janilce, ao descer os degraus da escada do edifício, falou para Canindé algo sem grande importância. Uma buzina de carro tocou. Era Marilu que chegava ao estacionamento do Jornal. As duas amigas conversaram um pouco sobre um tufão que abalara o norte dos Estados Unidos. E abriu o jornal para mostrar os estragos causados
Janilce
--- Por aqui não tem nada disso! - - comentou
Marilu
--- Ainda bem. Vamos? - - chamou a moça
Janilce
--- Espere um instante. Lauro também vai. - - determinou
Marilu
--- Ele sabe onde fica o Grande Hotel. Tem gente pra burro no restaurante. Passei lá quando vinha para cá.
Um burro a puxar sua carroça carregada de toras, empacou na rodovia atrás do auto de Marilu. Por um instante, o animal urinou, não se importando com o chicote a lhe bater no espinhaço. O carroceiro ficou irado com o desobediente ignorante.
Janilce sorria com o temperamento do bruto. E logo disse:
Janilce
--- Coitado do burrinho! - - sorriu
Quando os três amigos chegaram ao Hotel, quase ninguém podia trafegar. Era um salão enorme. A mesa para os três já estava reservada. Um homem gorducho os observou e chamou o novato garçom a atender de imediato aos consumidores. Gente fina, por sinal. Mesmo estando uma desconhecida: Janilce. Uma ventania sobrou de brusco atrapalhando o movimento da rua.
Marilu
--- Vai chover? - - indagou assustada.
Lauro
--- Não. Foi uma lufada de vento apenas. - -
O piano de cauda se fez ouvir. Era o maestro que estava a tocar “Fascinação”, canção antiga que não perdia o encanto ao se ouvir em qualquer ocasião. O garçom se pôs em pé junto a mesa dos convivas e se pôs a esperar o cardápio ao seu modo de esperar, com as mãos para traje em seu traje costumeiro: preto e branco e uma gravatinha em laço, também preta. Ao fim, ele ouviu e saiu apressado.
Lauro
--- Eu pedi fígado. Creio que vou fazer o bom e do melhor. - -
Marilu
--- Está bem. Fígado. Que achas? - - indagou a Janilce
Janilce
--- Muito bom. Falta o vinho. - - se alegrou
Lauro
--- Vinho tinto de mesa. - - respondeu o orgulhoso Lauro a sorrir
Do outro lado da rua, um homem conduzia às costas um imenso peixe, talvez um robalo, chega o pescador se virava todo para a frente. E Marilu notou.
Marilu
--- Parece um bacalhau. Lembro-me, agora, do óleo de fígado de bacalhau. A minha mãe mandava que eu engolisse sem fazer careta. - -
Janilce
--- Onde está o homem? - - quis ver também
Marilu
--- Ele passou. Era enorme, o peixe. –
Lauro
--- Eu não vi o homem. Mas me recordo do óleo de fígado de bacalhau. Interessante! - -
Com um pouco de tempo, o garçom chegou com os pratos de bife de fígado, todos bem temperados, limões, molho, tomates, cebola, pimentão e tudo mais. Numa outra bandeja, o vinho tinto. Todos comeram com orgulho e bem-estar. Era o máximo aquela refeição. Após, um arroto vagaroso para o gosto refrescante ficar com o sabor de mel. Uma hora e as músicas ao piano a dedilhar pelo maestro
Os leves pés da ninfa suspenderam a sua verdadeira ação de provocar o gajo por baixo da mesa atoalhada até tocar o chão de mármore de Carrara. Marilu nem notou aquela fascinação feita às duas pessoas. Ao fim da festa do almoço, todos eles saíram após quitar as suas contas. O garçom agradeceu a visita dizendo um até logo, volte sempre com suas mãos abanando.
Após o almoço, os três seguiram para os seus lares em edifício alongado, início da tradicional Avenida Prudente de Morais. As domesticas estavam a sorrir quando a turma chegou. Janilce se largou para o banheiro a fazer as suas necessidades habituais. Marilu ficou no quatro a conversar com Lauro. No meio da tarde, Marilu despertou para ir ao trabalho na Rádio Tirol onde já se habituara a fazer. Lauro, com certeza, já estava no Jornal em companhia de Janilce como era de costume. Marilu decidiu ligar o telefone para falar com seu marido e indagar se estava tudo muito bem. Mas o telefone chamou, chamou e após algum tempo, atendeu a moça Janilce.
Marilu
--- Por onde anda meu marido? - - indagou angustiosa
Janilce
--- Não sei, Marilu. Ele deve estar no Palácio. Tem entrevista agora, foi o que ele disse. –
Marilu
--- Ah. Está bom. E você? - - indagou
Janilce
--- Meio tonta. O vinho não me fez bem. Vomitei à vontade. Não sei por que! - - informou
Marilu
--- Volte para o apartamento, se for o caso! - -
Janilce
--- Não tem nem carro aqui. Vou mesmo de carro de praça. - -
Marilu
--- Não dá nem pra me esperar? Eu vou buscar. Com urgência! - - alertou
Janilce
--- Venha. Mas ou vomitar agora!!! - - respondeu e desligou
Nessa hora, chegou Canindé a ponto de tropeçar com a moça. Ela, molhada de suor, não suportou mais um instante e desmaiou quase em seus braços.
Canindé
--- Oxente! Te segura! - - e de punho forte arrastou a moça até o balcão deitando-a num divã.
Janilce, totalmente ao desmaio, já não ouvira qualquer assunto. Canindé puxou um jornal e abanou a diva para tentar ver se podia reabilitar.
Canindé
--- Acorda, menina! Acorda! Socorro! Ajudem-me! - - gritava o fotografo
Nesse mesmo instante ia chegando Macedo que procurou saber do que se passava.
Canindé
--- A moça desmaiou de repente! Ajude-me para levanta-la!
Macedo, atordoado, quis saber o que ela comeu no almoço.

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