IMAGEM
42
ALMOÇO
Meio-dia.
Janilce se prepara para sair do Jornal. Lauro, também. Ele veio logo atrás da
moça. Canindé descia os degraus para chegar à rua, entrada do Jornal. Gente de
um lado para outro chega se atrapalhava. O Bar Café estava cheio de fregueses
àquela hora. Todos discutiam futebol e política, um caso raro de se deixar de
lado. Do porto da avenida Tavares de Lira, surge um apito singular de uma
lancha. Um trem, passa apressado vindo da esquina da rua do Comércio[al1]
– rua Chile – para continuar até a estação central, a meio caminho. Carros de
um lado para outro trafegavam sem cessar. Uma mulher idosa catava lixo no chão.
Os Bancos estavam com suas portas abertas para atender aos clientes. O Céu
estava calmo, sem nuvens. Janilce, ao descer os degraus da escada do edifício,
falou para Canindé algo sem grande importância. Uma buzina de carro tocou. Era
Marilu que chegava ao estacionamento do Jornal. As duas amigas conversaram um
pouco sobre um tufão que abalara o norte dos Estados Unidos. E abriu o jornal
para mostrar os estragos causados
Janilce
--- Por
aqui não tem nada disso! - - comentou
Marilu
--- Ainda
bem. Vamos? - - chamou a moça
Janilce
---
Espere um instante. Lauro também vai. - - determinou
Marilu
--- Ele
sabe onde fica o Grande Hotel. Tem gente pra burro no restaurante. Passei lá
quando vinha para cá.
Um burro
a puxar sua carroça carregada de toras, empacou na rodovia atrás do auto de
Marilu. Por um instante, o animal urinou, não se importando com o chicote a lhe
bater no espinhaço. O carroceiro ficou irado com o desobediente ignorante.
Janilce
sorria com o temperamento do bruto. E logo disse:
Janilce
---
Coitado do burrinho! - - sorriu
Quando os
três amigos chegaram ao Hotel, quase ninguém podia trafegar. Era um salão
enorme. A mesa para os três já estava reservada. Um homem gorducho os observou
e chamou o novato garçom a atender de imediato aos consumidores. Gente fina,
por sinal. Mesmo estando uma desconhecida: Janilce. Uma ventania sobrou de
brusco atrapalhando o movimento da rua.
Marilu
--- Vai
chover? - - indagou assustada.
Lauro
--- Não.
Foi uma lufada de vento apenas. - -
O piano
de cauda se fez ouvir. Era o maestro que estava a tocar “Fascinação”, canção antiga que não perdia o encanto ao se ouvir em
qualquer ocasião. O garçom se pôs em pé junto a mesa dos convivas e se pôs a
esperar o cardápio ao seu modo de esperar, com as mãos para traje em seu traje
costumeiro: preto e branco e uma gravatinha em laço, também preta. Ao fim, ele
ouviu e saiu apressado.
Lauro
--- Eu
pedi fígado. Creio que vou fazer o bom e do melhor. - -
Marilu
--- Está
bem. Fígado. Que achas? - - indagou a Janilce
Janilce
--- Muito
bom. Falta o vinho. - - se alegrou
Lauro
--- Vinho
tinto de mesa. - - respondeu o orgulhoso Lauro a sorrir
Do outro
lado da rua, um homem conduzia às costas um imenso peixe, talvez um robalo,
chega o pescador se virava todo para a frente. E Marilu notou.
Marilu
---
Parece um bacalhau. Lembro-me, agora, do óleo de fígado de bacalhau. A minha
mãe mandava que eu engolisse sem fazer careta. - -
Janilce
--- Onde
está o homem? - - quis ver também
Marilu
--- Ele
passou. Era enorme, o peixe. –
Lauro
--- Eu
não vi o homem. Mas me recordo do óleo de fígado de bacalhau. Interessante! - -
Com um
pouco de tempo, o garçom chegou com os pratos de bife de fígado, todos bem
temperados, limões, molho, tomates, cebola, pimentão e tudo mais. Numa outra
bandeja, o vinho tinto. Todos comeram com orgulho e bem-estar. Era o máximo
aquela refeição. Após, um arroto vagaroso para o gosto refrescante ficar com o
sabor de mel. Uma hora e as músicas ao piano a dedilhar pelo maestro
Os leves
pés da ninfa suspenderam a sua verdadeira ação de provocar o gajo por baixo da
mesa atoalhada até tocar o chão de mármore de Carrara. Marilu nem notou aquela
fascinação feita às duas pessoas. Ao fim da festa do almoço, todos eles saíram
após quitar as suas contas. O garçom agradeceu a visita dizendo um até logo,
volte sempre com suas mãos abanando.
Após o
almoço, os três seguiram para os seus lares em edifício alongado, início da
tradicional Avenida Prudente de Morais. As domesticas estavam a sorrir quando a
turma chegou. Janilce se largou para o banheiro a fazer as suas necessidades
habituais. Marilu ficou no quatro a conversar com Lauro. No meio da tarde,
Marilu despertou para ir ao trabalho na Rádio Tirol onde já se habituara a
fazer. Lauro, com certeza, já estava no Jornal em companhia de Janilce como era
de costume. Marilu decidiu ligar o telefone para falar com seu marido e indagar
se estava tudo muito bem. Mas o telefone chamou, chamou e após algum tempo,
atendeu a moça Janilce.
Marilu
--- Por
onde anda meu marido? - - indagou angustiosa
Janilce
--- Não
sei, Marilu. Ele deve estar no Palácio. Tem entrevista agora, foi o que ele
disse. –
Marilu
--- Ah.
Está bom. E você? - - indagou
Janilce
--- Meio
tonta. O vinho não me fez bem. Vomitei à vontade. Não sei por que! - - informou
Marilu
--- Volte
para o apartamento, se for o caso! - -
Janilce
--- Não
tem nem carro aqui. Vou mesmo de carro de praça. - -
Marilu
--- Não
dá nem pra me esperar? Eu vou buscar. Com urgência! - - alertou
Janilce
---
Venha. Mas ou vomitar agora!!! - - respondeu e desligou
Nessa
hora, chegou Canindé a ponto de tropeçar com a moça. Ela, molhada de suor, não
suportou mais um instante e desmaiou quase em seus braços.
Canindé
---
Oxente! Te segura! - - e de punho forte arrastou a moça até o balcão deitando-a
num divã.
Janilce,
totalmente ao desmaio, já não ouvira qualquer assunto. Canindé puxou um jornal
e abanou a diva para tentar ver se podia reabilitar.
Canindé
---
Acorda, menina! Acorda! Socorro! Ajudem-me! - - gritava o fotografo
Nesse
mesmo instante ia chegando Macedo que procurou saber do que se passava.
Canindé
--- A
moça desmaiou de repente! Ajude-me para levanta-la!
Macedo,
atordoado, quis saber o que ela comeu no almoço.
Nenhum comentário:
Postar um comentário