FEIRA
01
O COMEÇO
Marilu chegara mais cedo na manhã
daquele dia ajudando a sua mãe, dona Noca, a conduzir suas compras para o
comércio do Mercado da Cidade onde mantinha o café. A mulher de meia idade
resmungava caminho todo por tudo e por nada. Marilu comprara uma casa próximo à
Avenida Deodoro e, para chegar ao mercado era apenas um salto de pulga. O
buzinaço dos autos já começara logo cedo da manha de sol, ainda não muito
quente e o grande movimento se fazia presente no interior do Mercado, com gente
adquirindo suas compras de alimentos do dia. Um caminhão trouxera uma parte da
carga de carne verde para descarregar como um todo nas bancas dos revendedores.
Na frente do Mercado, a feira era por conta dos vendedores frutas. Caminhonetas
paravam para deixar sair vendedoras de mangas, cajus, pinhas e mais o que
precisasse. Antes das sete horas, Marilu ingerira o seu café com pamonha e
pedira a benção a dona Noca, uma vez ter que chegar mais cedo ao Jornal do
Estado, órgão de imprensa, dos melhores da Capital ou mesmo do Estado. O
movimento era intenso naquela hora com gente entrando e saindo do prédio
mantido pela Prefeitura da Cidade. Cavalos e burros parados na parte externa do
local. Um bêbado dormia a seu bom prazer em uma calçada próxima. Dois conversadores
relatavam que ali era a Rua das Freiras.
Conversadores
--- Mudaram, agora. Era a Rua da
Freiras. Agora é Ulisses Caldas. - - relatou um
Outro
--- Ali era uma mangueira. Ampla.
Fazia sombra o dia todo. - - comentava
Livrando-se do ébrio, Marilu seguia
seu caminho para pegar o ônibus. O bonde acabara de vez. Logo, o ônibus chegou
e seguiu caminho. Coisa de dez minuto a moça já estava da repartição. Um jornal
ela pegou na banca de entrada do edifício e foi vendo o que estava em primeiro
plano: Julgamento de um criminoso de um médico. Ela fez cara feia.
Marilu
--- Bosta! Só tem matéria fraca!
- - disse ainda.
Canindé chegou sem pressa
alertando para um desastre de trem.
Canindé
--- Um trem bateu em um ônibus. -
- destacou
Marilu
--- Que horas? - - perguntou
surpresa
Canindé
--- Cinco horas. - - relatou
Marilu
--- Morreu gente? - - indagou
Canindé
--- Um punhado. Volto para o
local. Só vim buscar mais filmes. - -
Marilu
--- E o repórter? - -
Canindé
--- Não vi ninguém. Janilce
chegou? - - indagou
Marilu
--- Ainda não. Eu vou com
você. - - declarou
Motorista
--- A moça vem ali. Correndo
feito o Diabo. - - gargalhou
Marilu se voltou e viu Janilce
com o coração saindo pela boca. Perguntou de longe a moça.
Janilce
--- Vocês já souberam? – -
agoniada
Marilu
--- Já! Já! Já! Vamos embora! E
logo! - - disse ainda
Janilce
--- Papel! Quem tem papel? - -
preocupada
Motorista
--- Aqui tem! - - relatou
E apanhou um maço de papel posto na
cabine do carro. A Guarda de Transito já havia chegado o controlava o deslocamento
de carros e até de pedestres. As ambulâncias chegavam e de vez saiam com
buzinaço ensurdecedor com toda a pressa. Carros e motos eram proibidos de
permanecer no local, exceto os veículos de impressa e outros veículos oficiais.
As duas moças desceram do seu veículo e saíram em disparada mostrando aos
guardas as suas identificações para poder ter acesso ao local repleto de gente,
alguns moradores da região. Choros eram frequentes e pessoas gritavam a procura
de outras pessoas. Canindé já estava à procura de um local onde pudesse
registrar com mais precisão as imagens dos que já não podiam ter vida. Os
mortos, por assim dizer. Do ônibus só restava a fuselagem retorcida pelo
acidente do trem que foi arrastado por vários metros do início de desastre.
Marilu
--- Que loucura! Do ônibus só
resta o estrago virado de cabeça para baixo. - - em lagrimas
No trem, Janilce não podia nem
mesmo acesso, uma vez que os melhores estavam totalmente retorcidos.
Janilce
--- Esculhambação! Não se pode
ter acesso nem mesmo no trem!!! - - reclamou
Os carros de polícia chegavam
como um louco a zoar intermitente. Um Oficial pulou fora do veículo dando
ordens estapafúrdias aos sargentos, cabos e sodados para mandar o povo sair do
local.
Sargento
--- Esse pessoal é residente aqui
mesmo. E está ajudando a quem não morreu. - - relatou
E o Oficial, todo alterado e
impaciente, declarou ter ordens porque o Delegado estava chegando acompanhado
de outros dois secretários de Governo. No mesmo instante chegou Lauro, o
Diretor do Jornal caminhando apresado procurando localizar os seus repórteres e
com eles prosseguir na tragédia anunciada. Também estava o diretor da Estrada
de Ferro, senhor Gontijo. Outros mecânicos já vinham para o socorro imediato
conduzindo seus carros troles para funcionar em uma emergência.
Gontijo
--- O maquinista? - - indagou
Mecânico
--- Na estação. Tremendo que só
vara verde. - - declarou
Gontijo
--- Ele foi só? - - perguntou em
surdina
Mecânico
--- Foi num carro. Parece que de
aluguel. – - declarou
Gontijo
--- Quanto mortos? Deu para
contar? - -
Mecânico
--- Pelo que ele sabe, morreram
mais de 30 pessoas. Só do ônibus. - -
Gontijo
--- E do trem? - -
Mecânico
--- Ninguém. Ele estava na Tração.
Vinha ele e o foguista. –
Gontijo
--- O foguista também está da estação?
- - quis saber
Mecânico
--- Miguel saiu ferido. Foi
levado para o Hospital. - - declarou
Comandante
--- Quem é o diretor da
composição? - - perguntou apressado
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