segunda-feira, 3 de julho de 2017

SALÉSIA - 01 -

- OUTRA VIDA -
- 01 -

NO CINEMA -

O dia era um domingo de manhã, 9 horas. Salésia chegou ao Cinema de Arte a começar meia hora depois. Muitos jovens estavam do lado de dentro do cinema cada qual fazendo o que mais interessava: ver as figuras dos filmes programados para a próxima semana ou meses. Colegas da Faculdade se cumprimentavam com cordialidade. De toda a classe eram os jovens magros, gordos, baixos, altos, morenos e louros. O cinema era o único da cidade a ter ar condicionado. Salésia sentiu o frio ao adentrar do recinto, naquele instante, agradável. A música leve soava entoada por cantores americanos, os de maiores sucessos ou por orquestras como a de Percy Faith. Manhã de sol e bem cedo para amar lá fora, na rua. Um jovem rapar de cabelos louros sentado em uma poltrona, esticou seus pés para a cadeira da frente. Salésia olhou para o rapaz e nada falou. Isso porque ela vestia roupa feminina. Por momento, ela se fez de vestido a bater dos joelhos algo para melhor proteger as suas lindas pernas bem torneadas. Moça bela de boa estatura, Salésia torcia para que começasse o espetáculo. A cortina se abriu como um todo e o filme teria início naquele ponto. A sala estava repleta com gente nova e mais antiga. Um casal, acochado, surrava palavras de amor. Ao lado de Salésia, uma cadeira vazia. E, então veio a ser ocupada por outra virgem moça. Seu nome: Olga.
Olga
--- Cheguei com atraso? - - pergunto sorrindo
Salésia
--- Não. Está começando. – - respondeu a virgem a sorrir também.
Olga
--- Muita gente! Cristo! - - e se virou para um lado e outro
Salésia
--- O filme é atraente. A Voz do Silêncio. Tcheco. - - relatou
Olga
--- Não passa um filme de tal natureza nos cinemas locais. - - reclamou
O cinema se expande. Com o apagar das luzes, quem vai entrando tropeça em outro. Tem um mais afoito querendo fazer menção sexual vulgar com uma virgem entre os presentes. Com a tela espalhando a luz para os mais da frente, cega a os que estão mais atrais. Alguns pedem licença para sentar em uma poltrona mais adiante. Era esse o delirante ambiente da cena muda. No fim de tudo, o pessoal procurou a saída mais próximas para ir embora. Olga declarou, sem motivo aparente.
Olga
--- Belo Filme. - - relatou em muito entusiasmo
Salésia
--- Podia ser melhor! -  - sorriu sem maior explicação
O pessoal tomava o seu caminho, carros passavam, os esquisitos bebericavam em um bar próximo e as duas mulheres caminhavam até outro canto onde era oferecida bebida quente por demais. Depois desse encontro, Olga se despediu de Salésia prometendo um reencontro na segunda-feira à noite quando as duas teriam aulas. Salésia cursava Filosofia. Ao retorno a moça ouviu de sua mãe que uma sua colega lhe esteve a procura às 10 horas da manhã
Salésia
--- Qual delas? - - quis saber
Dona Laura
--- Eu esqueço do nome. Mas parece que ela mora da rua de cima. - - respondeu
Salésia
--- Julia? - - indagou
Laura
--- É essa mesma. Diabo de cabeça! - - bateu com a mão na sua testa.
Salésia
--- Eu sei quem é. Vou almoçar, agora. Tem fígado? - - indagou animada
O certo é que Salésia tomou banho por causa do calor insuportável do meio-dia, almoçou e logo após repousou até superar o cansaço da lida, uma vez que estava meio tonta por causa do vinho que tomara com sua amiga Olga após assistir ao filme no cinema de arte. Por volta das duas horas, Salésia estava bem melhor e já podia seguir viagem a casa de Julia. Seu pai já havia chegado da sede da Estação Ferroviária e beliscou a filha como gostava de fazer. A mosca se esquivou um pouco, mas não foi possível evitar o beliscão. Ela sorriu para não dizer que doeu um tanto. O senhor Moises era maquinista de trem que fazia viagem para Ceará-Mirim em busca de gente e algumas mercadorias. Salésia observou o relógio da parede para ter certeza ser bastante tarde, E logo saiu falado alto.
Salésia
--- Já estou indo! Abenção? - - falou da porta
Laura
--- Já vai? Cuidado! - - alertou.
Com poucos minutos Salésia bateu à porta da casa de Julia. Quase nem foi preciso porque a moça estava ouvindo música na radiola com suas pernas esticadas bem próximo à porta de entrada. E observou para ter certeza vendo de que era Salésia. Por precaução, a moça fez um gesto com a boca indicando silencio. Em um segundo, Julia saiu de casa e chamou Salésia para ir mais distante, cruzando a rua de modo a ficar distante da sua casa. Então já bem distante, ela começou a conversa.
Julia
---Salésia, é o seguinte. Minha mãe é espiritualista. Puxa a meu avô, já falecido. Eu sei que muitos dos meus parentes são kardecista. Eu não sou. Mas costumava ir com minha mãe ao Centro. Isso, quando era menor. Bem. Agora veio o problema. Minha mãe incorpora, sente, vê, tem dom da cura, prevê o que vai ocorrer. É multe-médium por assim dizer. Quando ela era moça, isso estava bem aguçado. Com o tempo, o negócio parou. Porém, de um tempo para cá, minha mãe começou a ser visitada pelo seu pai. O velho já morreu. Deu um quitiripapo e ele caiu morto. Acontece é que agora o velho reaparece. Ela sorri, conversa com ele e vai que vai. Eu não sei mais o que fazer. Por isso, eu estou pedindo a sua ajuda. Pronto! - - resumiu
Salésia
--- Você conheceu o seu avô? - - perguntou
Julia
--- Eu, não. Ele morreu antes de eu vir ao mundo! - - declarou
Salésia
--- Como é que você sabe que ela conversa com o homem que diz ser o seu avô? - - quis saber
Julia
--- Ela me diz. “Eu estava conversando com meu pai”. Só isso. - - declarou
Salésia
--- Você não pode vê-lo? - - indagou
Julia
--- Não. Mas faz duas semanas. Ou quase duas. –
Salésia
--- Antes, ela conversava com outros espíritos de pessoas da família? - - quis saber
Julia
--- Ela, quando vai a sessão, sempre conversa com gente desencarnada. Mas, agora, eu com o seu pai. - - tremendo
Salésia
--- E se eu fosse falar com ela? - - indagou.
Julia
--- Para conversar com algum espírito? - - indagou
Salésia
--- Certo. Com meu bisavô, por exemplo. - -
Julia
--- Sim. Eu acho que pode. - -

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