- RETRATOS -
11
O QUADRO
As duas moças ficaram paralisadas
na entrada do casarão feito há mais de meio século. Salésia ficou desatinada
porque aquele Frade, em lugar de lhe procurar, foi ver a amiga, Julia. Ela não
se lembrava de ter falado o nome de Julia no Convento, quando buscou
informações sobre o Padre Miguel. Era terrível esse desespero. Do portão
principal estava postada a amiga Julia a olhar o interior da moradia do doutor
Melquiades, já falecido. Nesse ponto, Julia teve a curiosidade despertada para
um quadro de fotografias. Era uma fotografia antiga mostrando a figura de um
jovem médico – com certeza – postada de roupas briosas e mãos postas ao longo
de ventre. Seu rosto estava virado para frente com um olhar fixo. Por tudo que
parecesse, aquela figura só podia ser de um outro homem lembrando de várias
fotos espalhadas por todo o recanto da sala. Apesar de ainda moço era a foto
antiga de doutor Melquiades, certamente. E a moça Julia indagou a neta do
homem.
Julia
--- Aquele, ali, bem do fundo da
sala, é o doutor Melquiades? - - e apontou com o dedo.
E Alice teve tempo de se virar
para ver o quadro e responder em seguida.
Alice
--- Sim. É ele. Bem moço. E tem
outras fotos o longo da parede da sala. Meu pai, minha mãe, minha avó já
falecida, meus irmãos e eu, aos 15 anos. – - sorriu.
Julia
--- É importante ter-se as fotos
dos entes queridos para mostrar o quanto foi o nosso passado.
Salésia igualmente apreciou os
quadros das fotos e de repente, alertou.
Salésia
--- Espere. Eu conheci o doutor
Melquiades quando era ainda menina. Por longo tempo eu vi quando o médico
desfilava na procissão do Encontro, aqui na Igreja da Apresentação. Ele, bem
forte levando um cajado como se fosse um “soldado romano” seguindo o Senhor
conduzindo a cruz. Lembro agora. De tudo. Parece um sonho. Mas é pura verdade.
Como as coisas se desdobram em nossa mente. - - alertou
Alice
--- É ele mesmo. Ele seguia a
Procissão desde a Igreja da Ribeira até em frente do Palácio do Governo. - -
sorriu
Salésia
--- Mas não é possível. Eu
imagino o fotografo tirar o instantâneo logo o doutor como se quisesse me
mostra-lo quando eu quisesse vê-lo! Isso é incrível! - - chorou a moça
Alice
--- Vamos entrar. Eu tenho mais
fotos antigas do meu avô e até de entes queridos. Tenho várias. Vamos. Entrem!
- - sorriu a moça
E Salésia acompanhada de Julia,
adentrou a casa do médico Melquiades há tempos remotos. De início, Alice
comentou a vida solitária sem a sua avó, Estênia, e logo após, o seu avô. Ela
estava residindo na velha mansão. De quando em quando recebia a vistas de seus
irmãos. De outras, os pais quando eles retornavam do Rio de Janeiro. De resto,
era ela e uma doméstica. De dia, Alice trabalhava em uma repartição. Ao
terminar seu oficio, a moça retornava à casa. Marido, não tinha. Por isso, ela
estava sempre solitária. Seu passatempo era ir a Catedral sempre a rezar seus
ofícios e nada mais. Com isso, a moça donzela já habituara a sua vida de
Católica praticante. E foi mostrando as figuras nos quadros e nos álbuns sempre
guardados a sete chaves. Essa conversa amena demorou um tempo e tanto até
chegar ao fim quando as divas, emocionadas, partiram para as suas moradias. No
meio do caminho, Julia indagou.
Julia
--- Você sentiu algo de anormal
na mansão? = perguntou cismada
Salésia
--- Quem? Eu? Nenhuma! Por que? =
indagou
Julia
--- Não sei. Mas, por algum
instante eu vi o quadro do médico de mexer. - - assombrada
Salésia
--- Lá vem você! Tem mania de
impressões! - - trancou o rosto
Julia
--- Verdade! Por que eu mentiria?
Até me piscou o olho direito! Eu quase me urinei! - -
Salésia
--- Você se urinou porque está
com vontade. Um quadro? Eu, heim? - - olhou séria
Julia
--- Tem muita coisa mal contada
naquela visita. - - empalideceu
De repente, a moça sentiu
vertigem e foi ao chão, caindo como um saco de pano. A amiga Salésia, de
repente se voltou e viu caída a Julia como algo que sucumbe de momento. Ela,
então, gritou.
Salésia
Julia? Que houve? Levanta! Ai meu
Deus! Julia! Julia! Julia! - - gritava Salésia.
O pessoal que atravessa a Praça
André de Albuquerque ficou alarmada. Uma mulher se esquivou colocando a mão na
boca e arregalando os olhos a balbuciar o nome de Jesus. Outros, sorriram,
alguém soltava uma asneira. E dentre todos, um rapaz se acercou da virgem e
tocou seu coração e as suas narinas.
Luis
--- Está viva. Foi um desmaio. -
- deduziu
E Luiz soergueu a moça, pondo nos
braços indo até um local de melhor trato. AlI pois a socorrer a virgem e
balançar sua cabeça até sentir a moça recobrar seus sentidos. Com Julia ainda
no colo continuou a fazer seus amparos para ter certeza de que ela finalmente
recobrara os sentidos. Ao fim, quando Julia se deu por ressuscitava daquele
incomodo, Luiz soprou por mais de uma vez na sua face e indagou
Luiz
--- Sente-se melhor, senhora? - -
sempre a aguentar no colo
Salésia chorava a mil pratos e
chamava a amiga pelo seu nome.
Salésia
--- Acorda, Julia! Acorda! - - e
dizia por vezes.
Até que a moça recobrou os
sentidos de vez. E indagou.
Julia
--- Onde estou? Ah, Dor de
cabeça! Com quem eu falo? - - falou Julia
Salésia
--- Eu, querida! Seu eu! Salésia!
- - explicou a moça à sua amiga.
Julia
--- Salésia? Quem é você? Onde eu
estou? - - indagou
Salésia
--- Está sentada na praça da
Matriz. - - respondeu
Julia
--- Matriz? Onde estão os
guardas? - - perguntou
Salésia
--- Pronto. Agora deu! Matriz de
Nossa Senhora! Acorda, menina! Acorda! - -desesperada
Luiz
--- Ela não entende o que você
fala. - - disse o rapaz
Salésia
--- Ah! Mas ela vai saber! - - e
a moça sacolejou a moça pelos braços.
Luiz
--- Espere. Ela entrou em desmaio.
Talvez tenha sido acordada em um outro mundo! Mundo desconhecido agora! - - refletiu
o rapaz
Salésia
--- Mundo? Como pode? Acorda,
Julia. - - e deu-lhe um supetão
Nenhum comentário:
Postar um comentário