domingo, 4 de outubro de 2015

LUTA ARMADA - 42 -

- LUTA -
- 42 -
VIDAS -
Meio tonto da bebida, Ênio Monroe se desfez na sua poltrona como quem faz um esticado no corpo arrastando os pés em cima de um tamborete acolchoado tendo adiante um vaso de porcelana de variadas cores e formas mais parecendo um vaso tailandês ambientado nas texturas de sua forma. Ao toque suave da melodia tocada a tempo diverso de um pendrive, o homem decidiu falar com a virgem moça a ouvir.
Monroe
--- Exatamente. Vera Sílvia Magalhães. Ela esteve distante do Brasil por 30 anos, mais que o tempo da Ditadura. Trouxe, ao voltar, as marcas pregadas no corpo de na alma das violências sofridas por esses longos tempos. Vera pertencia a uma família de esquerda. Seu pai era comunista e a vida, em sua casa, era uma tremenda confusão, pois havia militares para todo o canto. Quando ainda era menina, Vera recebeu de presente o Manifesto Comunista, de um seu tio. Ela, uma mocinha de classe média alta com uma vida bastante esplendorosa. - -
Isis
--- Diferente dos camponeses do Nordeste. - -
Monroe
--- Isso. Isso. Bem diferente. Mas, acontece que Vera não entendia muito bem da trama. Seu tio era Ministro, seu pai ganhava bem e os virtuais conselhos dados dos resistentes comunistas proletários não eram muito bem como Vera pensava. O que a moça pensava era de que o socialismo era dar tudo o que se tem. Não importa o quanto e a quem.
Moema
--- Ela era de um teatro e todos os seus amigos eram comunistas. - -
Monroe
--- Agora. Ela, quando moça ou mocinha dos 13 a 15 anos de idade, estudava bem quista em um colégio burguês de um preço bastante elevado e até mesmo escreveu um artigo num jornal mural em defendia poder dar tudo o que se estava guardado. O ambiente do colégio propiciou uma decolagem para outros horizontes. Ela, Vera Magalhães, tinha nota 10 e melhores conceitos. Mas, para a moça ser vanguarda, teria que ser perfeita. –
Moema
--- Isso era uma megalomania. - -
Monroe
--- Vera pensava ser aquela a marcha de Mao Tsé Tung. O que não era nada disso. A moça era apenas uma estudante limitada do ponto de vista social sem ter poder com as classes fundamentais. Com a morte de Edson Luís de Lima Souto por Policiais Militares do Rio de Janeiro em 28 de março de 1968, quando almoçava no Restaurante “Calabouço”, o incidente foi o estopim das manifestações estudantis daquele ano contra a Ditadura Militar. - -
Isis
--- Ave! Tudo isso? Foi assim? - - indagou com temor.
Monroe
--- Ora se foi. E tem muito mais. Em outubro de 1968, a União Nacional dos Estudantes realizou um Congresso clandestino numa fazenda em Ibiúna, no interior de São Paulo. Tropas do Exército invadiram o congresso e prenderam os líderes. Vera Magalhães revelou que a UNE teve a burrice de reunir todas as lideranças no mesmo lugar. A Repressão prendeu a liderança e ficou com o grande líder. E só saiu com o sequestro de Embaixador americano (Charles Burke Elbrick). - -
Isis
--- E a moça estava nesse meio? - - perguntou assustada.
Monroe
--- Sim. Nessa época, ela estava no Comitê Central e dava as ordens para Vladimir Palmeira. Ele era o presidente da União Metropolitana dos Estudantes em 1968. Comandou a maior manifestação organizada contra a Ditadura Militar. A “Passeata dos Cem Mil”, em 26 de junho, no centro do Rio de Janeiro. Preso no ano seguinte, ficou dez anos exilado. Voltou em 1979. Filiou-se ao PT e foi eleito Deputado Federal. Ninguém imaginou levar cem mil pessoas para a rua. Aquilo foi uma apoteose. Foi uma passeata pacífica. Aliais, esse negócio de passeata se espalhou por todo o Brasil. O negócio virou uma verdadeira “guerra”.
Isis
--- Qual a idade da moça? - -
Monroe
--- Hum? Dezenove anos, se não me falha a memória. Mas, ainda no Rio, a jovem Vera Magalhães disse que a coisa mais encantadora que já ouviu foi o discurso de Vladimir defendendo o Socialismo. Ele abriu o campo em defesa do socialismo. Houve um contágio emocionante. –
Moema
--- Mas o movimento estudantil se desmobilizou pela falta de ações concretas. Não se fala em prisões pelos Militares ou coisa assim. Mas continuava havendo prisões por toda a parte do país. O movimento do Rio, não foi somente na ex-capital da República. Houve em várias partes do Brasil ações repressivas. Em Natal, por exemplo, houve um enxame de atividades estudantis e a ação repressora da Capital. Eu tenho documentos da época.
Isis
--- Verdade? - - exclamou com espanto
Monroe
--- Houve muita repressão em todo o pais. E Natal não foi a única cidade. As moças distintas eram as mais ativas do movimento. Houve prisão, tortura, ameaças de morte. Os Quarteis fervilhavam de presos políticos. Com o AI-5 (Ato Institucional) foi que a porrada comeu. A Luta Armada teve início com o ato institucional. Lembra-se que Vera Magalhães e Franklin Martins, jornalista, empregado, hoje, de O Globo, o maior defensor dos Militares, escreveram os atos da oposição ao regime. - -  
Isis
--- Como é? Esse mesmo Franklin? - - indagou revoltada.
Moema
--- Menina! Soldado é apenas soldado. Franklin e muitos outros seguiam a orientação do que vinha ditado pela a direção do partido de esquerda. Se ele fez, foi uma questão de dever. E nada mais. - -
Monroe
--- Você me lembra, agora, os Tupamaros, grupo guerrilheiro do Uruguai. - -
Isis
--- Que são Tupamaros? - - indagou confusa.
Moema
--- É outra história. - - relatou encurtado a conversa.
Monroe
--- Verdade. Outra história. Porém vivida na mesma época dos movimentos no Brasil. O que eu disse vamos ver isso depois. - -
Isis
--- Tupamaros? Que nome horrível! – - fez cara de asco.
Moema
--- Seu significado é Tupac Amaru. Foi um índio que enfrentou os espanhóis em 1572. O movimento de 1960 dedicou esse nome a ele – Tupamaros. Era um movimento marxista-leninista de assalto a Bancos e coisa assim. Na trajetória findaram por sequestrar o Consul brasileiro Aloísio Gomide. - - declarou

Nenhum comentário:

Postar um comentário