- LUTA -
- 42 -
VIDAS -
Meio tonto da bebida, Ênio Monroe se desfez na sua poltrona
como quem faz um esticado no corpo arrastando os pés em cima de um tamborete
acolchoado tendo adiante um vaso de porcelana de variadas cores e formas mais
parecendo um vaso tailandês ambientado nas texturas de sua forma. Ao toque
suave da melodia tocada a tempo diverso de um pendrive, o homem decidiu falar
com a virgem moça a ouvir.
Monroe
--- Exatamente. Vera Sílvia Magalhães. Ela esteve distante do
Brasil por 30 anos, mais que o tempo da Ditadura. Trouxe, ao voltar, as marcas
pregadas no corpo de na alma das violências sofridas por esses longos tempos.
Vera pertencia a uma família de esquerda. Seu pai era comunista e a vida, em
sua casa, era uma tremenda confusão, pois havia militares para todo o canto.
Quando ainda era menina, Vera recebeu de presente o Manifesto Comunista, de um
seu tio. Ela, uma mocinha de classe média alta com uma vida bastante
esplendorosa. - -
Isis
--- Diferente dos camponeses do Nordeste. - -
Monroe
--- Isso. Isso. Bem diferente. Mas, acontece que Vera não
entendia muito bem da trama. Seu tio era Ministro, seu pai ganhava bem e os virtuais
conselhos dados dos resistentes comunistas proletários não eram muito bem como
Vera pensava. O que a moça pensava era de que o socialismo era dar tudo o que
se tem. Não importa o quanto e a quem.
Moema
--- Ela era de um teatro e todos os seus amigos eram
comunistas. - -
Monroe
--- Agora. Ela, quando moça ou mocinha dos 13 a 15 anos de
idade, estudava bem quista em um colégio burguês de um preço bastante elevado e
até mesmo escreveu um artigo num jornal mural em defendia poder dar tudo o que
se estava guardado. O ambiente do colégio propiciou uma decolagem para outros
horizontes. Ela, Vera Magalhães, tinha nota 10 e melhores conceitos. Mas, para
a moça ser vanguarda, teria que ser perfeita. –
Moema
--- Isso era uma megalomania. - -
Monroe
--- Vera pensava ser aquela a marcha de Mao Tsé Tung. O que
não era nada disso. A moça era apenas uma estudante limitada do ponto de vista
social sem ter poder com as classes fundamentais. Com a morte de Edson Luís de
Lima Souto por Policiais Militares do Rio de Janeiro em 28 de março de 1968, quando
almoçava no Restaurante “Calabouço”, o incidente foi o estopim das
manifestações estudantis daquele ano contra a Ditadura Militar. - -
Isis
--- Ave! Tudo isso? Foi assim? - - indagou com temor.
Monroe
--- Ora se foi. E tem muito mais. Em outubro de 1968, a União
Nacional dos Estudantes realizou um Congresso clandestino numa fazenda em
Ibiúna, no interior de São Paulo. Tropas do Exército invadiram o congresso e
prenderam os líderes. Vera Magalhães revelou que a UNE teve a burrice de reunir
todas as lideranças no mesmo lugar. A Repressão prendeu a liderança e ficou com
o grande líder. E só saiu com o sequestro de Embaixador americano (Charles Burke
Elbrick). - -
Isis
--- E a moça estava nesse meio? - - perguntou assustada.
Monroe
--- Sim. Nessa época, ela estava no Comitê Central e dava as
ordens para Vladimir Palmeira. Ele era o presidente da União Metropolitana dos
Estudantes em 1968. Comandou a maior manifestação organizada contra a Ditadura
Militar. A “Passeata dos Cem Mil”, em 26 de junho, no centro do Rio de Janeiro.
Preso no ano seguinte, ficou dez anos exilado. Voltou em 1979. Filiou-se ao PT
e foi eleito Deputado Federal. Ninguém imaginou levar cem mil pessoas para a
rua. Aquilo foi uma apoteose. Foi uma passeata pacífica. Aliais, esse negócio
de passeata se espalhou por todo o Brasil. O negócio virou uma verdadeira
“guerra”.
Isis
--- Qual a idade da moça? - -
Monroe
--- Hum? Dezenove anos, se não me falha a memória. Mas, ainda
no Rio, a jovem Vera Magalhães disse que a coisa mais encantadora que já ouviu
foi o discurso de Vladimir defendendo o Socialismo. Ele abriu o campo em defesa
do socialismo. Houve um contágio emocionante. –
Moema
--- Mas o movimento estudantil se desmobilizou pela falta de
ações concretas. Não se fala em prisões pelos Militares ou coisa assim. Mas
continuava havendo prisões por toda a parte do país. O movimento do Rio, não
foi somente na ex-capital da República. Houve em várias partes do Brasil ações
repressivas. Em Natal, por exemplo, houve um enxame de atividades estudantis e
a ação repressora da Capital. Eu tenho documentos da época.
Isis
--- Verdade? - - exclamou com espanto
Monroe
--- Houve muita repressão em todo o pais. E Natal não foi a
única cidade. As moças distintas eram as mais ativas do movimento. Houve
prisão, tortura, ameaças de morte. Os Quarteis fervilhavam de presos políticos.
Com o AI-5 (Ato Institucional) foi que a porrada comeu. A Luta Armada teve
início com o ato institucional. Lembra-se que Vera Magalhães e Franklin
Martins, jornalista, empregado, hoje, de O Globo, o maior defensor dos
Militares, escreveram os atos da oposição ao regime. - -
Isis
--- Como é? Esse mesmo Franklin? - - indagou revoltada.
Moema
--- Menina! Soldado é apenas soldado. Franklin e muitos
outros seguiam a orientação do que vinha ditado pela a direção do partido de
esquerda. Se ele fez, foi uma questão de dever. E nada mais. - -
Monroe
--- Você me lembra, agora, os Tupamaros, grupo guerrilheiro
do Uruguai. - -
Isis
--- Que são Tupamaros? - - indagou confusa.
Moema
--- É outra história. - - relatou encurtado a conversa.
Monroe
--- Verdade. Outra história. Porém vivida na mesma época dos
movimentos no Brasil. O que eu disse vamos ver isso depois. - -
Isis
--- Tupamaros? Que nome horrível! – - fez cara de
asco.
Moema
--- Seu significado é Tupac Amaru. Foi um índio que
enfrentou os espanhóis em 1572. O movimento de 1960 dedicou esse nome a ele – Tupamaros.
Era um movimento marxista-leninista de assalto a Bancos e coisa assim. Na
trajetória findaram por sequestrar o Consul brasileiro Aloísio Gomide. - -
declarou
Nenhum comentário:
Postar um comentário