UNIVERSO
- 04 -
SEGUINTE -
No dia
seguinte, Joelma estava sozinha em sua casa, lendo o livro que encontrou
perdido no chão um pouco abaixo da Igreja de São João, em Montanhas, sempre
abismada com o relato aludido pelo autor da brochura. O assunto era inquietante
e talvez, pouca gente conhecera esses domínios do Céu, como estava escrito. De
momento, quando a moça lia e relia a matéria, alguém bateu à porta de pequena
casa que a moça habitava. Seus pais tinham saído para o trabalho. O irmão mais
moço estava na escola e o irmão do meio também havia saído para algum lugar.
Ela estava apenas só e mais ninguém. Tao logo alguém bateu a porta – na verdade
era uma janela – Joelma se levantou e foi ver que era que estava chamando. Ao
chegar a janela, encontrou um ancião sem chapéu na cabeça, mas com esse chapéu
nas mãos, uma camisa um pouco desgastada e nada mais. As calças, ela não tinha
a possibilidade de ver, pois o velho estava encoberto pela parede de baixo.
Mesmo assim, podia ver as mãos do homem. Eram umas mãos de luta no campo, pois
mostrava o desgaste sofrido pelo tempo. A moça se aproximou do velho e lhe
indagou.
Joelma
--- Pois não!
O que precisa? - - indagou bem devagar
Ancião
--- Um pouco
de água, por favor. - - respondeu o velho
Joelma
--- Ah bom.
Trago já. Só tem quartinha. A geladeira pifou. - -
O homem sorriu
mostrando os seus dentes amarelos, talvez pelo tempo. A moça estava ainda com o
seu livro. Foi e veio de imediato. Duas canecas. Uma com a água. A outra para
servir ao ancião. Ela entregou o copo cheio de água e viu o velho tragar de
vez. Logo após, Joelma, com precaução, indagou
Joelma
--- Mais? - -
Ancião
--- Por seu
favor. Um pouco. - - respondeu a sorrir.
Quando sorriu
mostrou os seus dentes amarelos. A moça ficou sem nada falar. Achou apenas
triste os dentes do ancião. E nesse momento coçou a testa pigarreado por um
caso qualquer. O ancião estava do lado de fora e viu em cima de uma banca o
livro que Joelma estudava o seu conteúdo. Respondeu, enfim
Ancião
--- Um bom
livro, esse. Estude. Tem muita coisa a ensinar. - - e apontou para o livro lhe
entregando o copo de vidro no qual bebera a água.
Joelma se
voltou para ver o livrou que estava lendo e indagou.
Joelma
--- Esse?
Estou lendo. Mas é difícil. - - fez um gesto com os lábios.
Ancião
--- Não tem
importância. Leia-o! Faz bem. O
UNIVERSO. - - dizendo isso, saiu do vão da janela.
A moça pegou o
livro e observou que o velho não passara à porta da casa. Ela se assustou e
procurou divisar por onde o velho saíra. Mas, não conseguia divisar. Nem para
um lado e nem para o outro.
Joelma
--- Caramba!
P’ra onde foi o velho? - - perguntou assustada
Um arrepio lhe
tomou o corpo. Apenas, Joelma só teve vontade de fugir. Nesse instante, alguém
destrancou a porta. Era o seu irmão do meio, Jorge conhecido por Silva, pois
era um dos seus sobrenomes. Espantada, Joelma se voltou para a porta. Vendo o
irmão, foi logo perguntando.
Joelma
--- Onde está
velho? - - perguntou ao irmão.
Jorge
--- Velho? Que
velho? Sei lá de velho! - - respondeu ríspido o rapaz
Joelma
--- O velho
que estava bebendo água a coisa de um minuto! - - respondeu irada.
Jorge
--- Sei não!
Quero minha roupa! Vou já para o Quartel! - - rebateu com brutalidade.
Joelma
--- Bruto!
Está no quarto! Estúpido! - - contrapôs a moça.
Dessa vez a
moça seguiu para a cozinha procurando aprontar o almoço do irmão, pois a hora
era perto das onze e, com certeza, ele havia de querer o comer. Ela preparava o
prato e buscava entender o que se passou naquela manhã de sol. No meio do
pensar, Joelma decorou a fisionomia do velho sem nem ao menos lhe saber seu
nome. Com isso, a moça matutou. Algo lhe declarava de alguém por saber demais o
tal assunto. Nesse instante o irmão saiu do banho e foi logo almoçar.
Jorge
--- Ruim! - -
fez isso com a cara amarga
Joelma
--- E só tem
esse. Se não gosta bote fora! - - alertou com brutalidade
Jorge afastou
o prato para longe buscou se vestir às pressas no quarto onde estavam suas
mudas. Ainda pegou o matulão e saiu às pressas cuspindo para todos os lados
falando atrevimentos causando horrores para alguém a passar. A sua irmã não deu
a menor importância pois a partir daquele momento ela lembrou de uma mulher –
Donana – moradora um pouco longe da cidade e capaz de decifrar o caso do velho
que bateu na sua janela a pedir um copo de água. Donana poucas vezes viu
Joelma. Mais, quando menina. Ela curava de coisas que só a velha sabia curar.
Em tanto pequena, magra por sua vez e morava mais uma neta, coisa que ela
chamava. Nesse ponto, Joelma ficou de ir até a casa da anciã e contar-lhe tudo
o que lhe atormentava dessa vez. Após o almoço do irmão menor de todos, de sua
mãe, Maria, e do seu pai, Cosme, a moça se enfiou no meio do caminho a procura
de encontrar a tapera de Donana, já com os seus 80 anos para lhe benzer e
dialogar sobro todo o ocorrido. E foi assim que se deu naquela tarde de sol
quente.
Uma vez
chegando a tapera da velha Donana, nem precisou bater palmas, pois a anciã
estava na frente da choupana fumando o seu cachimbo, envergada pela vida e
pondo milho para as galinhas no oitão. A moça se acercou da anciã e deu a sua
boa tarde.
Donana
--- Se abanque
minha filha. - - disse a velhinha cuspindo de lado
Joelma
--- Estou
exausta. A sua casa é longe demais! - - e colocou o livro no local que se
sentou.
Donana
--- Tem gente
que caminha de muito longe para me ver. - - sorriu
Joelma
--- Tem mesmo.
A senhora é famosa. O povo do mato é quem diz. - -
Donana
--- E o que é
que a moça quer? - -
Joelma
--- É o
seguinte, minha avó. Eu acho que tenho poder de ver visagem. - -
Donana
--- E tem
mesmo, minha filha. Qual foi a última vez que viu? - -
Joelma
--- É o
seguinte. Primeiro, foi essa semana. Eu vi um médico. Ele apareceu e sumiu. Uma
amiga que não me viu. Um livro que eu achei e não encontrei o dono. Por fim, um
velho. Ele chegou na minha casa pedindo água. Eu dei e depois o velho sumiu. O
que a senhora diz minha avó? - -
Donana
--- Nada. O
que é preciso é você se desenvolver. Quando estiver vendo um espírito não se
assuste. Apenas indague o que ele quer. Se for do bem, ele logo diz. - -
Joelma
--- Só isso? -
-
Donana
--- E quer
mais? Vou te passar uns banhos de ervas e sempre volte para dizer o que
sucedeu, - -
Joelma
--- E tem
dias? - -
Nenhum comentário:
Postar um comentário