- CENA DO GOLPE -
- 56 -
DERROTADOS -
Dia 31 de Março de 1964, no Rio de Janeiro o
presidente João Belchior de Marques Goulart tentava conter a adesão das Forças
Armadas contra um levante golpista iniciado em Minas Gerais. Até então
confiante em relação aos Militares, Goulart percebeu que o Golpe ganhara força
com o apoio do II Exército sediado em São Paulo comandado por Amaury Kruel. Na
quarta-feira, o Governador da Guanabara, Carlos Lacerda, inimigo de Goulart,
ameaçava o almirante Candido da Costa Aragão ligado ao Presidente, em
transmissão ao vivo em uma cadeia de rádio, chamando o almirante de “assassino,
monstruoso. Incestuoso, miserável! ”. E os Estados Unidos reconheceriam o
Governo Alternativo. No dia 1º de Abril, em Brasília, analisou a possibilidade
decidindo seguir para Porto Alegre, RS. O presidente do Congresso, Senador Auro
de Moura Andrade, convoca uma reunião extraordinária declarando que “o senhor
presidente deixou a sede do Governo. Deixou a Nação acéfala. Entendo que
declaro a vaga a Presidência da República”.
O Golpe civil-militar destituiu o presidente João
Goulart no dia 1º de Abril de 1964. Onze dias depois o que restou do Congresso
Nacional deu posse ao primeiro dos presidentes militares, o Marechal Humberto
de Alencar Castelo Branco. O Brasil que coube a João Goulart governar era um
país modificado pela industrialização intensa das décadas anteriores. Durante o
Estado Novo de Getúlio Vargas investiu-se na indústria de base. O governo de
Juscelino Kubitscheck acentuou-se a indústria de bens de consumo. No cenário
internacional uma fase aguda da Guerra Fria. Os americanos, principais credores
do Brasil, exigiam do Governo brasileiro uma clara posição anticomunista. A
estratégia chamava-se Aliança para o Progresso. Durante o Governo de João
Goulart veio a pressão interna. Logo a seguir, a pressão externa.
Moema
--- É o que se pode falar. Na primeira pressão, a
economia e dívida externa alta. Falta de recurso para investir em instituições
públicas que não atendiam às demandas e uma crescente população urbana. O
emprego nas fábricas atraía os trabalhadores do campo. E o êxodo rural fazia o
custo de vida subir. - -
Isis
--- Isso não foi do meu tempo. -- -
Moema
--- Mas foi do seu pai, do seu avô e de quem mais
viveu naquela época. - -
Isis
--- Minha mãe ainda era menina. - - gargalhou.
Moema
--- Você não quer que eu chame você de burra, não? - -
irritada
Isis cada vez mais gargalhou e após alguns minutos,
respondeu.
Isis
--- Vá. Conte mais! - - disse sorrindo
Moema
--- Agora, não conto!!! - - disse isso emburrada.
Isis
--- Eu? - - e sacolejou os ombros.
Moema
--- Você sabe que é burra, não é? - - irritada
Isis
--- Parece-me que burra é a tua madrinha. - -
engrossou a voz.
Nesse momento entrou no cômodo o Embaixador Ênio
Monroe e indagou vendo o caso em desmantelo.
Monroe
--- Que houve? Já brigaram? - - sorriu o homem.
Isis
--- É a tua irmã. Não sabe nem sequer gargalhar com
uma piada. - -
Monroe
--- Verdade? – - e olhou para Moema.
Essa não quis conversa. Levantou-se da poltrona e
estirou a língua para Isis. Em seguida, saiu aos trancos e barrancos.
Isis
--- Tá vendo? Tá vendo? Agora eu sou a burra! - -
falou abusada
Monroe
--- Mas o que houve? - - calmo indagou
Isis
--- Nada não. Apenas uma questão por causa do
Presidente. - -
Monroe
--- Qual? Deixa eu ver. - - e olhou o conteúdo da
leitura.
Logo após, Monroe consertou onde a sua irmã parou.
Monroe
--- É o seguinte: vou prosseguir de onde você estava.
Bem. Havia três partidos políticos: a UDN, partido conservador fundado pelos
governadores Magalhães Pinto, de Minas Gerais, e Carlos Lacerda, da Guanabara.
Ademar de Barros, do PSP, também engrossava o caldo da oposição composta pelos
Estados mais forte da oposição. É preciso dizer que a UDN foi responsável por
duas tentativas frustradas de golpe de estado. Em 1955, para impedir a posse de
Juscelino e em 1961, para impedir a posse de João Goulart. A posse de João
Goulart na Presidência da República começou com conversas dele não terminar o
mandato ou mesmo de enfraquece-lo. - -
Isis
--- Era uma baderna geral. Como agora. - - falou com
abuso.
Monroe
--- Pois é. Para você ver. O João Goulart estava numa
situação fragilizada. Até porque ele chegou à Presidência por acaso. Com apoio
dos Trabalhistas, Jango conquistou o presidencialismo num plebiscito. Mas a
esquerda cobrava a conta a começar pela própria família. Leonel Brizola,
Governador do Rio Grande do Sul, casado com uma irmã de Jango, começou a
expropriação de empresas norte-americanas. Segundo ele, não atendiam aos
interesses da população gaúcha. - -
Isis
--- Quais interesses eram esses? - - indagou
Monroe
--- Era difícil de explica isso até mesmo aos Estados
Unidos. Para estimular o investimento do capital estrangeiro se Brizola desse a
esse capital uma concessão justa. Isto é. Expressar o capital brasileiro por
justiça. Para não se obter também lucros excessivos. Lucro que enriquecesse
muito depressa os estrangeiros em contrapartida os interesses nacionais.
Isis
--- Entendo. Brizola não queria saber do poder de dar
sem receber. - -
Monroe
--- Mais ou menos assim. Os Estados Unidos eram a
pressão externa. Inicialmente amistoso, o Governo do presidente Kennedy, que
enfrentava a grave crise dos misseis em Cuba, passou a endurecer o discurso.
Para resolver o problema da economia, Jango apresentou o plano trienal
elaborado pelo economista Celso Furtado. Os americanos, suspeitado das
intenções do Brasil, colocaram trabalhistas e comunistas no mesmo saco e se opuseram
a novos empréstimos. Mesmo antes de conspirar, o Governo e as empresas
norte-americanas passaram a financiar a desestabilização do Governo Goulart com
associações de propaganda feita por empresários, militares e políticos para uma
conspiração. Filmes, panfletos. Tudo isso entrava em derrota o Governo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário