quinta-feira, 8 de outubro de 2015

LUTA ARMADA - 46 -

- ARMAS -
- 46 -
O PROCESSO -
Em uma noite qualquer de calor o diplomata Ênio Monroe estava em sua sala de repouso quando surgiu de vez a senhorita Isis Fernandes. Logo após chegava também a bela irmã do estadista, senhorita Moema a sorrir por causa do assunto descoberto por sua amiga. Isso se deu as altas horas da noite. Gentil, o diplomata estava levemente a cochilar, apesar de ter a televisão ligada a passar um filme interessante conhecido por demais e de pleno sucesso desde sua época de lançamento: “Bonequinha de Luxo”, com Audrey Hepburn a artista principal. O enredo era banal sem qualquer mérito. Talvez, o título original vingasse maior vantagem a trama – Breakfast at Tiffany’s. De um modo ou de outro, era um tema sem maior importância. A beleza enigmática ficava por conta da atriz apesar da finura do seu corpo por excelência. Quando Isis chegou próximo ao diplomata, esse levou alguns segundos para despertar de vez. E, então, perguntou.
Monroe
--- Que houve? Ratos? - - assustado
Isis e Moema sorriram as pampas. E uma delas, a Isis Fernandes, respondeu.
Isis
--- Não senhor, ilustre mestre. Algo, talvez sem a menor importância. Mas vale a pena saber. O Maranhão. O que o senhor pode saber? - -
Monroe
--- Ah. Bom! É um Estado do Nordeste do Brasil, bem acima do Piaui. Sua população e de pardos, isto é: descendentes de brancos e negros. Uma miscigenação mulata. Cerca de 70% por cento da população é de gente parda. O que mais? - -
Isis
--- E esse povo de onde veio? - -
Monroe
--- Ah. Isso vai para acima mais de 400 anos, com a descoberta do Brasil. Houve grande concentração de escravos indígenas e africanos. Esse pessoal trabalhava nas lavouras da cana-de-açúcar, arroz e algodão como em todo o Nordeste. Hoje, em outros Estados também se atua com essas culturas. - -
Isis
--- E então? E os brancos? - -
Monroe
--- Brancos? Ah. Esses eram os Governantes, os donos de terra. Donos do alumínio, da madeira e mesmo do babaçu, um vegetal, e da pecuária. - -
Isis
--- Mas só tem brancos no poder? - -
Monroe
--- Bem. Agora, a situação se inverteu. Até o tempo de José Sarnei, havia uma forte descendência de brancos. Isso até um ano. Mas, os municípios foram fazendo a sua vez e a população foi aumentando e agora, o Governador é um ex-deputado federal de cor morena. O senhor Flávio Dino de Castro e Costa, advogado, ex-juiz federal, ex-professor, nascido em São Luiz, a capital do seu Estado. E é filiado ao Partido Comunista do Brasil
Isis
-- É muita coisa! - - e deu um assobio
Moema
--- É o tempo. As mudanças. - - sorriu.
Monroe
--- Disse o Governador que vai zelar pelo Maranhão e não quer vê-lo transformado em outro Rio Grande do Sul. Ele exemplificou o pagamento de servidor público em atraso feito em quatro parcelas. - -
Moema
--- Na verdade, o Rio Grande do Sul é ou foi um Estado bastante forte. De lá saíram Getúlio Vargas e Luis Carlos Prestes, líder da revolta de 1935.  - -
Monroe
--- Ele frequentou a Escola Militar do Realengo e galgou o posto de Capitão.
Isis
--- E se casou com Olga Benário, em 1934.Tenho aqui anotado. - - e mostrou seu caderno de notas -. E a vida, no Maranhão, como está sendo agora? - -
Monroe
--- Linda moça. Hoje, o Estado está em completa ruína. Apesar de ter um Governador vindo do PCB, ser um Comunista com todo ardor, o Estado vive em uma penúria. Os casarios do centro histórico de São Luis são uma pocilga bem ao contrário do século 16. Na capital teve os primeiros bondes, iluminação a gás e mais recente um sistema telefônico. Hoje, as construções em ruinas mostra como o Estado foi administrado ao longo do tempo.
Moema
--- O Maranhão passou por fases de grande enriquecimento seguido de declínio econômico. Hoje, o Maranhão está no nível mais baixo dos indicadores que medem a qualidade de vida da população. - -
Monroe
--- O Índice de Desenvolvimento Humano de Estado – IDH – é o segundo pior do Brasil. A frente apenas do de Alagoas. A proporção de pessoas em pobreza estrema é mais que o dobro do percentual do Brasil. No interior do Estado a precariedade aumenta. Os condomínios para esses lados são de casas de taipa. Você imagine. Taipa mesmo. Um casebre com um quarto e nada mais. Sistema de água, para mais além, não oferece o dia inteiro. Tem cidades onde não há calçamento nas ruas, não tem água encanada e nem luz elétrica. E mais além o transporte é um barco onde o rio é o condutor. Na Ilha da Ribeira, bem mais além de São Luis, não há rede de água, nem de luz. Uma casinha de taipa funciona como escola. A merenda servida aos menores de até 5 nos de idade é um mingau. As crianças comem sentadas no chão de barro batido. - -
Isis
--- Eu não acredito! Se bem que no interior do meu Estado a coisa vai de mal a pior. E nem tem merenda, p’ra bem dizer. Água? A fonte secou. Tem um açude, o Gargalheiras. Esse secou. E estão secos os outros açudes, inclusive de Caicó. O açude de Assú, não dura muito para acabar. Luz? O povo está pagando em “vermelho” porque o Governo não cobre o que deveria fazer. - -
Moema
--- Na capital, a água tem volume. Mas, a luz elétrica de se vende em Natal, é reclamação total do consumidor. Não tem televisor, computador, ar condicionado. Tem escola, no interior, que as crianças assistem aula debaixo das mangueiras, pois dentro das salas, elas não aguentam o calor. Horrível!  Isso é no Rio Grande do Norte! - -
Monroe
--- Para você ver o que se tem no nosso Estado e em Estados vizinhos como Pernambuco, Paraíba e Ceará. Isso me faz lembrar uma música de Luiz Gonzaga: “Quem é rico, anda em burrico. Quem é pobre, anda a pé”. Eu vi, agora, o povo vindo da Paraíba para Canindé, no Ceará, caminhando pela estrada, a pé. E esse povo pobre dizia que pagava promessa por falta de água.
Isis
--- Mas voltando ao Maranhão. Naquele canto remoto tem construções inacabadas levando todo o dinheiro federal, como a Petrobrás onde se aplicou mais de 500 milhões de Reais. O terreno está improdutivo. - -
Moema
--- Outro projeto megalomaníaco só tem os galpões se acabando. Não produz um fiapo de linha para o que deveria ser produtor. É o polo de confecções de Rosário que continua por mais de 20 anos a recolher recursos públicos e privados sem produzir uma peça de roupa. - -
Isis
--- O que há de proveito são os assassinatos da Cadeia Pública de Pedrinhas, em São Luis. – - falou revoltada

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