- ARMAS -
- 46 -
O PROCESSO -
Em uma noite qualquer de calor o diplomata Ênio Monroe
estava em sua sala de repouso quando surgiu de vez a senhorita Isis Fernandes.
Logo após chegava também a bela irmã do estadista, senhorita Moema a sorrir por
causa do assunto descoberto por sua amiga. Isso se deu as altas horas da noite.
Gentil, o diplomata estava levemente a cochilar, apesar de ter a televisão
ligada a passar um filme interessante conhecido por demais e de pleno sucesso
desde sua época de lançamento: “Bonequinha de Luxo”, com Audrey Hepburn a
artista principal. O enredo era banal sem qualquer mérito. Talvez, o título
original vingasse maior vantagem a trama – Breakfast at Tiffany’s. De um modo
ou de outro, era um tema sem maior importância. A beleza enigmática ficava por
conta da atriz apesar da finura do seu corpo por excelência. Quando Isis chegou
próximo ao diplomata, esse levou alguns segundos para despertar de vez. E,
então, perguntou.
Monroe
--- Que houve? Ratos? - - assustado
Isis e Moema sorriram as pampas. E uma delas, a Isis
Fernandes, respondeu.
Isis
--- Não senhor, ilustre mestre. Algo, talvez sem a
menor importância. Mas vale a pena saber. O Maranhão. O que o senhor pode
saber? - -
Monroe
--- Ah. Bom! É um Estado do Nordeste do Brasil, bem
acima do Piaui. Sua população e de pardos, isto é: descendentes de brancos e
negros. Uma miscigenação mulata. Cerca de 70% por cento da população é de gente
parda. O que mais? - -
Isis
--- E esse povo de onde veio? - -
Monroe
--- Ah. Isso vai para acima mais de 400 anos, com a
descoberta do Brasil. Houve grande concentração de escravos indígenas e
africanos. Esse pessoal trabalhava nas lavouras da cana-de-açúcar, arroz e
algodão como em todo o Nordeste. Hoje, em outros Estados também se atua com
essas culturas. - -
Isis
--- E então? E os brancos? - -
Monroe
--- Brancos? Ah. Esses eram os Governantes, os donos
de terra. Donos do alumínio, da madeira e mesmo do babaçu, um vegetal, e da
pecuária. - -
Isis
--- Mas só tem brancos no poder? - -
Monroe
--- Bem. Agora, a situação se inverteu. Até o tempo de
José Sarnei, havia uma forte descendência de brancos. Isso até um ano. Mas, os
municípios foram fazendo a sua vez e a população foi aumentando e agora, o
Governador é um ex-deputado federal de cor morena. O senhor Flávio Dino de
Castro e Costa, advogado, ex-juiz federal, ex-professor, nascido em São Luiz, a
capital do seu Estado. E é filiado ao Partido Comunista do Brasil
Isis
-- É muita coisa! - - e deu um assobio
Moema
--- É o tempo. As mudanças. - - sorriu.
Monroe
--- Disse o Governador que vai zelar pelo Maranhão e
não quer vê-lo transformado em outro Rio Grande do Sul. Ele exemplificou o
pagamento de servidor público em atraso feito em quatro parcelas. - -
Moema
--- Na verdade, o Rio Grande do Sul é ou foi um Estado
bastante forte. De lá saíram Getúlio Vargas e Luis Carlos Prestes, líder da
revolta de 1935. - -
Monroe
--- Ele frequentou a Escola Militar do Realengo e
galgou o posto de Capitão.
Isis
--- E se casou com Olga Benário, em 1934.Tenho aqui
anotado. - - e mostrou seu caderno de notas -. E a vida, no Maranhão, como está
sendo agora? - -
Monroe
--- Linda moça. Hoje, o Estado está em completa ruína.
Apesar de ter um Governador vindo do PCB, ser um Comunista com todo ardor, o
Estado vive em uma penúria. Os casarios do centro histórico de São Luis são uma
pocilga bem ao contrário do século 16. Na capital teve os primeiros bondes,
iluminação a gás e mais recente um sistema telefônico. Hoje, as construções em
ruinas mostra como o Estado foi administrado ao longo do tempo.
Moema
--- O Maranhão passou por fases de grande
enriquecimento seguido de declínio econômico. Hoje, o Maranhão está no nível
mais baixo dos indicadores que medem a qualidade de vida da população. - -
Monroe
--- O Índice de Desenvolvimento Humano de Estado – IDH
– é o segundo pior do Brasil. A frente apenas do de Alagoas. A proporção de
pessoas em pobreza estrema é mais que o dobro do percentual do Brasil. No
interior do Estado a precariedade aumenta. Os condomínios para esses lados são
de casas de taipa. Você imagine. Taipa mesmo. Um casebre com um quarto e nada
mais. Sistema de água, para mais além, não oferece o dia inteiro. Tem cidades
onde não há calçamento nas ruas, não tem água encanada e nem luz elétrica. E
mais além o transporte é um barco onde o rio é o condutor. Na Ilha da Ribeira,
bem mais além de São Luis, não há rede de água, nem de luz. Uma casinha de
taipa funciona como escola. A merenda servida aos menores de até 5 nos de idade
é um mingau. As crianças comem sentadas no chão de barro batido. - -
Isis
--- Eu não acredito! Se bem que no interior do meu
Estado a coisa vai de mal a pior. E nem tem merenda, p’ra bem dizer. Água? A
fonte secou. Tem um açude, o Gargalheiras. Esse secou. E estão secos os outros
açudes, inclusive de Caicó. O açude de Assú, não dura muito para acabar. Luz? O
povo está pagando em “vermelho” porque o Governo não cobre o que deveria fazer.
- -
Moema
--- Na capital, a água tem volume. Mas, a luz elétrica
de se vende em Natal, é reclamação total do consumidor. Não tem televisor,
computador, ar condicionado. Tem escola, no interior, que as crianças assistem
aula debaixo das mangueiras, pois dentro das salas, elas não aguentam o calor.
Horrível! Isso é no Rio Grande do Norte!
- -
Monroe
--- Para você ver o que se tem no nosso Estado e em
Estados vizinhos como Pernambuco, Paraíba e Ceará. Isso me faz lembrar uma música
de Luiz Gonzaga: “Quem é rico, anda em burrico. Quem é pobre, anda a pé”. Eu
vi, agora, o povo vindo da Paraíba para Canindé, no Ceará, caminhando pela
estrada, a pé. E esse povo pobre dizia que pagava promessa por falta de água.
Isis
--- Mas voltando ao Maranhão. Naquele canto remoto tem
construções inacabadas levando todo o dinheiro federal, como a Petrobrás onde
se aplicou mais de 500 milhões de Reais. O terreno está improdutivo. - -
Moema
--- Outro projeto megalomaníaco só tem os galpões se
acabando. Não produz um fiapo de linha para o que deveria ser produtor. É o
polo de confecções de Rosário que continua por mais de 20 anos a recolher
recursos públicos e privados sem produzir uma peça de roupa. - -
Isis
--- O que há de proveito são os assassinatos da
Cadeia Pública de Pedrinhas, em São Luis. – - falou revoltada
Nenhum comentário:
Postar um comentário