sábado, 3 de junho de 2017

SONHOS DE MARILU - 23 -

- ANJOS -
- 23 -

ASSOMBROS

Naquela mesma noite, Marilu voltou para a sua casa onde morava com a sua mãe. A pessoa que ficou de ir, não sabe o porquê, ela de momento faltou. As duas mulheres, mãe e filha, conversaram por um bom tempo. Marilu relembrado a história do pai que “apareceu” na madrugada anterior. A mãe, dona Noca, não queria nem saber em assombrações, seja de quem fosse, muito menos do marido já falecido. Apesar de não querer ouvir, a filha continuou a falar. E dizia não ser assombração. Ela, na verdade, viu o vulto do seu pai, Paulo. Na, verdade a moça não lembrava de ter visto, no passado distante. Não tinha nem ideia de como ele era. E pediu um momento que sua mãe esperasse até ela contar o que se deu em uma Sessão Espírita que Marilu fora na noite daquele dia.
Noca
--- Espiritismo? Tem mais essa? - - indagou abusada.
Marilu
--- Mãe, escute, por favor. Veja bem. Quando eu já voltava do Centro, encontrei uma mulher. Ela me disse ser chamada Joana e conhecia bem a senhora. –
Noca
--- Joana? Quem é essa mulher? - - quis saber afobada.
Marilu
--- Eu não sei, mãe. Nem a conheço. Ela foi quem disse ser chamada Joana. E então nós conversamos pelo caminho.  E a mulher me contou que quando era menina de seus seis anos ela foi a um funeral, no próprio cemitério de sua cidade. - -
Noca
--- Funeral? Deus me livre! - - e bateu com a mão na tabua da mesa.
Marilu
--- Espera, mãe. Escute.  Ela contou que foi com a sua mãe, porque em sua casa morava ela e a mãe. A sua mãe era separada do marido, penso eu.  E, durante o enterro, ela deixou a sua mãe e foi brincar próximo a uma sepultura.
Noca
--- Que ver a desgraça! - - falou dona Noca
Marilu
--- Espere. Deixa eu contar. Também a senhora! Pois bem. Joana estava longe de sua mãe. Mesmo assim, a sua mãe sempre olhava para ela, dando a impressão de quem a via. Tá me entendendo? - -
Noca
--- Sim. Continue. - -
Marilu
--- Bem. E a menina – (hoje uma mulher de meia idade) – corria, dava risada, parecendo que conversava com alguém. Terminado o enterro, a mãe de Joana começava a lhe chamar. Mesmo assim a garota não atendia. Após algum tempo, Joana se virou e olhou para trás. Deu adeus a quem esteve conversando e saiu contente da vida.
Noca
--- Quer ver a desgraça!
Marilu
--- Espere, ora! E a sua mãe perguntou para a filha a quem ela estava dando “adeus”. E dona Joana, (nesse tempo era uma menina), disse que era para as crianças. Acontece que não havia ninguém onde a menina brincava. Muito menos crianças. E a sua mãe teve que voltar e viu, no lugar, as sepulturas de crianças. Ali estavam sepultadas, apenas, crianças mortas ou que nasceram sem vida. Coisas dessa natureza.
Noca
--- E você acreditou nessa história! - - perguntou dona Noca
Marilu
--- Foi ela quem contou! E eu vou duvidar? Só sei que dona Joana foi pega pelo braço por sua mãe. A mulher arrastou a menina e saiu correndo do cemitério. Ele, a mãe da menina, não quis nem explicar que ninguém estava enterrada ali. Essa história, nunca a dona Joana contou a ninguém. Só agora porque ouviu o caso que eu contei. Ela disse que eu podia acreditar. Meu pai falou comigo. –
Noca
--- Sim, senhora! Maravilhoso! Mas não me engana! - - falou a mulher um tanto abusada.
Marilu
--- Vai dizer que não acredita? Pois pergunte a dona Joana! - -
Noca
--- Acredito. Acredito. Você não contou? Ora mais! - -
Marilu
--- Minha mãe, as crianças são sensíveis. Elas podem estar vendo coisas que outros, os adultos, não conseguem ver. As crianças são mais puras, mais limpas, elas conseguem ver, até mesmo por uma questão de serem sensitivas.
Noca
--- Eu não acredito. Na minha terra, tem até cemitérios. Mas nunca ouvi falar nessas coisas. Para mim, isso é bruxaria. –
Marilu
--- E a minha avó? Nunca contou nada? - -
Noca
--- Que eu me lembre, não. Tinha uma “rezadeira” que contava dessas coisas para nossas mães. Não sei. Para mim, eu nunca vi. –
Marilu
--- Tá vendo? Tá vendo? Eu não digo? A senhora bem que sabe! - -
Noca
--- Teve um caso, que eu me lembre. A mulher foi quem contou! Mas eu não acredito nem um pingo
Marilu
--- Conte o que a mulher falou! - -
Noca
--- São coisas das antas. Ela falava que no Cemitério tem um canto onde se enterram crianças, tem uma parte onde se põe uma grade pequena, branca, e se coloca um “anjo” como guardião. Tem gente eu sente arrepios quando passa nesses locais. Para mim, eu nem me importo.
Marilu
--- Eu ainda vou passar no cemitério daqui para ver se tem essas grades.
Noca
--- Grade? É só o que tem. Tem de molho! –
Marilu
--- Não sei! Agora estou na dúvida. Eu vou falar com o meu chefe para se fazer uma matéria no cemitério qualquer dia desses.
Noca
--- Faça. Não custa nada. É só gastar sola de sapato. –
Marilu
--- Tem um homem que ele pode dar informações. Neco, é o seu nome.
Noca
--- Sabe onde ele mora? - -
Marilu
--- Penso que é lá mesmo no Cemitério.
Noca
--- Nossa! No cemitério? - -
Marilu
--- Sim. Ele vive por lá. Só sai quando vai receber pagamento. As vezes nem vai. Os outros recebem por ele. - -
Noca
--- Imagine. Ele já é defunto. Mesmo vivo. - - sorriu    

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