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NAVIOS
Logo após a
conversa mantida com Janilce, a nova repórter do Jornal, por acaso Marilu
deixou à vista o calhamaço o qual trazia consigo para lê-lo nas horas livres
quando com certeza tivesse. À tarde, ela ocupava com novas matérias. Navios Ita,
era um primor. Durante a semana, três navios dessa categoria aportavam na
capital, apenas quando a maré estava cheia. E esperavam outra maré cheia para
poder largar com destino ao Sul do Brasil, se fosse o caso. Passageiros tinham
de ruma. Gente que ia a passeio ou mesmo a procura de trabalho, pois nessa
terra havia somente espera. Antes e sair para fazer matérias, Marilu arrastou o
livro, que era seu. Nesse ponto, Janilce observou quando Marilu retirou esse grande
livro. E perguntou, afinal,
Janilce
--- Um livro?
Você ainda estuda? - - quis saber apreensiva.
Marilu
--- Sim.
Livro. Porém eu só o leio. Não escolar. – - respondeu sorrindo
Janilce
--- Mas trata
do que? - - apreensiva
Marilu
--- Esse,
trata de vários assuntos. Não tem nada com escolar. - - refletiu.
Janilce
--- Eu posse
ver? - - curiosa
Marilu
--- Sim. Pois
não. Com certeza. - - e entregou o Alfarrábio
E Janilce
começou a pesquisar. Não entendia nada. Porém foi à frente no exame daquilo que
foi deixado para trás. E leu tudo o que pode ler no caminho para o Cais do
Porto da capital. Com avidez, Janilce verificou toda a obra, nem parte da
metade de quem escrevera tudo o que estava a ler.
Janilce
--- Brilhante.
Você tem somente esse volume? - - quis saber
Marilu
--- Eu? Tenho.
Mas se o assunto pode ser do seu interessa, eu posso ver onde se vende e
procuro saber se o homem tem alguns. - - respondeu educadamente
Janilce
--- Ótimo.
Ótimo. Eu posso ir também? - - perguntou sem alarme
Marilu
--- Se possível,
você pode ir também. - - destacou
O Cais do
Porto estava fervilhando de gente. O auto virou a curva e seguiu em frente.
Janilce ainda disse.
Janilce
--- Eu vou
para o Palácio? - - e sorriu
Marilu sorriu
de volta e ainda fez aceno com a mão como quem dava adeus ou até mais.
Muita gente
mesmo. Os queriam embarcar no navio e os familiares dos que partiam. Choros
para qualquer lado. Um homem subiu à rampa a procura de bebidas. Mas recebeu a
negativa. Então, ele retornou de vez. Meninos e meninas a correr desenfreados
pelos corredores do Ita. Os homens a tagarelar. Mulheres a chorar. Era tudo uma
confusão. De fora do navio ouvia-se quem se despedia.
Pessoas
--- Volte
logo! – - diziam as esposas ou namoradas.
Marilu
conversava com quem partia ou mesmo quem não seguia viagem. Era um inferno de
gente. Uns para um lado. Outros seguindo para os armazéns de carga. As
conversas eram francas. De tudo se falava. Uma hora depois ouviu-se um barulho.
As crianças, apavoradas, desceram com pressa por conta do roncar. Era a buzina
do Ita a buzinar, como sempre fazia ao partir. Então, os que ficaram acenavam
com seus lenços para os que seguiam. De ficava, não tinha nem receio em chorar.
Todos estava ali para dar seu último adeus. Até Marilu, como se tivesse alguém
a partir. Quem ficava, era um longo caminho de volta.
Na
quarta-feira, Marilu com Janilce, estavam da feira-livre do Carrasco. Marilu,
já conhecida do homem – Floriano, dono da mercearia – apresentou a novata,
colega de Redação do Jornal do Estado e perguntou pelas novidades. De imediato,
Floriano buscou um novo livro
Floriano
--- Tem esse
aqui. Recebi essa semana. Um estudo da filosofia esotérica. – - mostrou
Marilu
---
Interessante. Mas vejamos o que prefere a jovem Janilce! Pode falar senhora! -
- sorriu
Janilce
--- Eu estava
procurado um livro que o senhor vendeu a ela na semana passada. Os Segredos dos
Ocultismo. E esse mesmo? - - quis saber Janilce
Floriano
--- Sim. Ainda
tenho! Quer o mesmo? - - sorriu o homem e foi buscar o livro
De repente
começou uma guerra do lado de fora, na feira. Dois contendores, armados de
facas entraram em luta. O povo todo correu. Uns, por debaixo das bancas.
Outros, de rua a fora. Alguém guardava as panelas ferventes, com carne, galinha
e bode. E os soldados da polícia chegaram, de imediato, para apartar a
contenda. Os meliantes, cheios de ferimentos afetados pelas facas, quiseram
correr. Mas, um soco da cara foi fatal. Os barraqueiros foram presos, de
imediato. A guerra terminou em nada.
Janilce
--- Virgem!
Que coisa? Dois homens se matando? - - disse a moça como o maior medo do mundo.
Floriano
--- É assim.
Toda semana matam um! Espíritos maus! - - alegou
Marilu
--- Ainda
estou lendo o Ocultismo. Depois eu venho aqui. - - relatou
Floriano
--- Se não me
puder pagar agora, paga depois. A senhora tem crédito. –
Marilu
--- Eu sei.
Mas vejamos que Janilce vai comprar! - - alegou
Janilce
--- Eu quero.
Só embrulhar. - - relatou
Floriano
--- Tem outros
mais. Não vai querer? - - perguntou
Janilce
--- Depois eu
vejo. Só esse, agora. - -sorriu
Logo após as
duas jornalistas seguiram a pé. Dessa vez, o carro não estava com elas. As
moças conversaram sobre o bairro onde tudo parecia esquisito.
Marilu
--- De noite,
aqui é um breu. - -
Janilce
--- Deve ter
casa de macumba. - - arrepiada
Marilu
--- Aquele
homem, ao que parece, é um macumbeiro de fama! - - discorreu
Janilce
--- Jura? E
agora? Eu fui comprar um livro a um macumbeiro? - - assustada
Marilu
--- Faz mal
não. A gente já é da turma! - - gargalhou
Janilce
--- Tem jura!
Eu, heim? “Pé de pato mangalô três veis! - - e se arrepiou
Marilu
gargalhou a beça.
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