quinta-feira, 15 de junho de 2017

SONHOS DE MARILU - 38 -

- NAVIOS 
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NAVIOS

Logo após a conversa mantida com Janilce, a nova repórter do Jornal, por acaso Marilu deixou à vista o calhamaço o qual trazia consigo para lê-lo nas horas livres quando com certeza tivesse. À tarde, ela ocupava com novas matérias. Navios Ita, era um primor. Durante a semana, três navios dessa categoria aportavam na capital, apenas quando a maré estava cheia. E esperavam outra maré cheia para poder largar com destino ao Sul do Brasil, se fosse o caso. Passageiros tinham de ruma. Gente que ia a passeio ou mesmo a procura de trabalho, pois nessa terra havia somente espera. Antes e sair para fazer matérias, Marilu arrastou o livro, que era seu. Nesse ponto, Janilce observou quando Marilu retirou esse grande livro. E perguntou, afinal,
Janilce
--- Um livro? Você ainda estuda? - - quis saber apreensiva.
Marilu
--- Sim. Livro. Porém eu só o leio. Não escolar. – - respondeu sorrindo
Janilce
--- Mas trata do que? - - apreensiva
Marilu
--- Esse, trata de vários assuntos. Não tem nada com escolar. - - refletiu.
Janilce
--- Eu posse ver? - - curiosa
Marilu
--- Sim. Pois não. Com certeza. - - e entregou o Alfarrábio
E Janilce começou a pesquisar. Não entendia nada. Porém foi à frente no exame daquilo que foi deixado para trás. E leu tudo o que pode ler no caminho para o Cais do Porto da capital. Com avidez, Janilce verificou toda a obra, nem parte da metade de quem escrevera tudo o que estava a ler.
Janilce
--- Brilhante. Você tem somente esse volume? - - quis saber
Marilu
--- Eu? Tenho. Mas se o assunto pode ser do seu interessa, eu posso ver onde se vende e procuro saber se o homem tem alguns. - - respondeu educadamente
Janilce
--- Ótimo. Ótimo. Eu posso ir também? - - perguntou sem alarme
Marilu
--- Se possível, você pode ir também. - - destacou
O Cais do Porto estava fervilhando de gente. O auto virou a curva e seguiu em frente. Janilce ainda disse.
Janilce
--- Eu vou para o Palácio? - - e sorriu
Marilu sorriu de volta e ainda fez aceno com a mão como quem dava adeus ou até mais.
Muita gente mesmo. Os queriam embarcar no navio e os familiares dos que partiam. Choros para qualquer lado. Um homem subiu à rampa a procura de bebidas. Mas recebeu a negativa. Então, ele retornou de vez. Meninos e meninas a correr desenfreados pelos corredores do Ita. Os homens a tagarelar. Mulheres a chorar. Era tudo uma confusão. De fora do navio ouvia-se quem se despedia.
Pessoas
--- Volte logo! – - diziam as esposas ou namoradas.
Marilu conversava com quem partia ou mesmo quem não seguia viagem. Era um inferno de gente. Uns para um lado. Outros seguindo para os armazéns de carga. As conversas eram francas. De tudo se falava. Uma hora depois ouviu-se um barulho. As crianças, apavoradas, desceram com pressa por conta do roncar. Era a buzina do Ita a buzinar, como sempre fazia ao partir. Então, os que ficaram acenavam com seus lenços para os que seguiam. De ficava, não tinha nem receio em chorar. Todos estava ali para dar seu último adeus. Até Marilu, como se tivesse alguém a partir. Quem ficava, era um longo caminho de volta.
Na quarta-feira, Marilu com Janilce, estavam da feira-livre do Carrasco. Marilu, já conhecida do homem – Floriano, dono da mercearia – apresentou a novata, colega de Redação do Jornal do Estado e perguntou pelas novidades. De imediato, Floriano buscou um novo livro
Floriano
--- Tem esse aqui. Recebi essa semana. Um estudo da filosofia esotérica. – - mostrou
Marilu
--- Interessante. Mas vejamos o que prefere a jovem Janilce! Pode falar senhora! - - sorriu
Janilce
--- Eu estava procurado um livro que o senhor vendeu a ela na semana passada. Os Segredos dos Ocultismo. E esse mesmo? - - quis saber Janilce
Floriano
--- Sim. Ainda tenho! Quer o mesmo? - - sorriu o homem e foi buscar o livro
De repente começou uma guerra do lado de fora, na feira. Dois contendores, armados de facas entraram em luta. O povo todo correu. Uns, por debaixo das bancas. Outros, de rua a fora. Alguém guardava as panelas ferventes, com carne, galinha e bode. E os soldados da polícia chegaram, de imediato, para apartar a contenda. Os meliantes, cheios de ferimentos afetados pelas facas, quiseram correr. Mas, um soco da cara foi fatal. Os barraqueiros foram presos, de imediato. A guerra terminou em nada.
Janilce
--- Virgem! Que coisa? Dois homens se matando? - - disse a moça como o maior medo do mundo.
Floriano
--- É assim. Toda semana matam um! Espíritos maus! - - alegou
Marilu
--- Ainda estou lendo o Ocultismo. Depois eu venho aqui. - - relatou
Floriano
--- Se não me puder pagar agora, paga depois. A senhora tem crédito. –
Marilu
--- Eu sei. Mas vejamos que Janilce vai comprar! - - alegou
Janilce
--- Eu quero. Só embrulhar. - - relatou
Floriano
--- Tem outros mais. Não vai querer? - - perguntou
Janilce
--- Depois eu vejo. Só esse, agora. - -sorriu
Logo após as duas jornalistas seguiram a pé. Dessa vez, o carro não estava com elas. As moças conversaram sobre o bairro onde tudo parecia esquisito.
Marilu
--- De noite, aqui é um breu. - -
Janilce
--- Deve ter casa de macumba. - - arrepiada
Marilu
--- Aquele homem, ao que parece, é um macumbeiro de fama! - - discorreu
Janilce
--- Jura? E agora? Eu fui comprar um livro a um macumbeiro? - - assustada
Marilu
--- Faz mal não. A gente já é da turma! - - gargalhou
Janilce
--- Tem jura! Eu, heim? “Pé de pato mangalô três veis! - - e se arrepiou
Marilu gargalhou a beça.


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