terça-feira, 6 de junho de 2017

SONHOS DE MARILU - 26 -

- TÚMULO -
- 26 -
A MORTA - 

Marilu tomou um susto de arrepiar até os cabelos dos pés, se pé tem cabelo. O velho Neco, parou por um instante em frente a um túmulo bem desgastado pelo tempo. Ali estava sepultada, com certeza, uma mulher. Isso, há muito tempo. O velho caminhou um pouco e chegou ao túmulo onde pois a sua mão. Em seguida foi dizendo que aquela catacumba tinha uma história assombrosa.
Neco
--- Quer ouvir o assombro? - -
O céu estava claro e o fotografo caminhou para mais perto onde, deveras, fotografou a catacumba. A moça Marilu sofreu um arrepio e ainda assim concordou.
Marilu
--- Pode contar, se é o caso. - -
Neco
--- É uma história de uma criança. Um tempo, um agente funerário estava a arrumar o corpo de uma criança no interior desse Cemitério. A criança tinha seus 12 anos e morrera de câncer. E o agente de enterros foi até a sala dos caixões, anexo ao restante do Cemitério. Quer ouvir mesmo? - -
A moça começou a se arrepiar mais ainda. Mas teve coragem e mandou prosseguir.
Marilu
--- Conte mesmo. Não tenho temor. - - falou com medo brutal
Neco
--- Pois bem. Nesse ponto, um ajudante foi até a sala de caixão e deixou, apenas só um seu amigo, digamos de nome Antônio que ficou dando banho no corpo da criança. Acontece que o outro rapaz, de nome Léu, sempre vê almas, no Cemitério. Então enquanto Léu dava banho na criança, foi nesse momento que Léu sentiu forte cheiro de rosas e entre os caixões empilhados ele viu uma criança. Certo? - -
Marilu
--- Certo. Continue! - - falou já desgostosa com o assunto
Neco
--- Pois bem. A visagem estava vestida de branco e tinha os cabelos loiros. E essa criança entoava uma canção de ninar. A criança cantarolava e andava por meio dos caixões. Então, o rapaz fechou os olhos e começou a rezar enquanto terminava o banho daquela criança, pedindo a Deus que aquilo desaparecesse, que fosse embora para descansar em seu lugar. Ouviu bem? - - perguntou o velho.
Marilu
--- Sim, sim. Estou ouvindo! - - disse a moça já cismada.
Neco
--- Então, aquela criança não era a mesma que ele dava banho. Era uma outra. Talvez fosse um anjo da criança que tomava banho e provavelmente tinha ido buscá-la para outro “plano”. E o rapaz disse mais que a visagem não era algo de ruim. Ele não sentia algo de ruim. Mesmo assim, o homem não conseguia controlar o medo. É verdade? –
Marilu
--- Claro. Quem não tem medo? - -
Neco sorriu e continuou.
Neco
--- É isso. Continuando. E quando Léu abriu os olhos, novamente, não havia mais criança andando pelos caixões. Apenas Antônio já havia chegado. Mas o Léu não comentou nada com Antônio até eles irem para o velório para dar início a sessão. Mas quando Léu contou todo o passado, para sua surpresa, o Antônio disse também ter ouvido o som de uma canção de ninar, como sendo de uma criança. Ouviu bem? - -
Marilu
--- Ouvi, sim. E quem já está com medo sou eu! - - tremeu.
Neco
--- Cuidado! Cuidado! Pois bem!  Mas o Antônio disse ter pensado em Leu, pois, esse moço tinha costume de brincar com os mortos. Mas quando percebeu não se tratar do amigo, ele se meteu de medo e fez uma oração silenciosa. Desde então, os dois começaram a levar mais a sério o que se passa no cemitério. E então, essa menina está aqui, bem em baixo dos meus ombros. Não é verdade Sueli? Diga para a moça! - - e sorriu para o ente que estava ali
Nesse ponto, Marilu desmaiou de verdade. E a menina, sorriu.
Canindé correu às pressas para soerguer a repórter que estava desmaiada de pavor. Ele pôs a moça nos braços e seguiu, correndo, até um canto mais ventilado. Uma mangueira, certamente. Passados alguns minutos, Marilu recobrou, aos poucos, a consciência, meio ao desconforto. E Canindé falou.
Canindé
--- Está melhor? - - perguntou suavemente
Marilu
--- Onde estou? - - perguntou a moça
Canindé
--- Aqui, no Cemitério! - -
E a moça desmaiou outra vez.  Neco, calado, apenas arranjou um copo com água e deu para Canindé salpicar no rosto de Marilu. Com isso, sem demora, a moça recobrou a consciência de vez. O motorista da redação veio às presas perguntando o que sentia a jovem. Canindé explicou que ela sofreu um desmaio
Canindé
--- Com certeza foi o calor do dia! - - explicou
O motorista seguiu as pressas para a redação com a moça meio entristecida, ele não sabia o porquê. Talvez o desmaio. Talvez ela estivesse com as regras no ponto exato. Ou algo assim. Canindé tomou a moça nos braços e ela apenas chorava como uma criança
Canindé
--- Quer ir para a sua casa? - - quis saber
Marilu
--- Não. Não. Eu estou bem. Vamos para a redação. – - disse a moça
O vento morno da manhã sacia as roupas da moça. Ela estava apenas com as suas mágoas sentidas e nada mais. Enfim se recolheu ao ombro de Canindé quase como dormindo. Logo, o motorista encostou o carro no meio-fio e parou de vez.
Motorista
--- Pronto. Chegamos. - - advertiu
Marilu
--- Deixa eu dormir um pouco. - - falou a moça
Logo mais, perto das 11 horas, Marilu estava repousada e logo pensou em uma festa que estava combinada para ser feita à professora da classe, naquela tarde. Ela pensava na festa enquanto batia à máquina sobre o caso do Cemitério. Já reconfortada, parecia até que sofrera nada naquele caminhar. A redação estava plena de repórteres, alguns com matérias do dia passado. Outros, com matérias semanais. Tinha um moço que coçava os pés um com o outro. Marilu fez gesto na boca torcendo os lábios como com certeza desaprovando o distinto. Ela enrolava o cabelo para continuar escrevendo. E assim foi à frente.
Um reporte lhe perguntou, de repente.
Repórter
--- Azeite como se escreve? Com “s” ou com “z”? - -
Marilu
--- Azeite? Com “z”. É azeite mesmo? - -
Repórter
--- Sim. Deu um “branco”. Azeite! É assim mesmo? - -
Marilu
--- Sim. É esse o nome. Azeite! É de Oliva? - -
Repórter
--- Não. É de carro! Azeite! - -
Marilu
--- De carro? - - perguntou assustada

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