- TÚMULO -
- 26 -
A MORTA -
Marilu tomou
um susto de arrepiar até os cabelos dos pés, se pé tem cabelo. O velho Neco,
parou por um instante em frente a um túmulo bem desgastado pelo tempo. Ali
estava sepultada, com certeza, uma mulher. Isso, há muito tempo. O velho
caminhou um pouco e chegou ao túmulo onde pois a sua mão. Em seguida foi
dizendo que aquela catacumba tinha uma história assombrosa.
Neco
--- Quer ouvir
o assombro? - -
O céu estava
claro e o fotografo caminhou para mais perto onde, deveras, fotografou a
catacumba. A moça Marilu sofreu um arrepio e ainda assim concordou.
Marilu
--- Pode
contar, se é o caso. - -
Neco
--- É uma
história de uma criança. Um tempo, um agente funerário estava a arrumar o corpo
de uma criança no interior desse Cemitério. A criança tinha seus 12 anos e
morrera de câncer. E o agente de enterros foi até a sala dos caixões, anexo ao
restante do Cemitério. Quer ouvir mesmo? - -
A moça começou
a se arrepiar mais ainda. Mas teve coragem e mandou prosseguir.
Marilu
--- Conte
mesmo. Não tenho temor. - - falou com medo brutal
Neco
--- Pois bem.
Nesse ponto, um ajudante foi até a sala de caixão e deixou, apenas só um seu
amigo, digamos de nome Antônio que ficou dando banho no corpo da criança.
Acontece que o outro rapaz, de nome Léu, sempre vê almas, no Cemitério. Então enquanto
Léu dava banho na criança, foi nesse momento que Léu sentiu forte cheiro de
rosas e entre os caixões empilhados ele viu uma criança. Certo? - -
Marilu
--- Certo.
Continue! - - falou já desgostosa com o assunto
Neco
--- Pois bem.
A visagem estava vestida de branco e tinha os cabelos loiros. E essa criança
entoava uma canção de ninar. A criança cantarolava e andava por meio dos
caixões. Então, o rapaz fechou os olhos e começou a rezar enquanto terminava o
banho daquela criança, pedindo a Deus que aquilo desaparecesse, que fosse
embora para descansar em seu lugar. Ouviu bem? - - perguntou o velho.
Marilu
--- Sim, sim.
Estou ouvindo! - - disse a moça já cismada.
Neco
--- Então,
aquela criança não era a mesma que ele dava banho. Era uma outra. Talvez fosse
um anjo da criança que tomava banho e provavelmente tinha ido buscá-la para
outro “plano”. E o rapaz disse mais que a visagem não era algo de ruim. Ele não
sentia algo de ruim. Mesmo assim, o homem não conseguia controlar o medo. É
verdade? –
Marilu
--- Claro.
Quem não tem medo? - -
Neco sorriu e
continuou.
Neco
--- É isso.
Continuando. E quando Léu abriu os olhos, novamente, não havia mais criança
andando pelos caixões. Apenas Antônio já havia chegado. Mas o Léu não comentou
nada com Antônio até eles irem para o velório para dar início a sessão. Mas
quando Léu contou todo o passado, para sua surpresa, o Antônio disse também ter
ouvido o som de uma canção de ninar, como sendo de uma criança. Ouviu bem? - -
Marilu
--- Ouvi, sim.
E quem já está com medo sou eu! - - tremeu.
Neco
--- Cuidado!
Cuidado! Pois bem! Mas o Antônio disse
ter pensado em Leu, pois, esse moço tinha costume de brincar com os mortos. Mas
quando percebeu não se tratar do amigo, ele se meteu de medo e fez uma oração
silenciosa. Desde então, os dois começaram a levar mais a sério o que se passa
no cemitério. E então, essa menina está aqui, bem em baixo dos meus ombros. Não
é verdade Sueli? Diga para a moça! - - e sorriu para o ente que estava ali
Nesse ponto,
Marilu desmaiou de verdade. E a menina, sorriu.
Canindé correu
às pressas para soerguer a repórter que estava desmaiada de pavor. Ele pôs a
moça nos braços e seguiu, correndo, até um canto mais ventilado. Uma mangueira,
certamente. Passados alguns minutos, Marilu recobrou, aos poucos, a
consciência, meio ao desconforto. E Canindé falou.
Canindé
--- Está
melhor? - - perguntou suavemente
Marilu
--- Onde
estou? - - perguntou a moça
Canindé
--- Aqui, no
Cemitério! - -
E a moça
desmaiou outra vez. Neco, calado, apenas
arranjou um copo com água e deu para Canindé salpicar no rosto de Marilu. Com
isso, sem demora, a moça recobrou a consciência de vez. O motorista da redação
veio às presas perguntando o que sentia a jovem. Canindé explicou que ela
sofreu um desmaio
Canindé
--- Com
certeza foi o calor do dia! - - explicou
O motorista
seguiu as pressas para a redação com a moça meio entristecida, ele não sabia o
porquê. Talvez o desmaio. Talvez ela estivesse com as regras no ponto exato. Ou
algo assim. Canindé tomou a moça nos braços e ela apenas chorava como uma
criança
Canindé
--- Quer ir
para a sua casa? - - quis saber
Marilu
--- Não. Não.
Eu estou bem. Vamos para a redação. – - disse a moça
O vento morno
da manhã sacia as roupas da moça. Ela estava apenas com as suas mágoas sentidas
e nada mais. Enfim se recolheu ao ombro de Canindé quase como dormindo. Logo, o
motorista encostou o carro no meio-fio e parou de vez.
Motorista
--- Pronto.
Chegamos. - - advertiu
Marilu
--- Deixa eu
dormir um pouco. - - falou a moça
Logo mais,
perto das 11 horas, Marilu estava repousada e logo pensou em uma festa que
estava combinada para ser feita à professora da classe, naquela tarde. Ela
pensava na festa enquanto batia à máquina sobre o caso do Cemitério. Já
reconfortada, parecia até que sofrera nada naquele caminhar. A redação estava
plena de repórteres, alguns com matérias do dia passado. Outros, com matérias
semanais. Tinha um moço que coçava os pés um com o outro. Marilu fez gesto na
boca torcendo os lábios como com certeza desaprovando o distinto. Ela enrolava
o cabelo para continuar escrevendo. E assim foi à frente.
Um reporte lhe
perguntou, de repente.
Repórter
--- Azeite
como se escreve? Com “s” ou com “z”? - -
Marilu
--- Azeite?
Com “z”. É azeite mesmo? - -
Repórter
--- Sim. Deu
um “branco”. Azeite! É assim mesmo? - -
Marilu
--- Sim. É
esse o nome. Azeite! É de Oliva? - -
Repórter
--- Não. É de
carro! Azeite! - -
Marilu
--- De carro?
- - perguntou assustada
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