- CRUZ DE CEMITÉRIO -
- 27 -
A PRAIA -
Logo à tarde,
Marilu estava no Ateneu Feminino onde as alunas tinham marcado uma homenagem à
diretora do colégio. Isso porque era a data de aniversário da professora
Margarida, como era assim chamada. Era um alvoroço total das alunas, cada uma
com seus bolos, chocolates, doces entre muitas outras coisas dadas por
lembrança. Era comum se fazer festa de aniversário para as professoras no dia
em que elas festejavam sua data natalícia. E sendo a diretora, a festa ainda
era maior. As alunas prepararam um esquete onde apresentariam a mestra numa faz
de conta, pois uma aluna faria a vez da mestra como se fosse de verdade.
Gargalhadas eram francas. No vai e vem do alunado, cada qual comentava já está pronta
para a festa. Enfim, era uma zoada geral. O palco, no faz de conta, fora armado
com uma cortina de veludo onde as moças de idade juvenil estariam fazendo a vez
da mestra. E as demais, o público assistente. O drama ainda não começara quando
entrou na sala uma mocinha, muito apavorada, procurando alguém para falar.
Depois de procurar, ela encontrou quem queria. E então, falou, de certo modo,
sussurrando para a outra sair do local. Marilu estava presente e ouviu a colega
quando chegou e ouviu quando – vamos dizer, Jurema – chamou a moça para sair do
local. Curiosa, Marilu se esquivou e foi ouvir a tal conversa em um canto de
parede. Logo que chegou ao local, perto de onde estava Marilu, escondida por
causa de uma arvore, Jurema começou a falar um tanto assombrada.
Jurema
--- Walquíria,
escute o que eu vou te contar. Não fale a ninguém. Eu vou contar só a você. Eu
fui à praia ontem a noite para ver a Lua. Era noite de Lua cheia e o seu brilho
iluminava com todo o resplendor o Oceano. O local estava bastante calmo e não
havia, provavelmente, nem uma alma. Era 01 horas da manhã quando eu vi,
caminhando, bem na beira da praia uma linda mulher a vestir um maiô um pouco
alongado. Ela, a moça, tinha os cabelos longos e molhados. - -
Walquíria
--- E não
tinha ninguém na praia? - - perguntou assustada.
Jurema
--- Não tinha
ninguém. Mas, escute. A moça caminhava
num ritmo estranho, dando passadas para frente e para trás. Caminhava uns dois
metros e depois, voltava. Ia e voltava nesse vai e vem, ali perto de mim. Era
algo hipnotizante. Aquele movimento daquela, parecendo, visagem se repetia por
várias vezes.
Walquíria
--- E você nem
fala com ela? - - assustadíssima.
Jurema
--- Nada. Eu
nem falava. Teve uma ocasião em que eu fui até mais próximo da moça e fiquei há
poucos metros dela. E então ouvi e senti que não me aproximasse mais. Aquela
moça, em movimento frenético de indo e voltando, a cada vez se distanciava um
pouco mais. –
Walquíria
--- Nossa! Eu
tinha metido a carreira. Fugia dali. - - chega se molhou de urina em plena
tarde.
Jurema
--- Você está
se mijando? Veja tua roupa! Então, a visagem rumou em direção de umas pedras,
parecendo uma sala. E eu procurei focar a visagem com minha lanterna, porém já
não via nada. A luz da minha lanterna não a alcançava. De repente, alguma coisa
saiu de dentro da praia. Algo que eu não sei explicar o que foi. Algo que muito
me assustou. Parecia um caranguejo gigante, de dois metros ou mais e de cor
negra. Imagine só. - -
Walquíria
--- Ai meu
Deus. Estou me mijando. Pera um pouco! - - e a moça se agachou para urinar de
vez
Jurema
--- Estais se
mijando de medo? Escute o fim a história. Eu sei que o caranguejo grande, saiu
em uma velocidade imensa, entrando nas pedras distantes. Então, eu senti a
força do perigo. Depois de duas horas e eu, perdido na areia, sentindo tudo
aquilo, da visagem no vai e vem da escuridão, foi sumindo para longe e eu me vi
alucinada. - -
Walquíria
--- Ave Maria!
Tu ainda vais a praia? – - perguntou a moça sugando as calcinhas.
Jurema
--- Sei lá. Eu
fiquei com muito medo. Eu sei, que hoje de manhã, entrando no meio das pedras,
no canto onde terminava a praia, havia uma ruina de uma casa, mostrado a
existência de cômodos de aparência muito antiga com bastante tempo. Talvez que
houve gente morando naquela casa há bastante tempo.
Walquíria
--- Parece.
Agora, eu sou quem não a essas praias, pelo menos à noite. - - remorso
Jurema
--- Não sei.
Eu fico toda arrepiada só em lembrar da casa caída no tempo. Eu estou mais
preocupada com essa horrorosa história. Isso guarda algo de sobrenatural.
Walquíria
--- Era um
fantasma! Fantasma! Fantasma! - - relatou com bruto medo.
Jurema
--- Fantasma
perdido, é o que eu acho! - - assombrada.
Escondida por
uma árvore, Marilu ficou estarrecida com a conversa de Jurema e desse instante
ficou mais quieta com respeito a informes apreensivos por espíritos de seres
desencarnados. Ela sabia que à noite teria sessão no Centro e Marilu tinha a
certeza de ir receber mais passes mediúnicos em favor dos desencarnados,
principalmente para o seu pai e as crianças igualmente desencarnadas.
Um livro,
Marilu estava lendo nas horas vagas para ter maior compreensão sobre a doutrina
espírita. Algo sobre o Livro dos Médiuns. Ela queria entender a mediunidade,
por excelência. Já esteve em livrarias com respeito ao Espiritismo, e adquiriu
esse delicado exemplar. E deu para ler algo sobre a Cruz que um rapaz retirou e
levou para a sua casa. É verdade que todos têm uma Cruz conseguida em uma loja
de livros sacros e ele entrou em um cemitério a procura de algo misterioso. Por
acaso ele era um rapaz do movimento gótico, desses que andam com cabelos
espalhafatosos, usam bonés extravagantes, roupas sensualistas, braceletes
estranhos e cinturões enegrecidos. Afinal, roupas góticas. Para dormir, usava
até um caixão fúnebre. Ele era um desses. Certa vez, um dos góticos surgiu e
falou para seus amigos
Mateus
--- Amantes,
eu hoje vou beber no cemitério! – - disse o rapaz.
Caipora
--- Falou,
lixo! - - disse outro
E o amigo
saiu. Naquela hora da noite havia apenas um lugar aberto no comércio. O rapaz
seguiu para o local que ainda estava de portas abertas. Mas, para se chegar na
mercearia tinha que passar pelo Cemitério da cidade. Ele foi e comprou o licor
na bodega e, na volta, ele teve que passar pelo Cemitério e então levou algo,
como um vaso, e dar para a galera. E assim que ele pulou o muro, viu alguém que
estava pelo lado de dentro, a observá-lo. Ele não teve medo do velho e
perguntou
Mateus
--- E aí? Tudo
bem? - -
O velho falou.
Velho
--- O que está
fazendo aqui a esta hora? Está procurando alguma coisa? - -
Mateus pensou
que fosse o coveiro e tentou disfarçar.
Mateus
--- Nada não!
Só estava de passagem! - - respondeu
Velho
--- Você está
aqui, procurando alguma coisa. Pode falar. Eu te ajudo a achar! - -
Mateus
--- Bom. Os
meus amigos estiveram aqui, no Cemitério e pegaram uns anjinhos. Eu queria
pegar uns anjinhos também. Sabe onde tem? - -
O Velho sorriu e disse que sabia. Pediu para Mateus seguir e, no caminho,
perguntou.
Velho
--- Só serve
anjinho? Não serve outra coisa? - -
Mateus
--- O que, por
exemplo? - -
Velho
--- Que tal
uma Cruz? Seus amigos vão gostar. Aquela dá para sair. É só puxar.
Então, Mateus
puxou a Crus, saiu fácil botou nas costas e foi em direção para pular o muro
para pular de volta. Quando ele chegou ao muro voltou para perguntar e recebeu,
em resposta, que o velho não tinha que sair pois sempre estava naquele local.
Quando Mateus
chegou com aquela Cruz, todo mundo – todos góticos – achou a coisa mais legal
do mundo. Foi uma algazarra febril. Nesse ponto, o rapaz, dono da casa que
estava tomando banho, saiu para ver o que estava a ocorrer. Então, o moço pediu
para examinar aquela Cruz. Ele olhou bem e exclamou.
Rabi
--- Que merda
é essa? Quem pegou isso? Tira isso da minha casa! Já! - -
Os góticos
ficaram confusos e perguntaram que era o que estavam fazendo.
Rabi
--- Olha na
Cruz! - -
Todos olharam
e nada de mais vislumbraram. Quiseram então saber.
Rabi saiu da
sala e foi até o seu quarto e pegou sua carteira de identidade e a trouxe,
pondo à mesa. Estava escrito: data de nascimento dele e data de morte. Todos
ficaram assustado quando perceberam que era o mesmo dia, o mesmo mês e o mesmo
ano do dono da casa. A data de morte daquela cruz era exatamente a data de
nascimento de Rabi. Isso é o acerto de algo do Cemitério.
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