sexta-feira, 9 de junho de 2017

SONHOS DE MARILU - 29 -

- TÚMULOS -
- 29 -
EXPERIÊNCIA INSÓLITA -

Em dia qualquer, Marilu chegou logo cedo à redação do Jornal no qual trabalhava. Não havia alma alguma no setor. Apenas o fotógrafo Canindé. Esse homem chegou trazendo as fotos do dia anterior. E depositou em uma bandeja onde se punhas as fotos tiradas um dia antes e até no mesmo dia, se fosse tarde. Calado veio e calado saiu apesar de falar à Marilu.
Canindé
--- As fotos! - -
Marilu
--- Pode deixar. - - e sorriu baixinho
E assim se sucedeu. Canindé saiu e Marilu continuou a bater à máquina o restante da matéria do dia passado. Ela mesma nem ligou para as fotos. Bem sabia que eram as fotos de sua matéria, com certeza. Nesse instante, entrou na sala uma senhora já um tanto alquebrada indagando por um repórter.
Anciã
--- Bom dia. Por favor, aqui tem algum repórter? - - perguntou
Marilu
--- Eu sou repórter. Pode dizer. - - respondeu
Anciã
--- Muito obrigada. Eu estava à procura de um repórter pois, afinal, hoje eu tenho um enterro para ser feito dentro de algumas horas, no Cemitério. - - disse mais
Marilu pensou: “Lá vem merda p’ra mim”. - -
Então a repórter indagou
Marilu
--- Quem é a vítima? Seu marido? - -
Anciã
--- Sim. Meu marido. Ele morreu ainda hoje, de madrugada. Era indigente. Só tinha eu e ele e mais ninguém. A senhora pode fazer a cobertura do enterro? - - perguntou
Marilu olho para um lado e para outro e não viu ninguém. Só ela estava na redação do jornal matutino. E então perguntou a anciã.
Anciã
--- Se a senhora for, é daqui há uma hora. O caixão está exposto no Campo Santo. Logo na entrada. - - declarou a anciã, corcunda até demais
Marilu
--- Pode deixar. Eu vou, agora mesmo. A senhora me espere lá embaixo. - - declarou
E a anciã saiu, meio trôpega, descendo a escada para esperar a moça, lá embaixo no edifício do Jornal do Estado, um dos mais lidos jornais da Capital. Marilu se arrumou, passando talco no rosto, se olhando em um espelho para ver se estava bem preparada, pegou a sua bolsa de colo e uma caderneta com seu lápis, passou pelo laboratório do fotografo, chamando o rapaz para uma cobertura de emergência, e em seguida desceu a escada. Em baixo, procurou Inácio, o motorista da redação. Esse, estava conversado com colegas. Ela indagou:
Marilu
--- Onde está a velha? - - indagou surpresa
Inácio
--- Que velha? Não vi ninguém! - - respondeu
Marilu
--- A meu Deus! Uma anciã bem corcunda. Ela veio me esperar aqui! - - insistiu
Inácio
--- Aqui, não! Vocês viram uma velha passar aqui? - - perguntou o motorista
Ninguém viu mulher alguma a passar naquele espaço. E Marilu, desesperada, correu até a esquina do edifício, pois o prédio dava de uma rua para outra, esquina onde o Bonde fazia a volta para seguir viagem em direção à cidade. E lá chegando, avistou a anciã. Então, gritou.
Marilu
--- Minha avó! É por aqui! Venha! Vamos pegar o carro! - - aclamou
A anciã parou e, devagar, retrocedeu a fazer a volta com enorme sacrifício. Então, falou, com voz um tanto rouca.
Anciã
--- Vou pegar o Bonde. Ele já vem passar. - - respondeu
Marilu
--- De Bonde, não! Vamos de carro. É mais ligeiro. Ele está esperando aqui! Vamos! - -
E a anciã retrocedeu, caminhando bem devagar, parecendo uma lesma. O automóvel já estava no aguardo. Canindé jogou o seu malote no interior do carro e se pôs a sentar à espera da anciã. Marilu, com muito vagar, abriu a porta do auto para poder dar acesso a idosa que se locomovia vagarosamente. Logo após o auto largou. Marilu, no interior do auto, quis saber o nome do marido da anciã.
Anciã
--- O nome do coitado, é Júlio. Todos o conheciam por Antão. Mas, na verdade, era Júlio Mendonça. - - responde a anciã
Marilu
--- E a senhora, como é tratada? - - indagou
Anciã
--- Meu nome é Chiquinha. Na verdade, Francisca de Antão Mendonça. É como me tratam. Chiquinha. - - lembrou
Marilu
---- Que idade tinha seu marido? - - quis saber
Chiquinha
--- Eu nem me lembro. Porém era coisa de 95 anos. - - salientou
Marilu
--- Bela idade. E a senhora? - - perguntou
Chiquinha
--- Eu? 90, se não me falha a memória. - -
Marilu
--- A senhora tem filhos? - -
Chiquinha
--- Todos já se foram. Agora, só eu e Deus. E o meu marido, também. O coitado do Antão. Que Deus o tenha. - - lacrimou
O auto parou em frente ao portão para descer a velhinha, a repórter e o fotógrafo. Após esse esforço medonho, com o descer da velha, Marilu se ajeitou para registrar o sepultamento de Antão, o idoso. A idosa entrou no portão do Cemitério, dobrou em uma rua e então, desapareceu de vez. Marilu nem percebeu o seu desaparecer. Ela estava a cuidar dos seus apontamentos de praxe e o fotografo Canindé já estava longe a registrar as fotos de túmulos caídos. De repente, a moça voltou em busca da velha.
Marilu
--- Onde está a mulher? - - perguntou curiosa
Canindé
--- Deve estar na catacumba do velho. - - respondeu
Marilu
--- E onde é que fica o túmulo? - - perguntou assustada
Canindé
--- Agora, deu! E eu sei? - - sorriu
Marilu
--- Não faz sentido. A mulher sumiu de vez! E agora? - - assustada
Canindé
--- E o caixão? - - sorriu
Nesse momento, a procura a Urna a moça, Marilu, viu algo surpreendente. Uma cova contendo duas fotos pregadas na parede de barro, onde trazia os nomes da mulher e do seu marido, o casal Antão. Marilu teve um susto danado.
Marilu
--- Que horror! - - pôs a mão na boca. 

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