terça-feira, 20 de junho de 2017

SONHOS DE MARILU - 45 -

- CHEFE DE REDAÇÃO -
- 45 -
ESTRANHA SORTE -

Nesse fim de tarde, grande número de pessoas estava acompanhando o sepultamento do Cemitério da cidade de um Magistrado bem quisto e que veio a óbito na madrugada desse dia. O homem, robusto ainda, tinha cerca de 80 anos e morrera de um mal súbito. O sepultamento ocorrera no final do dia. Seus familiares pranteavam a vítima enquanto demais pessoas caminhava em silencio comungando com a dor sentida pela viúva, filhos, irmãs e netos. Entre as pessoas estava também a repórter Marilu e seu fotógrafo, Canindé. As plantas modestas, como as acácias e ciprestes faziam ruídos lutuoso como estivessem sentindo a imensa dor, a dor da morte. Um menino de seus 5 anos de idade, perguntou à sua mãe.
Félix
--- Ele foi para o céu, mãe? - - indagou quase sem falar
Teve como resposta um “cala a boca” e em seguida a resposta.
Alice
--- Foi. Mas não faça perguntas! - - respondeu murmurando
Marilu, sorriu e também nada falou. Uma velha senhora de idade inconcebível se acercou da campa com um punhado de flores à mão e atirou sobre o esquife quando esse começava a descer para o escuro véu do esquecimento. Após atirar flores, a idosa senhora, quase capengando, com a idade à mostra dos ombros doridos, caminhou com vagar por entre as pessoas lagrimadas tendo logo saído do abatida local. Ninguém notou a presença da velha idosa senhora, nem mesmo os filhos mais chegados do Magistrado. Marilu foi a única a perceber e nada indagar. Como um hino infausto, o ataúde desceu ao chão lavado pelas lágrimas ungidas dos parentes que ali estavam.
Marilu
--- A senhora quer uma cadeira? - - perguntou a moça.
Ela já arrastava uma cadeira para idosa senhora onde a anciã poderia sentar seu corpo cansado. Porém a anciã disse não ser preciso, apenas com a sua mão cheia de rugas. A velha senhora trajava luto da cabeça aos pês. Tudo era luto na anciã. E foi saído, vagarosa, até dobrar uma esquina da rua onde estavam outros escuros mausoléus, desaparecendo após
Marilu indagou de Canindé se ele viu a senhora que esteve bem próximo o sepulcro e Canindé declarou não ter visto viva alma.
Canindé
--- Não vi ninguém! Quem era? - - perguntou
Marilu
--- Uma velhinha. Ela, ao dobrar a rua, sumiu de vez. - - declarou
Canindé
--- Credo! Você tem cada coisa! - -disse o fotógrafo
Um cidadão dos seus 80 anos, que estava próximo de Marilu se aproximou para dizer murmurando para dizer ser a anciã a avós do lutuoso Magistrado, pois o homem a conhecia muito bem.
Mamede
--- Eu conheço a anciã. É dona Sinhá. Ela foi ama de leite do senhor Magistrado. Ela já passou para a outra vida. - - declarou
Marilu
--- Ela já morreu? - - indagou com espanto
Mamede
--- Sim. Morreu. Faz longo tempo. Eu a conheci, quando ainda eu era criança. - -
Marilu
--- Como o senhor reconheceu a velhinha? - - quis saber
Mamede
--- Eu sou vidente em certas ocasiões. Eu a vi. Por isso estou dizendo. Meu nome é Mamede. Frequento o Centro, na cidade. Não se espante! - - falou
Momentos seguidos, em meio de tantas pessoas a contemplar a descida de urna ao túmulo, pássaros canoros lacrimavam por ter perdido o Magistrado enquanto um vulto de um homem, perdido no espaço, contemplava aquele cortejo da imensidão de um sepulcro sem nada falar. Aquela figura era o próprio Magistrado. A cena foi observada também pela moça Marilu. Ela quis chamar o senhor Mamede, mas esse desapareceu como por encanto
Marilu
--- Nossa! O homem também sumiu! Aquele outro parece ser um Magistrado, com certeza. - - falou íntimo
A moça não mais temeu. Ela sabia que podia ver quem passara para o outro eterno. O fato sempre ocorre com os sepultados. O Magistrado também era uma sombra de que vivera aqui e passara para outra esfera da vida.  O que podia fazer então, era rezar suas orações em intenção a alma daquele senhor. Diante de si havia túmulos de milhares de seres. Ela observou vários vultos, possivelmente de pessoas desencarnadas há bastante tempo.
À noite, quando deitada, a moça lembrou das visões que as teve. Uma das quais, a da velha senhora se projetou com maior intensidade. Ela, a sobra de mulher, disse-lhe ser a da mulher que amamentou o Magistrado, quando ainda ele era criança. E então veio agradecer pelas preces de Marilu em favor daqueles espíritos por ter certeza que algo de favor ela obteria logo depois. Marilu agradeceu ao Céu e lembrou da velha senhora em suas contemplativas orações
Na manhã seguinte, após deixar as suas matérias referentes ao Magistrado, Marilu estava pronta para fazer outros temas do dia. Foi então que a moça atendeu a um chamado da direção do Jornal
Canindé
--- O homem está te chamando. - - disse ele e se afastou
A moça Marilu foi com pressa ao gabinete para ouvir o que o seu chefe tinha a falar. Na certa seria uma outra viagem que ela teria que fazer. Havia muitas lavouras imprestáveis no interior do Estado e, com certeza, Marilu seria mandada para fazer tais assuntos.
Marilu
--- Pronto, senhor Lauro! É viagem? - - quis saber
Lauro
--- Sente-se por favor. Não é viajem a serviço. É outra coisa. Eu pergunto se a senhorita está contente com seu serviço? - - quis saber
Marilu
--- Claro! Claro! Como não? - - respondeu
Lauro
--- Temos muito o que fazer. Exemplo: redator chefe. Você aceita? - -
Marilu
--- Chefe de Redação? E eu posso? - - com alegria
Lauro
--- Sim. Seu Macedo se aposentou. Tem essa vaga. Aceita? - -
Marilu
--- E em meu lugar, o senhor vai colocar quem? - - abismada
Lauro
--- Tem muita gente. Tem Janilce, por exemplo. - - lembrou
Marilu
--- Meu Deus do Céu! Tenho que decidir agora? - - sem assunto
Lauro
--- É provável. Como se diz: “Agora ou nunca”. – - sorriu
Marilu
--- Meu Deus! Está bem. Aceito. - - disse a moça
Lauro
--- Então, nós vamos comer peixe! - - sorriu
Daquele instante em diante, Marilu começou a trabalhar da editoria do Jornal e trocou de lugar com a moça Janilce. Desse instante, Marilu não precisava mais sair à rua. Era a vez de Janilce fazer matérias do Palácio do Governo, ter aumento de salários e abraçar a carreira com esmero. Em contrapartida, a moça Marilu ficaria mais atenta no ocorrer da cidade, no País e no Mundo. Derrubar matérias sem futuro e exigir mais empenhos dos novatos. E assim, Marilu trocou o cargo de ser chefe de redação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário