- CHEFE DE REDAÇÃO -
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ESTRANHA SORTE -
Nesse fim de
tarde, grande número de pessoas estava acompanhando o sepultamento do Cemitério
da cidade de um Magistrado bem quisto e que veio a óbito na madrugada desse
dia. O homem, robusto ainda, tinha cerca de 80 anos e morrera de um mal súbito.
O sepultamento ocorrera no final do dia. Seus familiares pranteavam a vítima
enquanto demais pessoas caminhava em silencio comungando com a dor sentida pela
viúva, filhos, irmãs e netos. Entre as pessoas estava também a repórter Marilu
e seu fotógrafo, Canindé. As plantas modestas, como as acácias e ciprestes
faziam ruídos lutuoso como estivessem sentindo a imensa dor, a dor da morte. Um
menino de seus 5 anos de idade, perguntou à sua mãe.
Félix
--- Ele foi
para o céu, mãe? - - indagou quase sem falar
Teve como
resposta um “cala a boca” e em seguida a resposta.
Alice
--- Foi. Mas
não faça perguntas! - - respondeu murmurando
Marilu, sorriu
e também nada falou. Uma velha senhora de idade inconcebível se acercou da
campa com um punhado de flores à mão e atirou sobre o esquife quando esse
começava a descer para o escuro véu do esquecimento. Após atirar flores, a
idosa senhora, quase capengando, com a idade à mostra dos ombros doridos, caminhou
com vagar por entre as pessoas lagrimadas tendo logo saído do abatida local.
Ninguém notou a presença da velha idosa senhora, nem mesmo os filhos mais
chegados do Magistrado. Marilu foi a única a perceber e nada indagar. Como um
hino infausto, o ataúde desceu ao chão lavado pelas lágrimas ungidas dos
parentes que ali estavam.
Marilu
--- A senhora
quer uma cadeira? - - perguntou a moça.
Ela já
arrastava uma cadeira para idosa senhora onde a anciã poderia sentar seu corpo
cansado. Porém a anciã disse não ser preciso, apenas com a sua mão cheia de
rugas. A velha senhora trajava luto da cabeça aos pês. Tudo era luto na anciã.
E foi saído, vagarosa, até dobrar uma esquina da rua onde estavam outros escuros
mausoléus, desaparecendo após
Marilu indagou
de Canindé se ele viu a senhora que esteve bem próximo o sepulcro e Canindé
declarou não ter visto viva alma.
Canindé
--- Não vi ninguém!
Quem era? - - perguntou
Marilu
--- Uma
velhinha. Ela, ao dobrar a rua, sumiu de vez. - - declarou
Canindé
--- Credo!
Você tem cada coisa! - -disse o fotógrafo
Um cidadão dos
seus 80 anos, que estava próximo de Marilu se aproximou para dizer murmurando para
dizer ser a anciã a avós do lutuoso Magistrado, pois o homem a conhecia muito
bem.
Mamede
--- Eu conheço
a anciã. É dona Sinhá. Ela foi ama de leite do senhor Magistrado. Ela já passou
para a outra vida. - - declarou
Marilu
--- Ela já
morreu? - - indagou com espanto
Mamede
--- Sim.
Morreu. Faz longo tempo. Eu a conheci, quando ainda eu era criança. - -
Marilu
--- Como o
senhor reconheceu a velhinha? - - quis saber
Mamede
--- Eu sou
vidente em certas ocasiões. Eu a vi. Por isso estou dizendo. Meu nome é Mamede.
Frequento o Centro, na cidade. Não se espante! - - falou
Momentos
seguidos, em meio de tantas pessoas a contemplar a descida de urna ao túmulo, pássaros
canoros lacrimavam por ter perdido o Magistrado enquanto um vulto de um homem,
perdido no espaço, contemplava aquele cortejo da imensidão de um sepulcro sem
nada falar. Aquela figura era o próprio Magistrado. A cena foi observada também
pela moça Marilu. Ela quis chamar o senhor Mamede, mas esse desapareceu como
por encanto
Marilu
--- Nossa! O
homem também sumiu! Aquele outro parece ser um Magistrado, com certeza. - -
falou íntimo
A moça não
mais temeu. Ela sabia que podia ver quem passara para o outro eterno. O fato
sempre ocorre com os sepultados. O Magistrado também era uma sombra de que
vivera aqui e passara para outra esfera da vida. O que podia fazer então, era rezar suas
orações em intenção a alma daquele senhor. Diante de si havia túmulos de
milhares de seres. Ela observou vários vultos, possivelmente de pessoas
desencarnadas há bastante tempo.
À noite,
quando deitada, a moça lembrou das visões que as teve. Uma das quais, a da
velha senhora se projetou com maior intensidade. Ela, a sobra de mulher,
disse-lhe ser a da mulher que amamentou o Magistrado, quando ainda ele era
criança. E então veio agradecer pelas preces de Marilu em favor daqueles
espíritos por ter certeza que algo de favor ela obteria logo depois. Marilu
agradeceu ao Céu e lembrou da velha senhora em suas contemplativas orações
Na manhã
seguinte, após deixar as suas matérias referentes ao Magistrado, Marilu estava
pronta para fazer outros temas do dia. Foi então que a moça atendeu a um
chamado da direção do Jornal
Canindé
--- O homem
está te chamando. - - disse ele e se afastou
A moça Marilu
foi com pressa ao gabinete para ouvir o que o seu chefe tinha a falar. Na certa
seria uma outra viagem que ela teria que fazer. Havia muitas lavouras imprestáveis
no interior do Estado e, com certeza, Marilu seria mandada para fazer tais assuntos.
Marilu
--- Pronto,
senhor Lauro! É viagem? - - quis saber
Lauro
--- Sente-se
por favor. Não é viajem a serviço. É outra coisa. Eu pergunto se a senhorita
está contente com seu serviço? - - quis saber
Marilu
--- Claro!
Claro! Como não? - - respondeu
Lauro
--- Temos
muito o que fazer. Exemplo: redator chefe. Você aceita? - -
Marilu
--- Chefe de
Redação? E eu posso? - - com alegria
Lauro
--- Sim. Seu
Macedo se aposentou. Tem essa vaga. Aceita? - -
Marilu
--- E em meu lugar,
o senhor vai colocar quem? - - abismada
Lauro
--- Tem muita
gente. Tem Janilce, por exemplo. - - lembrou
Marilu
--- Meu Deus
do Céu! Tenho que decidir agora? - - sem assunto
Lauro
--- É
provável. Como se diz: “Agora ou nunca”. – - sorriu
Marilu
--- Meu Deus!
Está bem. Aceito. - - disse a moça
Lauro
--- Então, nós
vamos comer peixe! - - sorriu
Daquele
instante em diante, Marilu começou a trabalhar da editoria do Jornal e trocou
de lugar com a moça Janilce. Desse instante, Marilu não precisava mais sair à
rua. Era a vez de Janilce fazer matérias do Palácio do Governo, ter aumento de
salários e abraçar a carreira com esmero. Em contrapartida, a moça Marilu
ficaria mais atenta no ocorrer da cidade, no País e no Mundo. Derrubar matérias
sem futuro e exigir mais empenhos dos novatos. E assim, Marilu trocou o cargo
de ser chefe de redação.
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