domingo, 11 de junho de 2017

SONHOS DE MARILU - 32 -

GRITOS DO CEMITÉRIO
- 32 -
 GRITOS -

Era um dia de sábado. Marilu acordou logo cedo. A moça tinha que ir para o Jornal do Estado, pois ainda tinha que acabar umas matérias feitas no dia anterior. Coisas sem grande importância, conforme pensava. A falta de água no interior, era a mais importante. Os carros pipa estavam levando o líquido para atender as necessidades da população em cidades de menor porte. A demais, ainda tinham água de seus açudes. Era provável que ocorresse chuva em apenas um mês ou dois. A sequidão era um tormento principalmente nos lugares mais distantes, principalmente no campo. As principais vítimas era o gado. Quem viajasse ao interior olhava com muitas angustias as carcaças do gado pelas estradas. As crianças bebiam água barrenta, isso quando encontravam em uma fonte mais resistente. Essa era a vida do sertão. Quando chegou à redação, ela foi pega de surpresa por um homem esmolambado, com chapéu de palha, meio corcunda, pele que se podia dizer ter sido alva, mas com o tempo era toda amarelada. Não redação ainda não tinha ninguém. Só o homem a conversar com Canindé, o fotografo, homem que sempre chegava cedo para cuidar do seu material de trabalho. E foi assim que Marilu foi apresentada.
Canindé
--- Pronto. Chegou a repórter. Converse com ela. - - declarou o rapaz.
O homem se voltou para Marilu e a cumprimentou com sua magreza, roupa já surrada. Um dia, fora branca.
Cosme
--- Bom dia doutora. Eu sou Cosme, morador próximo ao Cemitério da cidade. Eu vim aqui, porque, ao passar à noite de ontem, perto do campo santo, eu vi o lugar bem pavoroso, com muito mato, túmulos abandonados. Um abandono total. - - relatou
Marilu
--- Eu sei como é que é o ambiente. A Prefeitura de Município não faz o menor esforço para se soergue o local. – - atalhou
Cosme
--- Pois é. E, ontem mesmo, por volta da meia noite, eu ouvi muitos gritos. Gritos de arrepiar do lado de dentro do Cemitério. Era como se fosse de dor e desespero. - -
Marilu
--- Ontem, que o senhor ouviu? - - surpresa.
Cosme
--- Sim. De ontem para essa madrugada. Foi tanto grito que eu me arrepiei. Fiz o sinal da Cruz e fui mais rápido possível. Interessante é que falei com um compadre meu e ele contou as mesmas coisas quando passava no local. O compadre escutou esses lamentos, choros, lamentos dentro do lugar. E hoje eu, logo eu arrumei coragem para saber de onde vinham os tais lamentos. –
Canindé vinha chegando e ouviu parte da conversa. Com certo temor quis saber.
Canindé
--- O senhor no Cemitério? - - quis saber e bateu fotos do velho senhor
Cosme
--- Sim. Eu entrei para ver a gritaria. E perguntei quem é que estava ali e o que precisava. Mas apesar de ser de manhã, esses gritos ficavam ficando mais fortes. Então, ao passar por baixo de uma árvore, tive a pior visão de minha vida. - -
Marilu
--- O senhor passou lá na manhã de hoje? - - perguntou se arrepiando toda
Cosme
--- Sim! Sim! Inda agora. Eu vi, em uma cova rasa, eu debruçado no local uma aparição de um rapaz todo coberto de sangue e seguiu cambaleando em direção a mim, pedindo socorro e misericórdia. - -
Canindé
--- Nossa! Uma coisa dessa eu não vejo. - - falou com remorso
Cosme
--- Pois foi! Eu vi! Eu corri com toda força, peguei minha bicicleta e pedalei até chegar aqui. Eu fiquei apavorado. - -
Uma faxineira que estava por perto, recolheu o balde, guardou a vassoura e falou.
Faxineira
--- Eu sei quem é. Aquele é um túmulo de um jovem rapaz que foi morto pela Polícia, aos 19 anos de idade. Faz pouco tempo. Aquele rapaz, eu rezei muitas vezes por sua alma. Mas nunca passei pela sua catacumba. - -
Marilu
--- Então, aquela alma estava ali se lamentando por ter sido morto em um assalto? - -
Faxineira
--- É provável que sim. Ele morreu nas mãos da Polícia. Estava sendo perseguido e um policial o alvejou nas costas. Quando ele caiu, já estava sem vida. Como era pobre, largaram em uma cova rasa! Foi o que sucedeu. - - explicou
Marilu
--- Parece que a alma do rapaz não ficou em paz. Ele ainda não se conformou de ter sido morto de um jeito tão covarde. Ele poderia estar vivendo de uma forma mais tranquila, de uma maneira reta. - -
Canindé
--- Minha mãe diz que acha bom passar em Cemitério, pelo menos de dia. –
Faxineira
--- Eu sei de um caso de uma moça bem sensitiva e gosta de ir ao Cemitério. Fica no Campo Santo, conversando com as almas dos seus parentes, amigos, familiares já falecidos. Ela diz que tem uma grande atração por estar no Cemitério. Mas não tem namorado. Certo dia, estava no Cemitério, caminhando, colocando flores quando notou a presença de um rapaz. –
Marilu
--- Um rapaz que a seguia? - - quis saber
Faxineira
--- Sim. Um rapaz. Ele era jovem e muito bonito. E mancava ligeiramente de uma perna. Com o tempo, o rapaz de aproximou de Amélia – era o seu nome -, sorrindo e perguntou junto com ela visitando os túmulos.
Marilu
--- Que bom. A moça ficou atraída por esse rapaz! - - sorriu
Canindé
--- Primeiro amor! - - disse isso ajeitando a máquina
Faxineira
--- Pois é. Amélia perguntou ao rapaz se estava acompanhando algum velório. Ele disse que “não”.
Antônio
--- Você é muito bonita. Eu posso vê-la outra vez? - - sorriu e quis saber.
Faxineira
--- E de repente, eles dobraram uma rua do Cemitério e o rapaz sumiu. Ela se assustou e continuou procurando pelo rapaz, e não mais o encontrou. À noite, foi dormir quando sentiu um corpo quente e macio sobre o de Amélia. E uma boca que procurava a sua boca. Quando abriu os olhos, ela reconheceu o tal do rapaz do Cemitério que nessa hora estava totalmente nu. –
Canindé
--- AH eu lá! - - gargalhou
Marilu
--- Venha p’ra cá! - - encarou Canindé com seriedade.
Faxineira
--- Então, os dois se beijaram e fizeram um amor enlouquecido, várias vezes por toda a noite. Quando Amélia acordou, de manhã, o rapaz já havia ido embora.
Cosme
---Isso é loucura! - - alarmado
Faxineira
--- Pode ser, mas Amélia afirma que ele ainda volta para fazer amor. - - gargalhou

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