domingo, 11 de junho de 2017

SONHOS DE MARILU - 33 -

- SÃO CIPRIANO
- 33 -
QUARTA FEIRA

Em dia de quarta-feira Marilu estava pesquisando o que se vendia na Feira do Carrasco, uma das últimas feiras da cidade. O pessoal que alí comprava, era gente do mato ou como se chamava: “matuta”. Em outro sentido, era o povo mais pobre da capital. Bem pobre mesmo. Carnes velhas e secas e, mesmo, carne de bode para não se dizer carne de bicho porque nem ao menos se sabia qual era. Porcos de quantos dias, não se podia nem supor. Galinha de terreiro que o mais pobre lavava para vender com um preço qualquer. E tinha também as frutas de quintal, batatas de terreiro, botas, chapéus de palha, pimentas. As coisas mais incríveis por preços injustos. Seu funcionamento para as vendas ia até as 3 horas da tarde, enquanto tinha gente. Mulheres de vestidos rotos, homens de alpercatas nos pés. Era assim quem podia ir as compras do Carrasco. Quando acabava tudo, então se partira para outros destinos. Ônibus para buscar os indigentes, esses não tinham. Apenas havia os carros-transporte para seguir ao interior, muitos dos quais com sinal de luto pelo desastre de alguma caminhoneta, com certeza. Era assim que se fazia a feira do chamado “grito”.  
Então, Marilu foi ver que feira era essa. Uns diziam é a feira do “rebotalho”. Outros, ‘é a feira da carniça”. A cachaça, isso era o que não faltava. Nem mesmo um jogo de baralho feito às escondidas, pois a polícia estava de olho para pegar um desordeiro que por ali costuma frequentar. Marilu, em trajes da moda, caminhava por entre as bancas de vendas procurando os melhores artigos que tivesse a venda. Coisa que não encontrava. Tudo era ruim, mesmo. Não fora um rapaz tão delicado a oferecer à moça uma porção mangalhos que estava à venda.
Rapaz
--- Compre, moça! É preço barato! A senhora vai gostar! - - falou o homem estirando a mão para que a moça pudesse ver.
Marilu
--- Eu. Eu não quero. Estou só visitando a feira. - - recusou a moça
Rapaz
--- A senhora quer um artigo melhor? Eu tenho aqui! - - ofereceu
Marilu
--- Não! Não quero nada! - - relatou
Rapaz
--- Espere! Eu tenho aqui artigos de boas lojas. Santos, velas, incensos indianos, cristais, ervas, preparados para banhos de ervas e até livros. - - ofereceu
Marilu
--- Livros? Quais livros que você tem?  - - perguntou curiosa
Rapaz
--- Eu tenho um livro de São Cipriano. Livro de Ocultismo, feitiços, magias, espíritos obsessores, Invocação pela Santa Cruz de Caravaca. Venha até a minha loja. Não custa nada. - - arrastou a moça pelo braço
Marilu
--- Meu Deus do Céu! O senhor tem o Livro de São Cipriano? - - curiosa
Rapaz
--- Tenho ele e muito mais. Porém o livro é o melhor de todos. Vou mostra a senhora.
E Marilu teve entre as mãos o Verdadeiro Livro de São Cipriano, Capa de Aço. De início, a moça tremeu de medo. Porém, com o passar dos minutos ela resolveu adquirir o Verdadeiro Livro. Ela pagou o preço, não se importante nem se era caro ou não. Disse apenas que voltaria em breve.
Rapaz
--- Volte sempre. Eu aguardo! - - dizendo isso o homem esfregou suas mãos uma na outra.
Marilu tomou o carro da redação e, com o motorista, partiu para a redação do Jornal. Ela estava louca para chegar em sua casa, pois queria ler o que estava escrito naquele grosso livro. E foi assim que se sucedeu. À noite, quando nada podia atrapalhar, Marilu começou a leitura. Ela sentia uma vontade louca de ver tudo o que estava escrito. Magias, bruxarias, feitiçaria, orações da Cruz de Caravaca que ela já havia adquirido em outra livraria, Poderoso Livro de Preces e Orações, As Clavículas de Salomão, O Reino da Feitiçaria e muito mais. Cipriano foi um homem que dedicou boa parte de sua vida ao estudo das ciências ocultas. E foi com esse entusiasmo que Marilu continuou a estudar o Ocultismo
Marilu voltava sempre ao Carrasco a procura de novos livros.
Marilu
--- Tem outros lançamentos? - - sorria sempre.
Certa vez, Marilu, ao passar da Rua do Cemitério da cidade, ela resolveu entrar no local e ver os túmulos existentes, alguns já desgastados, e ouviu o chamado de um telefone na casa de registro de óbitos. Ela parou por breve instante. Com isso, Marilu notou ser o telefone da clínica onde se prepara os corpos. O senhor que atendia, buscou ouvir, porém nada falou, o telefone. Marilu, então entrou na recepção.
Funcionário
---Esse telefone está louco. Nove vezes que ele chama e não aparece ninguém.
Marilu
--- Talvez seja ligação a cobrar. - - respondeu
Funcionário
--- Nada. É apenas uma música que toca. Estranho! - - comentou
Marilu resolveu atender e ouviu uma música triste de violino. E falou:
Marilu
--- Musica de violino. Parece Beethoven.
O Funcionário resolveu sair, para ver se alguém estava mexendo o telefone. Marilu, picou a espera. O funcionário, para a sua surpresa, ao chegar na Secretaria viu o telefone fora do gancho. Ele repôs o telefone do lugar e de novo voltou à recepção. Ao chegar na recepção, o telefone tocou novamente.
Funcionário
--- Está vendo? A música triste de violino! - -
Coveiro
--- Eu estou acostumado com isso. É bom ninguém se impressionar.
Marilu
--- Mas é estranho. O telefone tocar sem ninguém bulir. –
Funcionário
--- Eu vou pedir é transferência. Não fico mais aqui, nem a pau. –
Coveiro
--- Besteira. Deixa ele chamar! - - sorriu
Marilu
--- Eu estou quase ciente de que era para mim. - - retrucou
Coveiro
--- E as outras vezes? A senhora nem estava aqui. –
Marilu
--- Então, é algum defunto que vai chegar. –
Funcionário
--- Eu vou é sair desse local - -
Coveiro
--- Vai! Eu fico só! - -
Marilu
--- Mas o senhor tem certeza que o fone toca sempre? –
Coveiro
--- Muitas vezes. Nem sei contar! Muitas e muitas vezes! - -
Marilu
--- O senhor tem medo de assombrações? - -
Coveiro
--- Eu? Por que eu ter medo? - -


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