- SÃO CIPRIANO
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QUARTA FEIRA
Em dia de
quarta-feira Marilu estava pesquisando o que se vendia na Feira do Carrasco,
uma das últimas feiras da cidade. O pessoal que alí comprava, era gente do mato
ou como se chamava: “matuta”. Em outro sentido, era o povo mais pobre da
capital. Bem pobre mesmo. Carnes velhas e secas e, mesmo, carne de bode para
não se dizer carne de bicho porque nem ao menos se sabia qual era. Porcos de
quantos dias, não se podia nem supor. Galinha de terreiro que o mais pobre
lavava para vender com um preço qualquer. E tinha também as frutas de quintal,
batatas de terreiro, botas, chapéus de palha, pimentas. As coisas mais
incríveis por preços injustos. Seu funcionamento para as vendas ia até as 3
horas da tarde, enquanto tinha gente. Mulheres de vestidos rotos, homens de
alpercatas nos pés. Era assim quem podia ir as compras do Carrasco. Quando
acabava tudo, então se partira para outros destinos. Ônibus para buscar os
indigentes, esses não tinham. Apenas havia os carros-transporte para seguir ao
interior, muitos dos quais com sinal de luto pelo desastre de alguma
caminhoneta, com certeza. Era assim que se fazia a feira do chamado “grito”.
Então, Marilu
foi ver que feira era essa. Uns diziam é a feira do “rebotalho”. Outros, ‘é a
feira da carniça”. A cachaça, isso era o que não faltava. Nem mesmo um jogo de
baralho feito às escondidas, pois a polícia estava de olho para pegar um
desordeiro que por ali costuma frequentar. Marilu, em trajes da moda, caminhava
por entre as bancas de vendas procurando os melhores artigos que tivesse a
venda. Coisa que não encontrava. Tudo era ruim, mesmo. Não fora um rapaz tão
delicado a oferecer à moça uma porção mangalhos que estava à venda.
Rapaz
--- Compre,
moça! É preço barato! A senhora vai gostar! - - falou o homem estirando a mão
para que a moça pudesse ver.
Marilu
--- Eu. Eu não
quero. Estou só visitando a feira. - - recusou a moça
Rapaz
--- A senhora
quer um artigo melhor? Eu tenho aqui! - - ofereceu
Marilu
--- Não! Não
quero nada! - - relatou
Rapaz
--- Espere! Eu
tenho aqui artigos de boas lojas. Santos, velas, incensos indianos, cristais,
ervas, preparados para banhos de ervas e até livros. - - ofereceu
Marilu
--- Livros?
Quais livros que você tem? - - perguntou
curiosa
Rapaz
--- Eu tenho
um livro de São Cipriano. Livro de Ocultismo, feitiços, magias, espíritos
obsessores, Invocação pela Santa Cruz de Caravaca. Venha até a minha loja. Não
custa nada. - - arrastou a moça pelo braço
Marilu
--- Meu Deus
do Céu! O senhor tem o Livro de São Cipriano? - - curiosa
Rapaz
--- Tenho ele
e muito mais. Porém o livro é o melhor de todos. Vou mostra a senhora.
E Marilu teve
entre as mãos o Verdadeiro Livro de São Cipriano, Capa de Aço. De início, a
moça tremeu de medo. Porém, com o passar dos minutos ela resolveu adquirir o
Verdadeiro Livro. Ela pagou o preço, não se importante nem se era caro ou não.
Disse apenas que voltaria em breve.
Rapaz
--- Volte
sempre. Eu aguardo! - - dizendo isso o homem esfregou suas mãos uma na outra.
Marilu tomou o
carro da redação e, com o motorista, partiu para a redação do Jornal. Ela
estava louca para chegar em sua casa, pois queria ler o que estava escrito
naquele grosso livro. E foi assim que se sucedeu. À noite, quando nada podia
atrapalhar, Marilu começou a leitura. Ela sentia uma vontade louca de ver tudo
o que estava escrito. Magias, bruxarias, feitiçaria, orações da Cruz de
Caravaca que ela já havia adquirido em outra livraria, Poderoso Livro de Preces
e Orações, As Clavículas de Salomão, O Reino da Feitiçaria e muito mais.
Cipriano foi um homem que dedicou boa parte de sua vida ao estudo das ciências
ocultas. E foi com esse entusiasmo que Marilu continuou a estudar o Ocultismo
Marilu voltava
sempre ao Carrasco a procura de novos livros.
Marilu
--- Tem outros
lançamentos? - - sorria sempre.
Certa vez,
Marilu, ao passar da Rua do Cemitério da cidade, ela resolveu entrar no local e
ver os túmulos existentes, alguns já desgastados, e ouviu o chamado de um
telefone na casa de registro de óbitos. Ela parou por breve instante. Com isso,
Marilu notou ser o telefone da clínica onde se prepara os corpos. O senhor que
atendia, buscou ouvir, porém nada falou, o telefone. Marilu, então entrou na
recepção.
Funcionário
---Esse
telefone está louco. Nove vezes que ele chama e não aparece ninguém.
Marilu
--- Talvez
seja ligação a cobrar. - - respondeu
Funcionário
--- Nada. É
apenas uma música que toca. Estranho! - - comentou
Marilu
resolveu atender e ouviu uma música triste de violino. E falou:
Marilu
--- Musica de
violino. Parece Beethoven.
O Funcionário
resolveu sair, para ver se alguém estava mexendo o telefone. Marilu, picou a
espera. O funcionário, para a sua surpresa, ao chegar na Secretaria viu o
telefone fora do gancho. Ele repôs o telefone do lugar e de novo voltou à
recepção. Ao chegar na recepção, o telefone tocou novamente.
Funcionário
--- Está
vendo? A música triste de violino! - -
Coveiro
--- Eu estou
acostumado com isso. É bom ninguém se impressionar.
Marilu
--- Mas é
estranho. O telefone tocar sem ninguém bulir. –
Funcionário
--- Eu vou
pedir é transferência. Não fico mais aqui, nem a pau. –
Coveiro
--- Besteira.
Deixa ele chamar! - - sorriu
Marilu
--- Eu estou
quase ciente de que era para mim. - - retrucou
Coveiro
--- E as
outras vezes? A senhora nem estava aqui. –
Marilu
--- Então, é
algum defunto que vai chegar. –
Funcionário
--- Eu vou é
sair desse local - -
Coveiro
--- Vai! Eu
fico só! - -
Marilu
--- Mas o
senhor tem certeza que o fone toca sempre? –
Coveiro
--- Muitas
vezes. Nem sei contar! Muitas e muitas vezes! - -
Marilu
--- O senhor
tem medo de assombrações? - -
Coveiro
--- Eu? Por
que eu ter medo? - -
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