sábado, 17 de junho de 2017

SONHOS DE MARILU - 40 -

- CANDOMBLÉ - 
- 40 -
CANDOMBLÉ -
Em dia de sábado, à tarde, Marilu foi, como sua amiga, Janilce, a bodega de Floriano, no Carrasco, um arruado pequeno, dependência de um bairro maior, o Alecrim. Ela foram fazer visita e a procura de algum livro que elas não tinham e nem sabiam de algum aforisma em tal sentido. As virgens entraram na mercearia, como se pode designar a bodega, todas em amplas alegrias. Ao penetrar da bodega, as mocinhas notaram que uma mulher acabara de adquirir um amuleto. A mulher, de seus 50 anos, gorda por sinal, saiu depressa deixado a bodega. Floriano agradeceu a visita das moças e logo atendeu, por mera ansiedade, esfregando as mãos, uma na outra.
Floriano
--- Boa hora que vou ter a oportunidade de atendê-las! - - sorriu abertamente
Marilu
--- Obrigada. Nós estamos num dia de sábado aqui porque o Jornal fechou logo cedo, ao meio dia. É o seguinte. O senhor sabe o que é Candomblé, por favor? - - sorriu se prendendo de receio.
Floriano
--- Claro que sei. Quer algum livro? - - quis saber esfregando as mãos.
Marilu
--- Se possível! - - e logo buscou encontrar a sua amiga Janilce, que estava examinando na estante, ali próximo, demais livros
Sem ter pressa, Janilce chamou a amiga para mostrar outro livro sobre Macumba, instrumento de prática religiosa e divindade dos povos africanos. Marilu apreciou bem e declarou.
Marilu
--- Esse, eu vou levar. - - murmurou. Deu o toque no livro a deixar de mão.
Janilce
--- Que você encontrou dessa vez? - - sussurrou.
Marilu
--- Candomblé, - - declarou e se arrepiou toda
Janilce
--- Candomblé? O que é isso? - - murmurando, perguntou curiosa.
Marilu
--- É Candomblé, ora! - - dizendo do modo sorridente
Floriano já chegara com alguns livros. E declarou apenas os seus livros.
Floriano
--- Pronto. Candomblé! Tem esses três. Mas, todos são iguais. Um e outro! - - apontou com o dedo
Ela pediu para lê-lo um pouco e deixou o outro com sua amiga Janilce, pronunciando.
Marilu
--- Leia também, sua boba! - - delicadamente sorriu
O termo candomblé tem origem banta, tendo como raiz o quimbundo kiamdomb ou quicongo ndombe, ambos significando “negro”, tornaram-se sinônimos e referência genérica de diferentes expressões de religiosidade de matriz africana, exceção feita a Umbanda cuja origem intensamente sincrética a situa em outra categoria de estudo e observação. O candomblé é o culto aos orixás. As festas são realizadas em terreiros.
Janilce
--- Eu li. Mas, não compreendi! - - declarou sussurrando
Marilu
--- Eu também, quase nada. -- - Marilu sorriu.
Floriano
--- Vocês querem entender bem? Frequentem um Centro. - - declarou sorrindo
Janilce
--- Centro? Onde tem isso? - - quis saber.
Floriano
--- É fácil. Aqui, no bairro tem um Centro. Fica logo depois da linha do trem. Por aqui. Veja. - - foi mostrar a casa de candomblé.
Após a venda feita, Floriano agradeceu e voltou a informar o local da casa ditando que, de dia, não tinha sessão. Mas as moças seriam atendidas plenamente, por alguém, pois alguém estava à espera das duas.
Marilu
--- Como elas sabiam que nós estamos a caminho? - - pesquisou com receio
Floriano
--- Tudo se sabe nessa vida, senhorita! - - declarou sorrindo
Janilce
--- Vamos lá, agora?  - - quis saber a moça apontando com o dedo
Marilu
--- Se é para o bem da nação, eu digo: nós iremos lá, agora. - - disse e gargalhou
Ao chegarem a residencia, as moças foram recebidas por uma senhora de porte volumoso, chega de balagandans, roupa branca, os cabelos da cabeça, todos cobertos por um mando também branco. Afinal, a mulher estava toda de vestido branco. Enormes pulseiras, anéis como de prata em todos os dedos das mãos, pingentes a descer pelo pescoço entre rosas de lírios espalhados pela sala. Era uma mulher de cor morena, tinha um rosto simpático e bastante sorridente. Enfim, era uma mulher afável, com certeza. Abriu os braços para abraçar as duas moças que se mostravam inibidas nesse primeiro instante. Com seus braços amigáveis, a mulher perguntou.
Guia
--- Em que posso servi-las minhas filhas? - - falou assim após deixar um tamborete.
Marilu
--- Nós somos jornalistas. E gostaríamos de ver uma demonstração de um terreiro de Candomblé, quando estivesse em sessão. Pelo menos à noite. - - falou inibida.
Guia
--- Pode ser. A nossa Casa Branca é o mais antigo de Candombe da Capital. Nós chegamos como escravos. Os nossos primeiros Orixás chegaram em navios negreiros no século XVI. Eles eram escravos, vindos presos nos porões. Os donos da gente diziam que nós falávamos como feiticeiros. Por isso, nós éramos escravos. Depois da abolição da escravatura é que a coisa mudou. Mas, ainda hoje tem preconceito com a gente. Para os brancos, nós somos negros. E negro não vale nada, dizem os brancos. Os brancos não dão educação nenhuma aos negros. Somos a plebe. Veja a sua pele. Ela é negra. Parece branca. Mas não é. Você e negra e não, branca. - - e sorriu com alegria para as jornalistas
Marilu
--- Vejo que a senhora tem razão. Essa pigmentação é de negro! - - falou ressentida após passar a mão da sua pele
Guia
--- O que mais posso fazer por vocês, minhas primas? - - relatou a guia
Marilu
--- Nós queremos ver como é o Candomblé, por dento mesmo. Suas danças, seus casamentos, seus personagens. Por exemplo: Quem é Exu? - - quis saber
Guia
--- Exu? É quem gosta de cachaça. Oxalá é quem se veste de branco. Quem recebe oferendas em alguidares são orixás. O Candomblé, com seus batuques e danças, é uma festa. Iemanjá é a orixá, a deusa dos mares e dos oceanos. Onde tem terreiro, tem festa. - - sorriu fumando cachimbo
Marilu
--- Mas quando nós podemos ver uma festa de Candomblé? - - quis saber
Guia
--- Hoje mesmo. Quando chega a noite. Venham. Vocês serão conduzidas por um Iroko que é um antigo Orixá.   
As duas moças sorriram e prometeram voltar.

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