- ASSOMBRAÇÃO -
- 24 -
CEMITÉRIO -
No dia
seguinte, Marilu chegou logo cedo da manhã a procura de Lauro, o diretor geral
do Jornal do Estado. E, de imediato
ela entrou na sala onde Lauro trabalhava e ficou séria, de pé e nada falou no
instante. O homem, batendo com o lápis na mesa, resolveu quebrar o silêncio. De
repente, Lauro indagou o que ela estava a fazer ali, em pé, calada, parecendo
uma estátua. Ela, então, lembrou como se estivesse esquecido do assunto a
falar.
Marilu
---
Desculpe-me. Eu estava apenas a pensar. É o seguinte. Eu, ontem, fui até a uma
sessão espirita. Desculpe-me por não ter contado na vez. Mas, tem um outro caso
envolvido. Agora, eu queria saber se eu posso ir até o Cemitério? - -
Lauro
--- Cemitério?
Fazer o que? Morreu gente da família? - - perguntou
Marilu
--- Bem. Nesse
caso, morreu. Mas eu quero ir por outro motivo. Não é por morte. É que eu quero
examinar as covas existentes. Alguém falou que os túmulos estavam, todos, ou
quase todos, danificados. Eu quero ver para poder contar a história.
Lauro
--- Logo
agora? - - perguntou preocupado
Marilu
--- Se
possível, sim. Se não, eu vou mesmo para apenas verificar. - - disse moça
sempre de pé.
Lauro
--- Tinha uma
entrevista com o Governador. Mas, eu entendo. Eu mando outro fazer a matéria. E
pode ir. Veja lá o que vai fazer! - - falou sério
Marilu
--- Pode
deixar. Eu sei o que faço! Vou do carro? - -
Lauro
--- De carro?
Ora merda! Está certo. Pode ir. - - azougado
A moça sorriu
e saiu em debandada. Ela chamou o fotografo e o motorista da Redação saindo
mais depressa que pode. O motorista perguntou para onde a moça desejava seguir,
e ela respondeu.
Marilu
--- Cemitério.
Eu digo para você também, Canindé. Cemitério. - -
Canindé
--- Está bem.
Você é quem manda. - - respondeu
Motorista
--- Quem
morreu? - - perguntou
Marilu
--- Alguém. -
- respondeu
Canindé
--- Alguém!
Ora merda! - - sorriu
Marilu, ao
chegar, entrou pelo portão principal procurando encontra o senhor Neco, velho
coveiro do único cemitério da capital. Passou por uma rua, entrou por outra,
seguiu em frente, isso bem que depressa, verificando as covas que por ali
estavam, e seguiu até encontrar o velho Neco. Com ele, a moça iniciou a
conversa.
Marilu
--- Neco? Bom
dia! Tem serviços para hoje? - - quis
saber adiando do assunto
Neco
--- Estou
aguando as plantas. Ninguém vem fazer. Eu mesmo faço. - - declarou
Marilu
--- É verdade.
O senhor está aqui há muitos anos, não é? - - indagou
Neco
--- Nem sei
quantos. Tem outros ali, aguando também. - - se virou para mostrar
E Marilu
orientou ao fotografo fazer as fotos que mais interesse tivesse. Logo após,
continuou.
Marilu
--- Velho? Me
diz uma coisa? Você já viu espirito vagando pelo meio do caminho? –
Neco
--- Eu? Todos
os dias. Ali tem um bocado discutindo algo que lhes interessa. - - sorriu
Marilu
--- Nesse
caso, eu não os vejo. E crianças? - -
Neco
--- Crianças.
Está para o outro lado. Ali, olhe. Tem crianças que só abelha. - - sorriu
Marilu
--- Nem
adianta dizer. Não vejo nada! - -
Neco
--- Nas tuas
costas tem um. - - sorriu
Marilu
--- Minhas costas?
Onde? - - e Marilu se virou para ter certeza do dito
O velho soltou
o riso estranho.
Neco
--- Você
precisa ter coragem. Do contrário, nunca verá. Ali, tem uma moça. Ela era
metida com magia. Era morreu bem cedo. Mesmo assim, ainda teve muita impressão
do passado. Morreu por causa de um pingente.
Marilu
--- Pingente?
Como assim? - - perguntou assustada.
Neco
--- Sim. Um
pingente que ela achou aqui no Cemitério. Ela não levou em conta, achou bonito
o pingente e levou com ela para a sua casa. Ai que se deu. O pingente era de
outro morto. Ele está ali, perto dela. Não é verdade, Nora? - - perguntou à
moça desencarnada. A moça desencarnada parece ter respondido que sim.
Marilu
--- Eu não a
vejo de forma alguma. - - respondeu Marilu.
Neco
--- Venha para
esse lado. Você verá agora. Olhe firme para aquela imagem de bronze. Ela está
na frente. Olhe bem. Assim. - - falou o velho
Marilu
--- Uma moça?
Em frente a imagem de bronze? Não vejo ninguém! - - assustada
Neco
--- Nora. Vê
se dá um jeito para que a moça daqui possa vê-la. –
Os espirito de
Nora se mexeu um pouco, uma luz acinzentada como se fosse apagar, apareceu bem
devagar. Moça bonita, cabelos de trança alourados, um pingente de outro no
pescoço, ela, um pouco assustada, mãos encolhidas sobre o busto, roupa azul com
um avental branco. Enfim, o espírito surgiu a Marilu.
Marilu
--- Êpa. Eu
estou vendo a silhueta da moça. Eu vejo. Ela está assustada. Como é que pode
uma coisa dessas? - - assustada.
Neco
--- A gente
pode ver tudo. É só querer. --- sorriu
Marilu
--- Vou chamar
o fotografo para registrar a cena. –
Neco
--- É
besteira. Ela desapareceu por completo - - relatou
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