- BATIZADO -
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BATIZADO -
Após a Semana Santa, a vida
continuava às mil maravilhas. Certa vez, Dalva Lopes foi até ao Convento Santo
Antônio a procura de um frade secular, aquele que faz batizado. Ela agradeceu a
Walquíria por estar atendendo a criança, uma vez ter um expediente muito a
rigor, não podendo, de certa forma, estar com o seu filho amado. Apenas, pela
noite e nos finais de semana Dalva tinha mais tempo e, então, ficava em seu
apartamento, na companhia de Walquíria quando podia dar maior afago ao bebê.
Mesmo assim, o menino chamado Ciro gostava mais de sua madrinha. Dalva
estranhava tal preferência. Um certo dia, em conversa com Amanda sobre essa
antipatia do seu filho, foi que a moça alegou
Amanda
--- Batize o garoto! Com o tempo
ele se ajeita! – Recomento a mulher
Dalva
--- Eu vou batizar. Já tenho a
madrinha. Porém falta quem queira ser o
padrinho do neném. – Relatou tristonha
Amanda:
--- Você é católica? – Indagou
com estranheza.
Dalva
--- Tem que ser, não? – Respondeu
a mulher um tanto amargurada.
Amanda
--- Tem que ser, não. Você pode
ser não católica, ser budista, ser islamita. Aqui, na Terra, tem religião para
tudo que é gente. E você também. – Falou consciente
Dalva
--- Eu sei. Eu sei. Mas, quando a
gente estuda mais um pouco, nota casos muitos estranhos. Eu mesma fico a
pensar: “De onde somos”? – Falou com precaução de dizer ao certo.
Amanda
--- Astronomia. É um caso muito
terrível. O Cosmo! – Falou sonhando
Dalva
--- Sim. O Cosmo. Mas deixemos
para um lado. A questão é: o padrinho. – Confirmou.
Amanda
--- Ah bom. O padrinho. Eu tenho
um amigo que pode ser. –
Dalva
--- Quem? Por favor! –
Amanda
--- Talvez você conheça. Um
dentista. Chico Feio. Sabe? – Indagou
Dalva gargalhou e depois de
alguns segundos voltou a falar.
Dalva
--- Logo “Chico feio”? Não tem um
mais simpático? – Gargalhou.
Amanda
--- Simpático, não. Mas Chico
Feio é o nome de Francisco Augusto dos Anjos. Só! Conhece? – Indagou
apreensiva.
Nova gargalhada de Dalva. E mais.
E mais. Quase se derrete de tanto gargalhar. Amanda ficou sem sorrir a olhar a
cara da companheira. E quanto mais Amanda olhava a cara de Dalva, mais essa
gargalhava. Era uma risada sem fim chegando a mulher se encurvar e escorar na
parede da casa onde estava para não levar um tombo. E foi assim que se sentou
ao piso da casa de Amanda. E gargalhava demais ao ponto de bater no franco com
a sua própria mão. Foi um tempo enorme aquele de Dalva. Ela sem poder sequer
fitar a face de Amanda. Logo após alguns minutos, Dalva se soergueu e, com
lágrimas na face de tanto sorrir falou, então, ainda com certo riso
Dalva
--- Ora essa. Você vai me
desculpar. Mas um morto saber que o seu nome está na cadeira do dentista? Isso
é o fim – sorriu com cuidado
Amanda
--- Que morto? Não entendo!
Explique-se. – falou
A gargalhada voltou e a senhora
em poucos instantes, quase a se derreter de risos, falou.
Dalva
--- Augusto dos Anjos, um
escritor. – Respondeu a sorrir
Amanda
--- Ah, bom. Eu sei. Tinha até me
esquecido do poeta. Pois é. Agora é o nome de Chico. –
Dalva:
--- Feio? – Indagou a sorrir.
Amanda
--- Não achei graça. – Olhou para
Dalva um pouco séria
Dalva
--- Avia. Você não tem outro nome?
O do seu pai? Por exemplo. – Perguntou a senhora
Amanda
--- Meu pai? Está doida? Ele é
comunista. E não dá valor a padre. Nem no túmulo. – Discutiu
Dalva
--- Interessante! Mas tem padre
comunista. E na Rússia tem suntuosas Catedrais. Cada uma que dá gosto. Imensa.
Se tem dúvida, vá lá. – Relatou
Amanda
--- Ah. Isso é na Rússia. Aqui é
outra história. Então? Aceita a oferta? – Indagou com vexame.
Dalva levou um certo tempo e se
decidiu a aceitar o padrinho apesar do seu nome ser tão ridículo.
Dalva
--- Está bem. “Se é para o bem de
todos e a felicidade geral da Nação, diga a Chico que eu aceito! ” – E voltou a
gargalhar.
No dia do batizado da criança,
estavam todos presentes da Igreja de Santo Antônio para assistir o início de
cerimonial, cada qual com suas vestes preciosas cheias de balagandans. Velhos e
moços. Todos estavam arrumados, até o farmacêutico Claudionor De Andrade, homem
sério e de poucas conversas, junto à esposa, dona Lorena Andrade Beraldo.
Curiosos estavam atentos ao batizado de Ciro, com um mês e quase tanto de
idade, filho de dona Dalva Lopes Baldo. Porém não tinha pai. O seu padrinho
era, de fato, Chico Feio e a madrinha, Walquíria de Andrade Beraldo, essa não
poupando os instantes para fazer carinho ao menino, mesmo quando esse chorou
quando o frade despejou a água em sua cabeça, sinal da cristandade. Ainda
estavam presentes o repórter Gonzaga e seu cinegrafista Inaldo fazendo esse os
closes a se fazer necessárias. Bem ao largo, uma mulher escondida entre pilares
assistia a tudo sem nada falar. Apenas estava atenta a assistir à cerimônia do
batismo da criança.
Era já quase o fim da tarde
quando todos saíram da Igreja de Santo Antônio, o segundo templo erguido no
centro da cidade, junto ou quase junto à Catedral de Nossa Senhora da
Apresentação, marco histórico de Natal. Um gazeteiro passou ligeiro oferecendo
o jornal enquanto um vendedor de tapiocas passava ao largo oferecendo a sua
comida para a noite. Um vento frio soprou de repente e a madrinha do bebê
segurou o seu afiliado para evitar qualquer distúrbio. Automóveis ainda
passavam e, os novos padrinhos com a mãe da criança embarcaram do auto e
rumaram para a residência de José Afrânio onde seria oferecido os comes e
bebes.
Zequinha
--- Saúde à criança! – Falou o
ancião levantando uma taça de champanhe
E os demais, já na residência de
seu José Afrânio ofereciam taças de champanhe e, logo depois, vinhos de toda a
marca, menos o senhor Claudionor de Andrade que se absteve em beber. Apenas
comeu uns salgados e entremeios trocou conversas com Chico Feio, homem de
inteligência fértil onde discutia questões de políticas e a situação dos
tremores de terra havido nos recentes dias na região do Nepal onde foram
vítimas três mil pessoas mortas e 6.500 ficaram feridas estando o país ainda em
regime de assistência. Muitas estradas em regiões de montanhas ficaram
destroçadas ou bloqueadas por deslizamento de terras. Dezenas de corpos foram
enviados para hospitais de Kathmandu. Na capital do país foram registradas
mortes de mais de 700 pessoas.
Claudionor
--- Foi um desastre
surpreendente. – Comentou
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