- PRAIA -
- 12 -
CASA NOVA
MORADIA
- 12 –
CASA NOVA
Dois meses, e a família toda
estava em outra habitação. Casa ampla com plantio no quintal onde se podia
colher os melhores frutos da habitação. Jacas, graviolas, pinhas, pitangas,
cajus, mangas entre as demais. Além de se colher frutas tinham mais as frescas
sombras do início da manhã ou mesmo no fim da tarde. Um homem de certa idade
foi contratado por Dalva Lopes para cuidar do pomar existente e plantar novas
árvores, quando precisasse. O que se podia notar era o homem a transitar pelo
terreno, colhendo com o seu carrinho de mão, as coisas simples, algumas já sem
uso para pôr no local próprio e conduzir para o lixo, caso houvesse. A madrinha
de Ciro cuidava da casa com o olhar atento ao pequeno menino. Durante a manhã,
tinha o agradável passeio pela calçada na frente da casa, coisa que a moça
voltava a fazer no final de tarde. Já um pouco crescido, Ciro obedecia às
advertências feitas por Sorvetinho, com se costumava a chamar a moça Walquíria.
Esse apelido já por algum tempo era um caso de muita discussão entra as duas
irmãs. Com o decorrer das eras, o negócio foi abrandando e, alguma vez,
Walquíria nem prestava atenção de fato.
O movimento da rua era o passar
do leiteiro, do entregador de pães, do vendedor de cuscuz e tapiocas, do
entregador de jornais do dia e, mesmo, do vendedor de frutas. Durante a sua
passagem, o vendedor procurava saber se havia frutas para vender. Às vezes, uma
jaca ou uma graviola. Coisa simples por demais. O velho homem, vez por outra
chegava a habitação em companhia do seu neto. E sempre o garoto pulava para
subir nos cajueiros onde tirava algumas frutas. Se era o tempo de caju, o
garoto se deliciava a contento.
Sorvetinho
--- Ei? Que está fazendo aí? –
Falava brava a moça
Moleque.
--- Chupando caju. – Sorria o
pequeno arteiro
Sorvetinho
--- Pôs desça já! Não estou dizendo! Agora! – Falava a moça com
a sua cara de terror.
E o moleque obedecia até o instante
em que Walquíria se metia par dentro da sala. E quando a moça desaparecia de
vez por estar cuidando de outras obrigações, o moleque voltava a subir, dessa
vez, em uma mangueira. E se a moça voltasse para ver o garoto, este se escondia
nos galhos da frondosa mangueira para se proteger se ser outra vez cutucado com
uma vara.
Sorvetinho
Nos finais de semana, pelo menos
aos sábados pela manhã bem cedo, o passeio era a praia. Dalva Lopes arrumava o
seu cesto de alimentos, colocava dentro do auto e, com ajuda de Walquíria,
rumava com o seu filho Ciro para uma praia distante do movimento da capital. Uma
hora e um pouco mais de viagem. A praia era tranquila com quase nenhuma pessoa
a não os pescadores com as suas jangadas bem ao longe, um pouco mais distante.
Dalva
--- Olha! Pescadores! – Sorriu
para Walquíria.
Sorvetinho
--- De onde elas vêm? – Indagou
curiosa
Dalva
Sorvetinho
--- Provavelmente. – Relatou a
moça pedindo o garoto para pôr em seus braços.
Dalva
--- Tem mais pescadores lá ao
alto. – Observou a mulher a falar
Sorvetinho
--- Em Natal, tem demais. Eles
chegam a passar um mês na pesca. Vem de longe. – Enfatizou
Um garoto a passar ofereceu caju
aos de longe. Provavelmente de outro Estado. A mulher agradeceu, pois tinha no
cesto bastante caju. E sorriu em troca. E o garoto levou a diante.
Garoto
--- E tapioca? –Indagou
Dalva
--- Nós já tomamos café de manhã.
– Sorriu de novo
Garoto
--- Nem cuscuz? – Perguntou
novamente.
Dalva
--- Nem cuscuz. Nem peixe frito.
Nem camarão. – Gargalhou a mulher.
Garoto
--- Então eu estou pobre mesmo. –
Falou amofinado com os seus preparos de comidas.
Dalva Lopes se penalizou um pouco
e falou em seguida.
Dalva
--- Não fique triste assim meu
garoto. Tudo se ajeita. É porque eu tenho o que você me oferece. Eu venho da
capital. Você é daqui. Essa é a diferença. Eu aprendi com seus pais afazer
iguarias. Foi assim que eu fiz. Entendeu meu lindo? – Quis saber a mulher.
O garoto olhou para Dalva e,
logo, chorou de desânimo. Ele, nada mais tinha a oferecer, de fato. E, Dalva,
mais uma vez se compadeceu e veio à frente para melhor vislumbrar aquela
criança tao desnutrida, parecendo uma criança sem parentes nenhum e voltou a
indagar com delicadeza extrema.
Dalva
--- Seu pai, onde está? – Quis saber.
O garoto olhou a mulher e,
depois, olhou para o mar distante. E apontou:
Garoto:
--- Lá. No mar. Morreu. Ninguém
sabe. – Falou querendo chorar.
Dalva
--- Seu pai? Ele morreu? Uma tragédia!
– Lamentou a mulher
Garoto
--- Sim. Faz um mês. Ele e dois
irmãos que eu tinha. Morreu. – Relembrou
Dalva
--- Meu filho. Você está só? – Indagou
penalizada
Garoto
--- Eu vivo com minha mãe. Ela
está doente. Uma ferida “braba”. – Discorreu.
Dalva
--- Meu Deus do céu! Vocês dois e
nada mais? – Quis saber.
Garoto
--- Eu tenho uma irmã. Ela também
sofre pela morte do seu homem. – Pronunciou.
Dalva
--- Nossa Senhora. Como é que
pode? – Lamentou quase a chorar.
Sorvetinho
--- Aqui é assim. O pescador sai
sem saber se volta. – Relatou.
Dalva
--- Eu ouvi falar nessas
histórias. Mas, assim também é uma aflição. – Lamentou profundamente
Sorvetinho
--- É o canto da sereia. Não é
menino? – Indagou ao garoto
Esse afirmou balançado a cabeça
para cima e para baixo. E relembrou.
Garoto
--- E a lua também. – Lembrou.
Dalva
--- A lua? A lua? O que tem a ver
a lua? – Perguntou com pressa.
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