quinta-feira, 18 de junho de 2015

LAÇOS DE TERNURA - 17 -

- PRAIA -

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NOÊMIA
Aquela estranha mulher chegada à porta serrada ao meio tosca e sem tranca, parecia uma santa de tão magra e cabelos em desalinho. Ela era a silhueta de uma verdadeira imaculada simples mulher. A sua perna estava coberta com um pano quase molambo, velho e sujo. Uma salmoura chegando a ser sangue morto e antigo encobria o seu ponto já remoto e o inchaço provocado pelo ferimento um tanto anoso, por certo. Em sua face não se podia notar a sua idade. Os braços todos cobertos por uma velha echarpe tornavam a madona com seu manto a encobrir o resto do seu franzino corpo uma esquelética alma.  Um dia qualquer da vida, a mulher teria sido tão bela como um anjo. A sua cor esbranquiçada já nem podia se notar pela palidez assomada. O seu nome podia ser qualquer um entre as Marias da vida. Anunciada, Desterro, Pureza ou outros mais, certamente. A sua presença à porta causou tristeza em Dalva por ver a sua frente um projeto de vida extinta. De qualquer forma, a dama cumprimento a mãe de José.
Dalva
--- Bom dia. Meu nome é Dalva. Prazer em conhece-la. Foi seu filho que me trouxe aqui. – Sorriu um pouco temerosa.
Noêmia
--- Prazer é todo meu. Eu sou Noêmia, mãe de José. Ele é muito jeitoso. Quando crescer, vai ser um grande homem. – Responde com voz tênue.
Dalva:
--- É isso mesmo. E como vai a sua perna? – Olhou levemente temerosa.
Noêmia
--- De mal a pior. Não vejo a hora de partir para a escuridão da vida. – Declarou a mulher com lágrimas nos olhos.
Dalva, com isso, estremeceu. Tanta amargura dita em poucas palavras. Um frio soprou de vez a mulher tão bela e algo lhe falou com suavidade. Era uma voz estranha de alguém que Dalva desconhecia, por certo. Ela olhou ao lado e viu apenas a sua cunhada e o belo menino Ciro. Nada mais. A voz afirmou algo como “cuide de Noêmia”.  O sol já bastante quente não dava menção a qualquer estranho brilho maior àquela hora, perto do meio dia.
Dalva
--- O que você me disse, Walquíria? – Perguntou à cunhada.
Sorvetinho respondeu não ter dito coisa alguma a está coberta de temor.
Sorvetinho
--- Nada, não! Apenas estou caducando com Ciro. – Falou com precaução.
Dalva
--- Ah sim. Cuide do menino. – E se voltou para Noêmia.
Sorvetinho:
--- Pode deixar. Eu cuido do boneco. - Respondeu Sorvetinho se afastando um pouco para junto do auto
José
--- Minha mãe é professora. – Disse o garoto.
Dalva
--- Jura? Isso é ótimo. A senhora é professora?  – Sorriu com um gosto azedo
Noêmia
--- Eu ensinei aos moleques. Eu tenho até o Diploma de Professora. Aqui, é longe até demais. A escola está fechada há algum tempo. – Relatou a mulher afugentando as moscas a rodar a sua perna enferma.
Dalva:
--- Não é possível! Mas. A sua perna? O que foi? – Quis saber.
Noêmia.
--- É câncer. Não tem jeito. Um dia a mais eu parto. – Disse a magra mulher.
Dalva
--- Não diga isso. Tudo tem jeito. A senhora foi ao médico? – Perguntou com emoção
Noêmia:
--- Algumas vezes. É muito longe a cidade. Eu uso coisa do mato, apenas. – Respondeu.
Dalva
--- Do mato? O que, por exemplo? – Indagou
Noêmia
--- Janaúba. O leite. É uma folha grande. Eu tomo em gotas. Ela serve também para a circulação do sangue. É antifebril, anti-inflamatória, cicatrizante e serve até como vermífugo. Febre, diabetes, gastrite e câncer. – Disse a mulher. 
Dalva
--- Mas a senhora é uma santa. Como descobriu tudo isso? – Quis saber.
Noêmia
--- Aqui no mato é o pau que mais tem. Quem me ensinou foi uma velha. E eu aplico. Só. Mas, já está bastante adiantada e só espero a morte. Afinal todos nós morremos. – Dialogou.
Dalva
--- Não. Não. Não diga isso. Quer ir para a capital? Na Universidade os professores fazem exames com esses tipos de planta.  Talvez eles nem conheçam essa planta. Vamos. Vamos. – Chamou a mulher com bastante segurança.
Noêmia.
--- Não sei. Aqui estou mais perto da família. Tem a velha Sinhá aí. Tem meus filhos. Quer dizer. Meus netos. Os meus filhos e meu marido foram tragados pelo mar. Nunca se acharam. Talvez um navio colidiu com o barco. Coisa assim. Não sei. E mesmo eu saindo daqui, não guardo esperança nenhuma. – Disse a doente.
Dalva
--- Ora mulher! Não custa nada em fazer novos exames. A folha do mato, da Janaúba pode até mesmo servir como a senhora já disse que serve. Afinal, é um passo a mais. Vamos, senhora. Não custa experimentar. – Disse a mestra também com estudos completos.
E a conversa se prolongou por longos instantes e Noêmia, por fim, perguntou:
Noêmia
--- Mas eu vou hoje? Desse jeito? Desarrumada? Não tomei nem banho ainda! – Relatou com precaução.
Dalva
--- Se não quiser ir hoje, podemos ir amanhã. Eu conheço um médico da Universidade que ele, possível, encaminha a senhora para o ambulatório. E tem quarto só para pacientes como a senhora. É melhor se ir. Não custa nada. É de graça! – Alertou com firmeza.
Noêmia
--- Não sei, não! Amanhã? Mesmo? – Indagou com cisma.
Dalva:
--- Então, amanhã. A senhora se prepare. Leve a roupa que tiver. Faça as gotas com a erva da Janaúba. E estamos prontos. Eu sou também dos estudos na Universidade. Eu garanto. E não tem conversa! Vamos logo que a senhora sara dessa enfermidade! Estamos acertadas! E se possível, José também vai com a gente. Volto amanhã logo cedo! Amanhã, ouviu? – Alertou com firmeza.
Nesse ponto, Dalva Lopes fez meia volta em direção a Capital em buscar velocidade tomando ciência do que seria feito em poucas horas. Dalva, competente em Astronomia podia ter laços de amizade a qualquer um dos doutores da Universidade, mesmo sendo de Medicina. Na classe, era muito bem informada e bem quista por todos. Meteorologia na física e matemática a professora se dedicava com maior facilidade a consultar nessa matéria com o Observatório de Astronomia[aa1] . Apesar de uma pessoa simples, incansavelmente ela consultava a atividade nessa matéria a observar o céu, durante a noite, quando a lua era Nova, em estado Crescente e a Cheia, como toda observação de planetas, igual a Júpiter, Saturno e Urano. Tais cientistas não sofrem a melhor atenção das pessoas. Porém o seu oficio é, do momento, procurado por empresas de ciências climáticas. Por isso a cientista tinha a vantagem e vontade que querer salvar a paciente Noêmia daquele abcesso apenas por querer salvar a enferma.
No dia seguinte, logo cedo, a doutora Dalva Lopes já estava encostando o seu veículo em frente ao casebre de Noêmia para assim poder leva-la juntamente com o seu filho direto para a Universidade da capital.




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