- PRAIA -
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NOÊMIA
Aquela estranha mulher chegada à
porta serrada ao meio tosca e sem tranca, parecia uma santa de tão magra e
cabelos em desalinho. Ela era a silhueta de uma verdadeira imaculada simples
mulher. A sua perna estava coberta com um pano quase molambo, velho e sujo. Uma
salmoura chegando a ser sangue morto e antigo encobria o seu ponto já remoto e
o inchaço provocado pelo ferimento um tanto anoso, por certo. Em sua face não
se podia notar a sua idade. Os braços todos cobertos por uma velha echarpe
tornavam a madona com seu manto a encobrir o resto do seu franzino corpo uma
esquelética alma. Um dia qualquer da
vida, a mulher teria sido tão bela como um anjo. A sua cor esbranquiçada já nem
podia se notar pela palidez assomada. O seu nome podia ser qualquer um entre as
Marias da vida. Anunciada, Desterro, Pureza ou outros mais, certamente. A sua
presença à porta causou tristeza em Dalva por ver a sua frente um projeto de
vida extinta. De qualquer forma, a dama cumprimento a mãe de José.
Dalva
--- Bom dia. Meu nome é Dalva.
Prazer em conhece-la. Foi seu filho que me trouxe aqui. – Sorriu um pouco
temerosa.
Noêmia
--- Prazer é todo meu. Eu sou
Noêmia, mãe de José. Ele é muito jeitoso. Quando crescer, vai ser um grande
homem. – Responde com voz tênue.
Dalva:
--- É isso mesmo. E como vai a
sua perna? – Olhou levemente temerosa.
Noêmia
--- De mal a pior. Não vejo a
hora de partir para a escuridão da vida. – Declarou a mulher com lágrimas nos
olhos.
Dalva, com isso, estremeceu.
Tanta amargura dita em poucas palavras. Um frio soprou de vez a mulher tão bela
e algo lhe falou com suavidade. Era uma voz estranha de alguém que Dalva
desconhecia, por certo. Ela olhou ao lado e viu apenas a sua cunhada e o belo
menino Ciro. Nada mais. A voz afirmou algo como “cuide de Noêmia”. O sol já bastante quente não dava menção a
qualquer estranho brilho maior àquela hora, perto do meio dia.
Dalva
--- O que você me disse,
Walquíria? – Perguntou à cunhada.
Sorvetinho respondeu não ter dito
coisa alguma a está coberta de temor.
Sorvetinho
--- Nada, não! Apenas estou
caducando com Ciro. – Falou com precaução.
Dalva
--- Ah sim. Cuide do menino. – E
se voltou para Noêmia.
Sorvetinho:
--- Pode deixar. Eu cuido do
boneco. - Respondeu Sorvetinho se afastando um pouco para junto do auto
José
--- Minha mãe é professora. –
Disse o garoto.
Dalva
--- Jura? Isso é ótimo. A senhora
é professora? – Sorriu com um gosto
azedo
Noêmia
--- Eu ensinei aos moleques. Eu
tenho até o Diploma de Professora. Aqui, é longe até demais. A escola está
fechada há algum tempo. – Relatou a mulher afugentando as moscas a rodar a sua
perna enferma.
Dalva:
--- Não é possível! Mas. A sua
perna? O que foi? – Quis saber.
Noêmia.
--- É câncer. Não tem jeito. Um
dia a mais eu parto. – Disse a magra mulher.
Dalva
--- Não diga isso. Tudo tem
jeito. A senhora foi ao médico? – Perguntou com emoção
Noêmia:
--- Algumas vezes. É muito longe
a cidade. Eu uso coisa do mato, apenas. – Respondeu.
Dalva
--- Do mato? O que, por exemplo? –
Indagou
Noêmia
--- Janaúba. O leite. É uma folha
grande. Eu tomo em gotas. Ela serve também para a circulação do sangue. É
antifebril, anti-inflamatória, cicatrizante e serve até como vermífugo. Febre,
diabetes, gastrite e câncer. – Disse a mulher.
Dalva
--- Mas a senhora é uma santa.
Como descobriu tudo isso? – Quis saber.
Noêmia
--- Aqui no mato é o pau que mais
tem. Quem me ensinou foi uma velha. E eu aplico. Só. Mas, já está bastante
adiantada e só espero a morte. Afinal todos nós morremos. – Dialogou.
Dalva
--- Não. Não. Não diga isso. Quer
ir para a capital? Na Universidade os professores fazem exames com esses tipos
de planta. Talvez eles nem conheçam essa
planta. Vamos. Vamos. – Chamou a mulher com bastante segurança.
Noêmia.
--- Não sei. Aqui estou mais
perto da família. Tem a velha Sinhá aí. Tem meus filhos. Quer dizer. Meus
netos. Os meus filhos e meu marido foram tragados pelo mar. Nunca se acharam.
Talvez um navio colidiu com o barco. Coisa assim. Não sei. E mesmo eu saindo
daqui, não guardo esperança nenhuma. – Disse a doente.
Dalva
--- Ora mulher! Não custa nada em
fazer novos exames. A folha do mato, da Janaúba pode até mesmo servir como a
senhora já disse que serve. Afinal, é um passo a mais. Vamos, senhora. Não
custa experimentar. – Disse a mestra também com estudos completos.
E a conversa se prolongou por
longos instantes e Noêmia, por fim, perguntou:
Noêmia
--- Mas eu vou hoje? Desse jeito?
Desarrumada? Não tomei nem banho ainda! – Relatou com precaução.
Dalva
--- Se não quiser ir hoje,
podemos ir amanhã. Eu conheço um médico da Universidade que ele, possível, encaminha
a senhora para o ambulatório. E tem quarto só para pacientes como a senhora. É
melhor se ir. Não custa nada. É de graça! – Alertou com firmeza.
Noêmia
--- Não sei, não! Amanhã? Mesmo?
– Indagou com cisma.
Dalva:
--- Então, amanhã. A senhora se
prepare. Leve a roupa que tiver. Faça as gotas com a erva da Janaúba. E estamos
prontos. Eu sou também dos estudos na Universidade. Eu garanto. E não tem
conversa! Vamos logo que a senhora sara dessa enfermidade! Estamos acertadas! E
se possível, José também vai com a gente. Volto amanhã logo cedo! Amanhã,
ouviu? – Alertou com firmeza.
Nesse ponto, Dalva Lopes fez meia
volta em direção a Capital em buscar velocidade tomando ciência do que seria
feito em poucas horas. Dalva, competente em Astronomia podia ter laços de
amizade a qualquer um dos doutores da Universidade, mesmo sendo de Medicina. Na
classe, era muito bem informada e bem quista por todos. Meteorologia na física
e matemática a professora se dedicava com maior facilidade a consultar nessa
matéria com o Observatório de Astronomia[aa1] .
Apesar de uma pessoa simples, incansavelmente ela consultava a atividade nessa
matéria a observar o céu, durante a noite, quando a lua era Nova, em estado
Crescente e a Cheia, como toda observação de planetas, igual a Júpiter, Saturno
e Urano. Tais cientistas não sofrem a melhor atenção das pessoas. Porém o seu
oficio é, do momento, procurado por empresas de ciências climáticas. Por isso a
cientista tinha a vantagem e vontade que querer salvar a paciente Noêmia
daquele abcesso apenas por querer salvar a enferma.
No dia seguinte, logo cedo, a
doutora Dalva Lopes já estava encostando o seu veículo em frente ao casebre de
Noêmia para assim poder leva-la juntamente com o seu filho direto para a
Universidade da capital.
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