- MÉDICO -
- 21 -
EXAMES -
O médico
Marcelo Orta observou atentamente a senhora doutora Dalva Lopes Baldo para
poder falar aquilo que supunha ter a paciente, dona Noêmia, levada naquele dia
para uma suíte de bom grado e internada naquele quarto totalmente aquecido com
a nenhum outro na sala onde se introduzia pacientes de outras comunidades da
Capital ou mesmo do interior do Estado. Para doutor Orta, isso pouco importava,
uma vez não ter valor o dinheiro aplicado. O que lhe interessava eram os exames
a ter de submeter a paciente.
Orta:
--- De começo
não falo sobre as condições de saúde da paciente. Eu quero sondar todo o caso
para poder averiguar as suas condições. Tem exames a serem feitos fora do
Estado. Para dizer a verdade, seria possível até ir para os Estados Unidos,
Alemanha ou França. Entende? – Declarou sombriamente.
Dalva:
--- Bem. Eu
posso falar? – Perguntou.
O especialista
abriu as mãos para um lado e para outro como querendo ouvir.
Orta:
--- Pois não. –
Falou o especialista colocando as mãos em forma de oração em seus lábios.
Dalva:
--- Ela é uma
mulher simples. Bem simples mesmo. Moradora em uma praia distante. No local não
tem nem farmácia. Uma bodega e nada mais. Quando alguém precisa de um
medicamento, vai ao dono da bodega e pede para ele ir, quando for a cidade,
aqui mesmo, comprar as pílulas ou coisa assim. Tem gente, e muita, que só toma
chá do mato. Ela é uma. Somente chá. Eu vi a situação miserável da mulher. Então senti dó. Eu a trouxe para Natal.
Depositei ao senhor. Mas, mandar para os Estados Unidos ou França, eu creio ser
impossível dado o estado miserável da doente. – Dialogou com devida calma.
Orta:
--- Está bem.
Eu vou ver o que faço. Pode durar dias ou anos. Não asseguro. Vamos tratar como
for possível. Está bem? – Advertiu o especialista.
Dalva:
--- Eu creio
que sim. Mas se for preciso mandar para outro país, veremos! – Declarou a
mulher.
Orta
--- Ótimo!
Ótimo. O tempo é quem manda. – E sorriu com certa amabilidade.
Chuva fina de
inverno começou a gotejar. Dalva Lopes buscou o garoto, a sua cunhada e o seu
filho para ir embora para a sua habitação. José Patrício estava calado e assim
ficou. Walquíria nada quis saber. O filho Ciro foi o último a falar.
Ciro:
--- Chuva! – E
apontou para o horizonte com o olhar de criança.
Sorvetinho:
--- Chuva! Que
bom. Hoje, vamos dormir logo cedo. – Sorriu a sua madrinha se arrepiando toda.
O garoto José
Patrício vinha no banco de trás. Na frente estavam a mulher, Dalva Lopes, e a
sua cunhada, Walquíria. No assento ao lado, o menino Ciro, todo amarrado como
se exigia por precaução contra eventuais acidentes. Já estavam as mais de seis
horas, e o carro seguia firme e Dalva com cuidado por conta dos demais
veículos. A fim da viagem a mulher encostou o carro na garagem e o homem que
fazia limpeza estava atento para abrir e fechar o portão. A mulher desceu do
carro e agradeceu com displicência. Ela estava temerosa com a notícia de Noêmia
dada pelo médico. Por isso, nada falou. O telefone tocou. Walquíria atendeu.
Sorvetinho:
--- Sim! Quem
fala? – Indagou
Amanda:
--- Onde vocês
se meteram? Faz tempo que ligo! – Declarou.
Sorvetinho:
--- Par que não
liga no celular? – Perguntou a moça.
Amanda:
--- Esse
celular de Dalva não atente coisa alguma. Diga. Onde está Dalva? Chame-a! Ora!
– Falou aborrecida.
E com alguns
segundos Dalva Lopes atendeu. E disse que o seu celular estava travado e posto
em sua bolsa.
Dalva:
--- Fala,
mulher. Novidades? – Indagou cautelosa.
Amanda
--- Nada. O
avião não foi encontrado. Está um vexame no Palácio. É choro para todo o canto.
O vice assumiu o cargo definitivamente. Os jornais estão saindo pela segunda
vez. A Internet é só o que fala. Um horror. Mas, me diga: e a velha? –
Perguntou.
Dalva:
--- Que velha?
Não sei de velha alguma. - disse
impaciente.
Amanda:
--- Eu sei.
Pergunto sobre a mulher da perna! Ora! – Falou abusada.
Dalva:
--- Ah! Noêmia?
Está aos cuidados do doutor Orta. Agora, você falou e eu não tive a lembrança.
Diga-me: você sendo enfermeira tem possibilidades de ir com a paciente a outro
lugar? – Indagou.
Amanda
--- Por que a
pergunta? – Ficou surpresa.
Dalva:
--- Por nada.
Eu vou aí depois da ceia. Nós falaremos. Agora vou de ajeitar. Até. – E desligou.
Dalva saiu,
correndo, para a toalete. O telefone voltou a chamar. E Dalva mandou atender.
Ela estava se vasando de urina. E não podia atender de imediato. Walquíria fez
as suas vontades. Dito isso, desligou o telefone. E gritou.
Sorvetinho
--- Pronto. Eu
falei. Quer mais? Está chovendo grosso! É um dilúvio! As janelas estão batendo como nunca. – E foi
fechar as janelas dos lados.
Dalva Lopes
conversava com Walquíria ser possível contratar uma cozinheira para cuidar melhor
daquela casa pois, com a situação vexatória a mulher notava ser muito trabalho
para a sua cunhada. A mesa foi servida. E tinha mais gente, agora. Seria bom
uma cozinheira. Walquíria respondeu sem exigência.
Sorvetinho
--- Por mim,
não tem importância. Agora, o velho, às vezes o menino do velho. E as suas
atuais ocupações. Enfim: tem a
Universidade. E o Banco? – Quis saber.
Dalva:
--- Do Brasil?
Eu desmanchei o contrato. Fico apenas com a Universidade e a repartição do
Governo. – Lembrou.
Sorvetinho
--- E esse novo
Governador? – Indagou a saber.
Dalva:
--- Para mim,
nem fede nem cheira. Eu sou o que sei. Não sou nenhum pau mandado. Eu vivo bem
às minhas custas. A Universidade até que me sustenta. Tem ainda a parte de
Baldo. É uma miséria. Mas me sustenta. Quando eu quero passo o fone para o meu
pai. – Alertou puxando a mão para a orelha enquanto saboreada a comida.
Sorvetinho:
--- Isso é que
pode. Eu só me mantenho com as minhas cocas! – E sorriu a gargalhar.
Dalva:
--- Tem jura.
Tu tens mais do que precisa. – Alertou.
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